Estado de Minas COLAPSO

Sociedade Mineira de Engenheiros aponta crise na formação de profissionais

Especialistas alertam que a falta de engenheiros pode comprometer obras, inovação e a competitividade do Brasil na próxima década


postado em 04/09/2025 09:52 / atualizado em 04/09/2025 15:48

José Cláudio Nogueira Vieira, vice-presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros(foto: Haendel Melo/Divulgação)
José Cláudio Nogueira Vieira, vice-presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros (foto: Haendel Melo/Divulgação)
A engenharia brasileira enfrenta uma crise silenciosa que coloca em risco a execução de obras de infraestrutura, a transição energética e a capacidade de inovação tecnológica do país. Dados do Censo da Educação Superior, do Inep/MEC, revelam que os cursos da área perderam mais de um terço dos ingressantes na última década. A evasão, por sua vez, alcança patamares considerados críticos, sobretudo nas graduações oferecidas a distância.

O contraste com o passado recente é evidente. Em 2014, os cursos de Engenharia registravam expansão no número de alunos. Já em 2023, segundo levantamento do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo (Seesp), com base no Censo da Educação Superior, pouco mais de 95 mil estudantes concluíram a graduação. A demanda projetada para os próximos anos, no entanto, é bem maior: o Mapa do Trabalho Industrial 2025–2027, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com o Senai, estima que o Brasil precisará de mais de 130 mil novos engenheiros em apenas três anos para atender setores como energia, logística e digitalização da indústria.

Para José Cláudio Nogueira Vieira, engenheiro civil e vice-presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME), o quadro exige medidas urgentes. “Estamos diante de um colapso iminente na formação de engenheiros no Brasil. Sem uma política robusta de valorização da carreira e sem investimentos consistentes na qualidade dos cursos, corremos o risco de não ter quadros técnicos suficientes para conduzir os projetos estratégicos do país”, alerta.

Segundo ele, as causas da evasão são múltiplas, indo desde lacunas em matemática e física no ensino médio até a falta de conexão entre teoria e prática nos primeiros anos de curso. “O estudante muitas vezes se depara com um currículo distante da realidade da profissão e desiste antes de chegar ao momento de aplicar seus conhecimentos. Precisamos resgatar o entusiasmo pela engenharia, mostrando que se trata de uma carreira essencial para o desenvolvimento nacional”, afirma.

A preocupação ganha força diante das perspectivas de investimento. O Novo PAC prevê R$ 1,8 trilhão em obras de infraestrutura, enquanto a agenda da transição energética e a expansão da indústria 4.0 elevam a necessidade de profissionais especializados. “Esses investimentos só vão se materializar se houver engenheiros em número suficiente e com a qualidade necessária. Caso contrário, teremos recursos, mas não capacidade técnica para transformá-los em obras, inovação e competitividade”, avalia Vieira.

Nesse contexto, a Sociedade Mineira de Engenheiros tem defendido a revisão das diretrizes curriculares, a valorização do ensino presencial e o fortalecimento de políticas de permanência estudantil. “A engenharia não pode ser tratada apenas como mais um curso superior. Ela é um pilar do desenvolvimento. Precisamos de políticas públicas claras para garantir que a formação acompanhe os desafios do país”, reforça o vice-presidente da SME.

A preocupação dos especialistas é que, se a queda nas matrículas e a alta evasão persistirem, o Brasil poderá enfrentar uma escassez estrutural de engenheiros já na próxima década. As consequências, alertam, vão da dificuldade em executar obras de infraestrutura ao atraso na modernização energética e à perda de competitividade industrial.

“Valorizar a engenharia é valorizar o futuro do Brasil. Não é apenas uma questão acadêmica, mas de soberania e de capacidade de construir um país moderno e sustentável”, conclui José Cláudio.

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação