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Estado de Minas LITERATURA

Escritora mineira lança livro infantil sobre pandemia

A obra em versos de Regina Drummond, O Mundo Pela Janela, fala sobre as dificuldades do isolamento para os pequenos


postado em 30/10/2020 16:32

A escritora mineira Regina Drummond, e seu livro O Mundo Pela Janela(foto: Divulgação)
A escritora mineira Regina Drummond, e seu livro O Mundo Pela Janela (foto: Divulgação)
A escritora mineira Regina Drummond acaba de lançar mais um livro - seu 133º - para os pequenos. A obra se chama O Mundo pela Janela e dialoga com a realidade das crianças que, na pandemia, sem escola e sem convívio fora do núcleo familiar, precisam de outras formas de ver o mundo lá fora. O livro, em versos, sai pela editora Duna Dueto. Para quem ficou curioso, sim, ela é parente, mesmo que distante, do itabirano Carlos Drummond de Andrade. Conversamos com Regina sobre a obra, como é escrever para o público infantil e sua trajetória na escrita. Confira:

O convívio com alguma criança na pandemia foi o que te inspirou a escrever este livro? 

Foi justamente a minha neta, na época com 3 anos e meio, quem me deu o mote para escrever o livro O Mundo pela Janela, quando me disse: "vovó, a gente não aguenta mais ficar em casa, sem nada pra fazer!" A gente = ela e o irmão (com quase 8 anos). Conversamos a respeito e, naquele momento, me apropriando da emoção dela, começou a nascer, dentro da minha cabeça, uma história para as crianças pequenas, falando sobre a pandemia. Mas eu não queria que a obra se fechasse nisso, para que não ficasse datada, então, chamei os vírus de "monstros tão pequeninos que nem dá pra contar", que "quando pegam, fazem muito mal pra gente", sem dizer exatamente o que são e o que fazem. Por outro lado, essa ideia aberta dá mais liberdade para uma criança nela encaixar o medo que quiser, inclusive os seus próprios medos. E lutar contra eles. E vencê-los, é claro.

Você fala da "janela" como uma metáfora também para o livro, no sentido de ser uma maneira de ver o mundo lá fora. Como é trabalhar figuras de linguagem e múltiplos sentidos com o público infantil? Acha que potencial das crianças para compreensão de sentidos amplos nas obras é às vezes subestimado pelos adultos?

Sim, com certeza, concordo: o potencial da criança costuma ser subestimado. A criança é muito mais esperta do que parece. Ela percebe, intui, adivinha muito mais coisas do que o adulto imagina. Ela costuma saber muito mais do que demonstra ou aparenta, faz perguntas quando já sabe a resposta, só para ver o que o adulto vai dizer, entre outros jeitinhos que usa para descobrir o mundo. É claro que nem todas as crianças vão entender a metáfora do "livro: janela para o mundo", mas não tem importância. O que vale é dar a elas a oportunidade de ler literatura de qualidade, que não apresente situações, ideias e vivências prontas como receita de bolo, já mastigadas - ao contrário. Um bom livro deve dar espaço para o leitor interagir com ele, explorar além do que as palavras e ilustrações disseram, sugerir novas referências, permitir releituras e a descoberta de novos sentidos. Isso vale para qualquer idade. Assim, sugiro que ninguém pergunte claramente o que a criança entendeu de uma metáfora; ou, pior ainda, se entendeu. Espere que ela mesma diga. Ou pergunte a você. E, se ela não perguntar, tudo bem. Uma boa conversa sobre a obra que leram juntos não precisa ser uma dissecação... E, às vezes, surpresa! O melhor de tudo também pode acontecer: quando a criança vê, no meu livro, alguma coisa que nem eu mesma, a autora, vi.

Quais são suas primeiras recordações de querer ser escritora?

Toda a minha família, dos dois lados, é muito literária. Minhas tias do lado materno são professoras. E do lado paterno, é todo mundo leitor tipo rato de biblioteca. Eu queria ser escritora desde bem pequena. Quando ainda não sabia escrever, ditava para minha mãe as histórias e os poemas que criava. Depois, vieram as redações enormes, na escola, e todo mundo dizia que eu "levava jeito" para escrever. Sempre fui muito estimulada a ler e escrever. Minha primeira publicação foi aos 12 anos, na Biblioteca Pública de Minas Gerais, que fica na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte: um poema em um mural. Morei em BH dos 8 aos 19 anos, quando, então, me mudei para Porto Alegre. Lá, publiquei meu primeiro livro e comecei a trabalhar na divulgação dele, contando histórias, principalmente. Meu grande sucesso foi o terceiro: O Passarinho Rafa, que até hoje voa nas asas da Editora Melhoramentos. Depois, fui morar em São Paulo, onde trabalhei com tudo que se refere a um livro – além de leitora e escritora, que são as duas pontas, já fui editora e dona de livraria, o que quer dizer que trabalhava vendendo e promovendo livros e literatura. Já contei histórias em tudo quanto é lugar, inclusive em outros idiomas: francês, inglês, alemão (e até espanhol, que nem falo direito). Hoje, moro em Munique e continuo como sempre: comendo e bebendo livros. Está servida?

Qual o seu parentesco com Carlos Drummond de Andrade? Ele influenciou sua escolha pelo mundo da escrita?

Carlos Drummond de Andrade é primo do meu pai, quer dizer, não compartilhamos mais do que uma ou duas gotinhas de sangue... Mas ele teve uma grande influência na minha vida. Desde muito jovem, eu adorava o que ele escrevia. E quanto mais crescia, mais adorava... Eu o conheci pessoalmente, tenho um livro autografado por ele, que, de fato, até fez uma quadrinha linda para mim. Ele é um ídolo, um exemplo, uma paixão.

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