Estado de Minas AGRICULTURA

Sequenciamento genético do trigo poderá aumentar a produtividade

Cientistas comemoram o feito, que deve favorecer a alimentação de bilhões de pessoas


postado em 17/08/2018 11:50 / atualizado em 17/08/2018 12:17

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)
É sabido que o trigo é um dos cereais mais consumidos no mundo. O grão, que fornece mais proteína aos humanos do que a carne, acaba de ter o DNA sequenciado por um grupo internacional de pesquisadores. Foram mapeados 16 bilhões de pares de blocos que formam o código genético, representando 94% do genoma da espécie Triticum aestivum, a mais cultivada no mundo e usada na produção de pães.

Com esse trabalho, será possível, por exemplo, alterar as características do trigo para aumentar a produtividade e torná-lo mais resistente a mudanças ambientais e pragas. Os cientistas também conseguiram identificar genes relacionados à alergia alimentar e acreditam que essas informações poderão ser exploradas em abordagens futuras, como na prevenção da doença celíaca.

Vale dizer que o genoma do trigo é cinco vezes maior que o humano. Sequenciá-lo, portanto, tem sido um grande desafio, já que, além do tamanho, grande parte dele é composto por elementos repetidos, o que dificulta distinguir as categorias genéticas e atrapalha a ordenação correta dos genes. Essa difícil conquista foi alcançada por mais de 200 cientistas de 73 instituições de pesquisa pertencentes a 20 países. Eles sequenciaram 107.891 genes e mais de quatro milhões de marcadores moleculares, identificados e posicionados em 21 cromossomos de três subgêneros.

"A publicação do genoma de referência do trigo é o ápice do trabalho de muitos pesquisadores que se reuniram para fazer o que era considerado impossível", comenta a cientista Kellye Eversole, diretora executiva do Consórcio Internacional para o Sequenciamento do Genoma do Trigo (IWGSC, na sigla em inglês), uma das autoras do estudo que foi publicado na revista Science, em comunicado enviado à imprensa.

Um segundo artigo – também publicado na renomada revista científica e liderado por uma equipe do Instituto de Pesquisa John Innes Center, do Reino Unido – fornece recursos técnicos para apoiar pesquisadores e engenheiros alimentares na compreensão de como os genes do trigo afetam as características do grão. As informações, somadas aos novos dados genéticos, ajudarão a desenvolver variedades do alimento com maior rendimento, mais resilientes às mudanças ambientais e com maior resistência a doenças.

"Isso vai acelerar nossos esforços na identificação dos genes mais importantes para a agricultura, incluindo aqueles que podem ajudar a combater doenças causadas por fungos. Também será benéfico para os agricultores por acelerar o desenvolvimento de variedades de alta qualidade", afirma o pesquisador Kostya Kanyuka, do Instituto de Pesquisa Rothamsted, no Reino Unido, e um dos autores do estudo, no artigo de divulgação da pesquisa.

A estimativa é que a produtividade do trigo precise aumentar 1,6% por ano para atender às demandas da população mundial que deve chegar a 9,6 bilhões de pessoas até 2050. Ao mesmo tempo, para preservar a biodiversidade, a água e os nutrientes, o mundo precisa produzir mais a partir de terras cultivadas já existentes. "A previsão é de que o mundo precise de 60% mais trigo até 2050. Estamos numa posição melhor do que nunca para aumentar a produtividade, criar plantas com maior qualidade nutricional e que se adaptem às mudanças climáticas", comenta o pesquisador Cristobal Uauy, do John Innes Center, um dos autores da pesquisa.

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