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Estado de Minas CIDADE

Quem é o morador do Anchieta que doa mudas de flores

Cearense de 92 anos fez sucesso no Instagram da revista Encontro com seu jeitão simples


postado em 02/04/2019 16:28 / atualizado em 03/04/2019 10:12

(foto: Gabriel Marques)
(foto: Gabriel Marques)
Em uma casa escondida entre os prédios da rua Grajaú existe uma pequena placa onde se lê "mudas jardim e pomar. É sua pode levar". No último domingo, a jornalista Carolina Daher se deparou com a placa e publicou uma foto com um pequeno texto no instagram da revista Encontro, apresentando o trabalho voluntário do “Seu” Ernani com as mudas de jardim. O sucesso foi instantâneo.  "Queria levar ele para casa junto com a flor. Muito amor por atitudes assim" e "Que forma linda de fazer um carinho a quem nem conhece!!!" foram alguns dos comentários em nossa página. Fomos, então, entrevistá-lo para descobrir qual a história desse homem que distribui plantas sem pedir nada em troca.

Ernani Façanha di Latella nasceu no Ceará em 1926, filho de um imigrante italiano da Calábria. Teve uma infância difícil por causa de problemas que o seu pai tinha nos negócios. Seu Ernani começou a trabalhar como contínuo em uma firma que vendia títulos de capitalização no Ceará, levando cartas, lavando banheiros e ajudando nas tarefas administrativas. Porém, as poucas oportunidades de progressão de carreira no Ceará fizeram com que ele procurasse um novo caminho. E esse novo caminho o trouxe a Belo Horizonte. 

Seu Ernani chegou à capital mineira em 1949 para trabalhar como funcionário da Cia de Seguros Aliança da Bahia. Ele se mudou para Minas Gerais pelo incentivo da família e para ficar mais perto dos irmãos que moravam aqui. O seu próximo emprego foi como gerente do almoxarifado da empresa Elevadores Atlas. Seu Ernani chegou, inclusive, a participar da construção do elevador de duas velocidades do Edifício Acaiaca. 

O empenho foi reconhecido pelos diretores e ele acabou sendo promovido ao cargo de chefe do escritório. Por causa da experiência e de um diploma em contabilidade, os talentos do cearense foram logo requisitados pela empresa Aços Villares, onde trabalhou por 18 anos até se aposentar. Hoje, Seu Ernani têm 92 anos e dedica seu tempo às suas mudinhas e aos doces de goiaba que faz. “Faço isso mais em homenagem aos mineiros, que nos receberam muito bem”, contou, com os olhos marejados.

Como começou a sua história com as mudas?

Foi quando comprei um sítio em Igarapé e comecei a cultivar plantas. Eu tinha 86 variedades de frutas. Mas chegou uma época em que o caseiro começou a vender as mudas na minha ausência e a comer os peixes que estavam nos tanques. Ele me falou que os peixes tinham fugido. Um dia o meu irmão foi no sítio para matar as saudades e me contou que não aguentou entrar na casa do caseiro por causa do cheiro de peixe frito. Os peixes estavam fugindo para a barriga dele né (risos). Aí eu tive de vender o sítio, mas continuei com essa mania de plantar as mudas.

E como funciona esse processo?

Eu compro as frutas no sacolão, pego as sementes, planto nos vasos, coloco areia, adubo e água. O que eu posso plantar eu planto. No quintal mesmo tenho graviola, caqui, limão capeta, laranja, jabuticaba e pêssego. Aí no que dá a fruta eu já pego a semente e planto nos vasos para distribuir aos outros. Já não tenho mais espaço aqui em casa.

O senhor faz algum doce com as frutas?

Eu fiz doce de goiaba pela primeira vez quando minha mulher ainda estava viva… A goiabeira começou a dar fruta eu falei “quer saber de uma coisa, ninguém vai comer essas goiabadas eu vou fazer um doce”. Eu fiz um doce de goiaba com chocolate, a mulher adorou e acabei ficando com essa mania. Só que depois que ela foi embora a goiabeira continuou produzindo cada vez mais. Aí hoje eu faço goiabada cascão, com chocolate e com rapadura batida, coisa que eu não deixo de ter em casa porque fui criado fundindo as rapaduras na forma. Eu também faço vinho de jabuticaba e capetinha, uma pinga feita com limão capeta (risos).

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