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Estado de Minas ARTE

Entrevistamos Renata Bittencourt, nova diretora do Inhotim

Entre outros assuntos, ela falou sobre como o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho-MG, afetou o museu, que é um dos mais importantes do mundo


postado em 19/04/2019 02:10 / atualizado em 19/04/2019 03:03

Renata Bittencourt, nova diretora do Inhotim:
Renata Bittencourt, nova diretora do Inhotim: "Agora estou em um contexto em que uma instituição cultural pode contribuir com a dinamização da vida de uma cidade. Acredito, de fato, que a cultura pode muito" (foto: William Gomes/Inhotim/Divulgação)
Um dos museus mais importantes do mundo, o Instituto Inhotim, localizado em Brumadinho-MG, tem uma nova diretora executiva. Renata Bittencourt assumiu o cargo este mês, em substituição a Antônio Grassi, que foi promovido a diretor-presidente.

Em entrevista exclusiva à Encontro, a nova gestora falou sobre como o rompimento da barragem da Vale, em janeiro deste ano, afetou o Inhotim, e o papel do museu diante da tragédia. Ela também relatou desafios e planos para o instituto continuar trilhando o caminho do sucesso, e como sua experiência pode ajudar nisso.

  • Quem é: Renata Bittencourt

  • Origem: São Paulo-SP

  • Formação: graduada em Comunicação Social pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM); mestrado e doutorado em História da Arte pela Universidade de Campinas (Unicamp); especializações em Estudos de Museus de Arte e Gestão de Processos de Comunicação e Cultura pela Universidade de São Paulo (USP)

  • Carreira: foi diretora de Processos Museais do Instituto Brasileiro de Museus; secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura durante o governo Dilma Rousseff; gestora da Unidade de Formação Cultural da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo durante o governo Geraldo Alckmin; gerente do Núcleo de Educação do Itaú Cultural

Rompimento da barragem

Diferentemente da população e da fauna e flora de Córrego do Feijão, distrito onde estava localizada a barragem da Vale que se rompeu no dia 25 de janeiro por volta das 13h, o Inhotim não foi afetado diretamente pelo mar de lama tóxica de rejeitos de mineração. 

Entretanto, foram diversos os impactos indiretos sobre o museu, que está localizado a poucos quilômetros de onde ocorreu a tragédia. "Brumadinho é a casa do Inhotim e a história da instituição sempre esteve ligada à história da região. Cerca de 80% das 600 pessoas empregadas pelo Instituto são da cidade. Muitas nasceram ali e todas estão sob o impacto da perda de parentes, vizinhos, amigos e entes queridos", ressalta Renata Bittencourt.

Por isso, a nova diretora destaca o papel do Inhotim diante disso, afirmando que o museu é "um dos agentes para a regeneração da cidade, oferecendo-se como um espaço de convivência e encontro" entre todos que se viram atingidos pela catástrofe.

Entre as ações realizadas pelo Inhotim para auxiliar na retomada da vida normal da população de Brumadinho, Renata Bittencourt cita, como uma das principais, o programa de gratuidade no ingresso para os moradores do município. Segundo ela, foi realizada uma primeira etapa de cadastramento, onde 2 mil pessoas garantiram acesso gratuito às dependências do museu.

Ela cita, ainda, que o Inhotim está buscando formas de inserir em sua programação atividades culturais promovidas por moradores da região. 

Renata Bittencourt lembra a importância do museu na atividade turística, empregatícia e econômica da cidade: "Por isso reforçamos nosso convite para que as pessoas visitem Inhotim sem receio. As estradas estão abertas e a cidade espera com carinho a chegada de visitantes", diz.

O Inhotim, em Brumadinho-MG: Mais de 20 km² de extensão, natureza que salta aos olhos e obras de arte a céu aberto(foto: William Gomes/Inhotim/Divulgação)
O Inhotim, em Brumadinho-MG: Mais de 20 km² de extensão, natureza que salta aos olhos e obras de arte a céu aberto (foto: William Gomes/Inhotim/Divulgação)
Desafios

São exatamente esses impactos gerados pela tragédia da Vale que mais preocupam a nova gestora no início de sua trajetória à frente do Inhotim. Ela explica que é necessário "cultivar os vínculos existentes entre o museu e a comunidade de Brumadinho" para que a normalidade seja retomada o mais rápido possível.

Renata Bittencourt destaca, também, que que é preciso sensibilidade e envolvimento de toda a sociedade para que economia, comércio, pousadas e restaurantes voltem à movimentação normal, contribuindo, deste modo, com a volta da vitalidade do município.

Ela se diz honrada em, a partir de agora, poder contribuir com todo esse processo e com a gestão do museu como um todo: "Inhotim é uma máquina complexa que requer cuidados para a gestão de seus espaços e acervo, e para a dinamização do relacionamento com seus públicos e com o território onde se encontra", destaca Renata Bittencourt recordando a excelente reputação nacional e internacional conquistada pelo museu desde sua inauguração, em 2006.

Planos

A nova diretora ressalta que uma de suas prioridades é "fortalecer e renovar a dimensão educativa da instituição". Ela também diz que está buscando novos recursos junto à iniciativa privada para garantir a manutenção do museu e dos projetos artísticos e socieducativos promovidos pelo Inhotim.

Com relação ao acervo, Renata Bittencourt antecipa que deve ser inaugurado, em 2020, um novo pavilhão da artista plástica japonesa Yayoi Kusama, cuja obra Narcissus Garden (uma série de bolhas com aparência metálica sobre a água) é uma das mais famosas do museu.

Outro plano citado por ela, é a apresentação, ainda sem data prevista, de uma escultura gigante, ao ar livre, do artista americano Roberto Irwin conhecido por produzir grandes instalações.

A nova gestora diz que novas exposições temporárias devem ser inauguradas ainda neste ano e que há uma preocupação também com as obras já em exposição. "Neste momento estamos envolvidos com o restauro da obra De Lama Lâmina, do artista Matthew Barney, que evidencia um compromisso do Inhotim com a pesquisa em conservação de arte contemporânea", destaca Renata Bittecourt.

Experiência

Ao falar sobre como sua experiência pode ajudar o Inhotim, a nova gestora lembra, primeiramente, que o ano de 2018 foi marcante para as artes, com uma triste coincidência. Enquanto era alcançada a marca de 200 anos de museus no Brasil, a primeira instituição museológica do país, o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, foi totalmente destruída pelo fogo.

"Fomos levados, como sociedade, a refletir sobre o papel e a importância dessas instituições e da cultura no contexto nacional. Tenho a alegria de ter construído uma carreira com passagens por instituições culturais públicas e privadas, onde o mais marcante sempre foi o aprendizado e a convivência com pessoas comprometidas com a cultura", diz Renata Bittencourt.

"Agora estou em um contexto em que uma instituição cultural pode contribuir com a dinamização da vida de uma cidade. Acredito, de fato, que a cultura pode muito", finaliza a nova diretora do Inhotim.

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