
Ernani Façanha di Latella nasceu no Ceará em 1926, filho de um imigrante italiano da Calábria. Teve uma infância difícil por causa de problemas que o seu pai tinha nos negócios. Seu Ernani começou a trabalhar como contínuo em uma firma que vendia títulos de capitalização no Ceará, levando cartas, lavando banheiros e ajudando nas tarefas administrativas. Porém, as poucas oportunidades de progressão de carreira no Ceará fizeram com que ele procurasse um novo caminho. E esse novo caminho o trouxe a Belo Horizonte.
Seu Ernani chegou à capital mineira em 1949 para trabalhar como funcionário da Cia de Seguros Aliança da Bahia. Ele se mudou para Minas Gerais pelo incentivo da família e para ficar mais perto dos irmãos que moravam aqui. O seu próximo emprego foi como gerente do almoxarifado da empresa Elevadores Atlas. Seu Ernani chegou, inclusive, a participar da construção do elevador de duas velocidades do Edifício Acaiaca.
O empenho foi reconhecido pelos diretores e ele acabou sendo promovido ao cargo de chefe do escritório. Por causa da experiência e de um diploma em contabilidade, os talentos do cearense foram logo requisitados pela empresa Aços Villares, onde trabalhou por 18 anos até se aposentar. Hoje, Seu Ernani têm 92 anos e dedica seu tempo às suas mudinhas e aos doces de goiaba que faz. “Faço isso mais em homenagem aos mineiros, que nos receberam muito bem”, contou, com os olhos marejados.
Como começou a sua história com as mudas?
Foi quando comprei um sítio em Igarapé e comecei a cultivar plantas. Eu tinha 86 variedades de frutas. Mas chegou uma época em que o caseiro começou a vender as mudas na minha ausência e a comer os peixes que estavam nos tanques. Ele me falou que os peixes tinham fugido. Um dia o meu irmão foi no sítio para matar as saudades e me contou que não aguentou entrar na casa do caseiro por causa do cheiro de peixe frito. Os peixes estavam fugindo para a barriga dele né (risos). Aí eu tive de vender o sítio, mas continuei com essa mania de plantar as mudas.
E como funciona esse processo?
Eu compro as frutas no sacolão, pego as sementes, planto nos vasos, coloco areia, adubo e água. O que eu posso plantar eu planto. No quintal mesmo tenho graviola, caqui, limão capeta, laranja, jabuticaba e pêssego. Aí no que dá a fruta eu já pego a semente e planto nos vasos para distribuir aos outros. Já não tenho mais espaço aqui em casa.
O senhor faz algum doce com as frutas?
Eu fiz doce de goiaba pela primeira vez quando minha mulher ainda estava viva… A goiabeira começou a dar fruta eu falei “quer saber de uma coisa, ninguém vai comer essas goiabadas eu vou fazer um doce”. Eu fiz um doce de goiaba com chocolate, a mulher adorou e acabei ficando com essa mania. Só que depois que ela foi embora a goiabeira continuou produzindo cada vez mais. Aí hoje eu faço goiabada cascão, com chocolate e com rapadura batida, coisa que eu não deixo de ter em casa porque fui criado fundindo as rapaduras na forma. Eu também faço vinho de jabuticaba e capetinha, uma pinga feita com limão capeta (risos).