Minhas viagens gastronômicas, ao longo dos últimos anos, por Minas Gerais têm me proporcionado algumas surpresas muito especiais. A todo tempo experimento receitas inusitadas e descubro a utilização de produtos locais de formas diferentes. Tenho me deparado também com alguns produtos maravilhosos, ainda desconhecidos da grande maioria dos mineiros, mas de grande tradição em suas regiões. O palmito brejaúba, ou brejaêba (Astrocaryum aculeatissimum schot), é um dos maiores tesouros que encontrei nestas andanças. Ele é encontrado em grandes touceiras de espinhos, ainda em abundância nas encostas das serras de Muriaé, Leopoldina, Cataguases e demais regiões da Zona da Mata mineira.
A planta se reproduz com facilidade, segundo relatos de agricultores e comerciantes locais. Curioso é que, por lá, existem restrições à sua comercialização sob alegação de riscos de extinção. Alguns trabalhos e pesquisas científicas já defendem o cultivo sustentável, como acontece com outros palmitos, para, assim, se preservar este ícone da cultura culinária local.
Nossa receita de hoje é apresentada pelo chef Felipe Rameh, que é natural da cidade de Muriaé.
Ele nos conta sobre suas primeiras lembranças do brejaúba. “Quando ainda era criança, ao jogar bola na calçada com os amigos, eu sempre via passar por lá um senhor carregando alguns palmitos e oferecendo para as donas de casa. Um dia, por curiosidade, pedi minha mãe para comprar, e ela preparou com galinha, como as pessoas cozinham por lá, há gerações. Na primeira vez que comi, confesso que não gostei”, diz o chef.
Hoje, Felipe é um entusiasta da cozinha de terroir, e tem defendido e divulgado este tesouro de sua região, além de outros produtos de Minas e do Brasil. Em recente evento de chefs, em São Paulo, ele apresentou a iguaria para seu mestre Alex Atala e para vários outros profissionais de todo o país. Sucesso total!
| *Eduardo Avelar é chef de cozinha e um dos fundadores da Conspiração Gastronômica. Escreve mensalmente na Encontro |