Publicidade

Estado de Minas CULTURA

Tradição negra do Amapá vira patrimônio brasileiro

Iphan concede título ao marabaixo, uma manifestação cultural popular


postado em 09/11/2018 10:56 / atualizado em 09/11/2018 11:01

(foto: Marcelo Loureiro/Portal do Governo do Amapá/Divulgação)
(foto: Marcelo Loureiro/Portal do Governo do Amapá/Divulgação)

O marabaixo, manifestação cultural que expressa a resistência negra, recebeu na última quinta, dia 8 de novembro, o título de Patrimônio Cultural do Brasil, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Originada no Amapá, a tradição inclui ritmos musicais e danças e remete à vinda dos navios negreiros da África para o Brasil, homenageando os escravos que morreram durante a viagem. Registros históricos mostram que, quando os corpos eram lançados ao mar – daí o nome da manifestação cultural –, seus companheiros de clausura entoavam hinos de lamento, músicas que hoje são chamadas de ladrões.

Os 22 membros do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Iphan aprovaram a concessão do título por unanimidade. O conselho é composto por especialistas de diversas áreas, como Turismo, Arquitetura e Sociologia e é responsável por apreciar os processos de tombamento e registro.

O anúncio do título foi recebido com satisfação por Valdinete Costa, coordenadora de Ações Afirmativas do Ciclo do Marabaixo na secretaria extraordinária para os Povos Afrodescendentes do governo do Amapá. "O reconhecimento é, para nós, uma grande satisfação, um sonho realizado. Um momento ímpar, de muita felicidade. A luta é de resistência. Há muito tempo, a gente vem buscando essa valorização e, enfim, chegou, pelo Iphan", diz Valdinete em entrevista à Agência Brasil.
Festividades

Difundida entre membros de comunidades negras, os festejos seguem princípios católicos e duram aproximadamente 60 dias, tendo início no Sábado de Aleluia. Única festividade coletiva da capital do Amapá, o Ciclo do Marabaixo inclui orações típicas, ladainhas, novenas e brincadeiras para crianças que acontecem no perímetro urbano e na zona rural de Macapá.

As cerimônias são marcadas por um processo ritualístico que começa com o ritual de aceitação, que, conforme conta Valdinete Costa, diz respeito ao momento em que os participantes acompanham a recepção do festeiro daquele ano – marabaixeiro que fica responsável pela organização daquela edição da festa. O promesseiro, como é também chamado, elege seu santo padroeiro correspondente. "Esse é um momento de oração, de agradecimento", conta a coordenadora.

Além do Marabaixo de Aceitação, há também o Marabaixo do Mastro e o Marabaixo da Murta. Nestas duas fases, os grupos cortam um toco de árvore que, depois de ser enfeitado com murtas (ramos), está pronto para receber a bandeira do santo a que são devotos. No caso do Ciclo do Marabaixo, os marabaixeiros homenageiam a Santíssima Trindade e o Espírito Santo.

O grupo ainda confraterniza à mesa, onde se servem caldos e o Almoço dos Inocentes, que traz o simbolismo de 13 crianças, representando Jesus e seus 12 apóstolos. "Tudo é voltado para a fé, para o catolicismo", pontua Valdinete.

(com Agência Brasil)

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade