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Estado de Minas BEM-ESTAR

Hormônio do crescimento atrapalha as dietas restritivas

Cientistas descobrem que o GH faz o corpo armazenar energia


postado em 06/03/2019 08:40 / atualizado em 06/03/2019 08:59

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)

Para muita gente, perder peso e manter o corpo saudável pode ser um verdadeiro desafio. Segundo um novo estudo, que contou com a participação de cientistas brasileiros, o hormônio do crescimento, chamado de GH (do inglês growth hormone), que é responsável pelo desenvolvimento ósseo e aumento da estatura, também contribui diretamente para evitar a perda de peso. Quando há uma restrição alimentar, o corpo entra numa espécie de "modo econômico" e começa a guardar energia, além de aumentar a fome.

"A gente se deparou com uma função completamente nova desse hormônio. Durante uma condição em que você não come o suficiente, está fazendo dieta, esse hormônio é secretado. Isso a gente já sabia, mas descobrimos que ele acaba agindo sobre neurônios que estimulam a fome e, provavelmente, não só estimula a fome, como também é capaz de regular o nosso metabolismo energético", comenta o pesquisador José Donato Junior, professor da Universidade de São Paulo (USP), um dos autores do estudo, em entrevista à Agência Fapesp.
Já se sabia que o GH estava presente em grande quantidade nos músculos, no fígado, em tecidos e órgãos diretamente envolvidos no metabolismo de crescimento. Com o estudo recente, cientistas descobriram que o cérebro também está repleto de receptores desse hormônio. Os resultados foram publicados na revista científica Nature Communications.

Até então, acreditava-se que a leptina fosse o principal hormônio a entrar em ação para conservar energia em casos de restrição alimentar. Quando há perda de peso, caem os níveis de leptina em circulação na corrente sanguínea. Este hormônio é produzido pelas células do corpo que armazenam gordura. "Quando começa a perder gordura, os níveis de leptina caem muito e o cérebro sente essa queda e ativa os mecanismos de fome e economia de energia", afirma Donato.

De acordo com o cientista, a retenção energética pode ser vista como algo positivo do ponto de vista evolutivo, pois, se o corpo entende que há restrição de comida, ele é capaz de gastar menos energia e dá mais sobrevida àquele organismo. O problema é que esse mecanismo afeta as dietas alimentares. "Toda vez que o indivíduo engorda e tenta emagrecer, a ação desses hormônios [HG e leptina] atrapalha o emagrecimento porque liga esse 'modo econômico'. Ele começa animado na dieta, mas perder peso vai ficando cada vez mais difícil", afirma o professor da USP.

A nova descoberta de como o organismo atua para evitar a perda de peso por meio do HG e da leptina aponta para uma possível administração combinada dos dois hormônios. Para confirmar essa ação, no entanto, são necessários testes clínicos. "Infelizmente, a gente ainda não dispõe desse tipo de remédio. Nós testamos uma droga no nosso estudo, que conseguiu realmente aumentar o gasto de energia durante a privação alimentar, mas não avaliamos efeitos colaterais. A gente já prevê que ela poderia ter efeitos colaterais porque bloquea o hormônio do crescimento no corpo todo", diz José Donato à Fapesp.

Para o cientista, os estudos são o pontapé inicial para algum tipo de tratamento que contorne esse "modo econômico" do corpo. "Do ponto de vista evolutivo, toda vez que a gente tenta perder peso é 'ligada uma sirene' de alerta como se fosse um perigo. Se conseguirmos impedir que essa ativação, certamente faríamos dieta com muito mais facilidade, sem sentir tanta fome e gastando mais energia. Óbvio, para perder peso, ou você gasta energia ou come menos. Se gasta mais energia, claro que isso facilita muito o processo", comenta o pesquisador.

(com Agência Fapesp e Agência Brasil)

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