Um estudo conduzido pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), liderado pela pesquisadora Mariana Bosso, comprova que o excesso de carga dos caminhões e carretas prejudica a qualidade e a durabilidade do asfalto de rodovias e estradas. O trabalho avaliou os impactos na rodovia Fernão Dias (BR-381), que liga os estados de São Paulo e Minas Gerais.
De acordo com matéria divulgada pelo Jornal da USP, o monitoramento contínuo do tráfego foi realizado durante 17 meses e resultou num amplo banco de dados sobre as cargas circulantes na rodovia, sendo monitorados cerca de 1,4 milhão de veículos. Destes, quase 24% levavam volume acima dos limites permitidos pela lei – chegando a ultrapassar, para alguns grupos de veículos, 60% do nível máximo de carga.
No trecho que foi foco do experimento, a carga excessiva acarretou no aumento das deformações observadas na fibra inferior da manta asfáltica. Excessos de carga de 10% (tolerância legal vigente) e 20% resultaram em valores de deformações até 17% maiores quando comparados ao cenário de carga no limite ideal, segundo o estudo.
Outra medida relacionada à diminuição da vida útil é a fadiga, que é a deterioração do material quando solicitado repetidamente por um carregamento, resultando no aparecimento de fissuras e trincas na camada de revestimento asfáltico dos pavimentos. Conforme o Jornal da USP, a pesquisa observou defeitos em proporções que comprometiam as estruturas bem antes do tempo previsto em projeto.
Foi possível concluir que o tráfego com excesso de carga acelera a degradação dos pavimentos em até 23%. No cenário ideal onde o limite legal fosse cumprido, a estrutura aguentaria por quase seis meses a mais.
Mariana Bosso usou dados de uma balança de pesagem em movimento instalada na rodovia Fernão Dias, que é considerada uma inovação tecnológica no país, pois é capaz de fazer a pesagem diretamente na faixa de rolamento com os veículos em alta velocidade. No Brasil, normalmente a fiscalização ocorre nos postos de pesagem veicular ativos, com horários de funcionamento diferentes, que acaba induzindo os motoristas irregulares a viajarem com sobrecarga nos horários em que esses postos de pesagem não estão funcionando.
Conforme a pesquisadora, citada pelo Jornal da USP, ao projetar a estrutura do pavimento, o engenheiro leva em conta uma estimativa da carga que a construção irá suportar, e para isso se pressupõe que os limites de carga sejam seguidos. "Fizemos uma estrutura de trecho experimental na pista, com materiais que já conhecemos, e então acompanhamos o quanto ele degradava com tráfego real", afirma Mariana. Os dados de tráfego foram correlacionados com os defeitos observados, concluindo-se que o excesso de carga nas rodovias penaliza o transporte rodoviário ao acelerar a degradação da estrutura do pavimento.
(com Jornal da USP)