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"Vozes Femininas" leva ao Barreiro show que une arte e acolhimento

Seis artistas mineiras se unem em espetáculo que celebra a força feminina e encerra um ciclo de ações em defesa dos direitos das mulheres


postado em 28/10/2025 09:12 / atualizado em 28/10/2025 09:57

Apresentação acontece nesta quinta-feira (30) no Viaduto das Artes(foto: Bê de Sá/Divulgação)
Apresentação acontece nesta quinta-feira (30) no Viaduto das Artes (foto: Bê de Sá/Divulgação)
O Viaduto das Artes, no Barreiro, recebe nesta quinta-feira (31), a partir das 18h30, o espetáculo "Vozes Femininas – do Silêncio ao Grito", que reúne as artistas Coral, Dea Trancoso, Irene Bertachini, Isaddora, Iza Sabino e Julia Tizumba em um grande show inédito. A apresentação marca o encerramento da primeira edição do projeto homônimo, que percorreu sete cidades mineiras unindo arte, escuta e acolhimento a mulheres cis e trans vítimas de diferentes formas de violência. A entrada é gratuita, com ingressos disponíveis pelo Sympla ou no local.

Entre junho e setembro, o "Vozes Femininas" passou por Contagem, Juiz de Fora, Santa Luzia, Itabira, Ouro Preto, Betim e Sabará, promovendo rodas de conversa, vivências sensoriais e apresentações musicais conduzidas pelas seis artistas. A proposta foi criar experiências sensíveis e transformadoras, nas quais a arte se tornou instrumento de cura e denúncia.

Dea Trancoso, idealizadora e uma das participantes, explica que o show de encerramento simboliza a essência do projeto. "Não é uma apresentação individual de cada artista. Estaremos todas juntas, o tempo inteiro, como corpos e vozes femininas que atravessam a jornada do silêncio ao grito", afirma. 

O repertório inclui músicas apresentadas durante a circulação e composições inéditas - como "Mira", de Coral), "Negra Rima", de Lisa de Sena e Maíra Baldaia, e 'Somos Uma e Rura", de Lona Preta -  entrelaçadas por uma dramaturgia coletiva. As artistas serão acompanhadas por uma banda formada inteiramente por mulheres, composta por Débora Costa (bateria), Raíssa Uchôa (baixo) e Glaw Nader (teclado), e contarão com a participação especial de Efe Godoy como mestre de cerimônias.

Realizado pelo Viaduto das Artes, o "Vozes Femininas – do Silêncio ao Grito" é uma iniciativa viabilizada por emenda do Ministério da Cultura, com apoio da deputada federal Duda Salabert, referência na defesa dos direitos humanos e da população LGBTQIAPN+. Segundo Dea, "a ideia nasceu de um desejo de oferecer apoio, por meio da arte, a mulheres em situação de violência". Ao mesmo tempo, a proposta buscou gerar oportunidades de trabalho para artistas mineiras, em um cenário ainda fragilizado pela pandemia, além da descentralização da arte e da cultura como exercício da cidadania.

A coordenadora do projeto, Josiane Amâncio, ressalta que a escolha do Viaduto das Artes como palco do encerramento reforça a proposta de democratização da cultura. "A ocupação dos espaços localizados na Região Metropolitana de Belo Horizonte rompe com a ideia de que a cultura está restrita aos palcos convencionais. E o Viaduto das Artes é um equipamento cultural multidisciplinar, instalado sob o viaduto Engenheiro Andrade Pinto, no Barreiro, que há 20 anos tem como missão tornar a arte acessível a uma das regiões mais produtivas de Belo Horizonte. A escolha do espaço para receber o espetáculo vai ao encontro com um dos objetivos do ‘Vozes Femininas’, que é promover a cidadania por meio da descentralização da cultura".

Cada encontro realizado ao longo do projeto foi pensado como uma vivência simbólica e terapêutica. Logo na abertura, uma espécie de "viagem xamânica" convidou as participantes a reconectarem-se consigo mesmas e com o entorno. A partir dessas experiências, as artistas construíram uma dramaturgia musical composta por canções autorais e de outros compositores, inspirada nos relatos das mulheres que participaram das atividades. "Trata-se de uma ação política e cultural que busca prevenir a violência contra a mulher e acolher, por meio da arte, aquelas que foram silenciadas. Cada encontro é um espaço de cura e empoderamento, onde a arte é o lenitivo e o impulso, o descanso e a bandeira de luta. A arte é o silêncio e é também o grito. A arte é a potência", afirma Dea Trancoso.

Ela explica que o projeto se apoia em tradições populares, ritmos ancestrais, saberes dos povos originários e na força simbólica dos tambores e das lutas femininas. "O nome do projeto é muito eloquente: vamos, literalmente, do silêncio ao grito", diz. Segundo Dea, a curadoria das artistas também carrega um profundo simbolismo. "Todas as seis cantoras e compositoras representam um território importante: a mulher negra, a mulher cabocla, a mulher trans, a mulher mãe, a mulher que já foi abusada, a mulher artista que não desiste nunca".

Para Dolly, coordenadora de Políticas Sociais do projeto e representante do mandato da deputada Duda Salabert, o "Vozes Femininas" se tornou um espaço de transformação coletiva. "As mulheres se reconheceram nas histórias umas das outras, e nós também nos vimos refletidas nelas. Foi um espelho duplo: o público e as intérpretes partilhando o mesmo território simbólico. Saímos de cada cidade transformadas, com a certeza de que o silêncio imposto à mulher não é natural, é político, e pode ser rompido pela arte".

As artistas relatam que a passagem do projeto pelas cidades mineiras trouxe experiências intensas e transformadoras. "A mulheridade é um território infinito, a partir desse seu lugar, desse contexto, temos o feminismo branco, o feminismo negro, o trans feminismo... O projeto fala do encontro dessas vozes, da violência que passamos apenas por sermos mulheres em todas as esferas. É nessa esquina que a gente se encontra. É nesse lugar que durante o projeto passamos a perceber a nossa potência apenas por sermos mulheres", afirma Coral.

Para Isaddora, o "Vozes" também teve um impacto pessoal profundo. "O  Vozes  também teve um cunho muito pessoal, foi um lugar onde a gente conseguiu expandir a nossa voz.  E esse movimento de se enxergar na dor do outro e do outro se enxergar na sua dor é transformador". Irene Bertachini reforça o caráter libertador da iniciativa, pontuando que o projeto é um encontro potente e diverso, onde a música das artistas sintetiza essa busca por liberdade e autonomia, o sonho e o desejo de ocupar o lugar que desejarem. "Nesses encontros e intervenções, a escuta e a conexão com a vivência de mulheres que relataram sobre a violência experienciada nos uniu e nos fortaleceu, trazendo para esse espetáculo mais força para traduzirmos e transpormos a dor.” Na mesma direção, Iza Sabino define a experiência como uma soma de forças: “O Vozes Femininas é a potência de muitas mulheres juntas, unindo e discutindo sobre força e a coragem, construindo ideias e regenerando sorrisos de cada mulher vítima de agressão doméstica".

Embora o show no Viaduto das Artes encerre a temporada de apresentações, o projeto continua a se expandir. Está em produção um documentário dirigido por Carina Santos, que registrará as ações realizadas e será disponibilizado gratuitamente para centros de atendimento e referência no enfrentamento à violência contra a mulher. Também será lançado um catálogo impresso com textos, imagens e registros do projeto, destinado a equipamentos públicos da rede de apoio.

"Desejamos que o ’Vozes Femininas’ chegue a ainda mais pessoas. Talvez com uma imersão criativa junto às mulheres atendidas pelos centros de acolhimento, compondo novas canções, produzindo arte de forma mais transdisciplinar. Quem sabe, também, possamos pensar num registro em áudio desse trabalho? Vamos vibrar por isso!", finaliza Dea Trancoso.
 
Show de encerramento do projeto "Vozes Femininas – do Silêncio ao Grito". Dia 31/10, sexta, a partir das 18h30, Viaduto das Artes – Av. Olinto Meireles, 45, Barreiro, Belo Horizonte. Entrada gratuita, com ingressos disponíveis em www.sympla.com.br
 

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