Toda festa tem seu fim. Até mesmo quando o assunto é Botecar. Durante 30 dias, os 35 estabelecimentos participantes deram um show de sabores e fartura. A edição deste ano teve como tema o Congado, festa tradicional de origem africana que acontece no Brasil há mais de 300 anos. A celebração – marcada pelas roupas coloridas, bandeiras hasteadas, tambores e cortejos – homenageia Nossa Senhora do Rosário.
Durante as festas, é tradição os moradores servirem quitutes aos congadeiros. Os bares seguiram a regra e abriram suas portas para oferecer o melhor de suas cozinhas. Todos os tira-gostos tiveram como inspiração a fusão da gastronomia vinda da África com ingredientes tipicamente mineiros. Bonito de ver a banana-da-terra, a taioba, a canjiquinha e a rapadura convivendo na mais perfeita harmonia.
Costela bovina cozida ao molho da casa, acompanhada de petit gâteau de canjiquinha recheado com requeijão e fatias de banana-da-terra fritas sobre cama de mostarda. É de dar água na boca, admita. Muita gente concorda, tanto que o Frevo Mineiro, do Bar do Kxote, foi o grande campeão desta edição.
A proprietária e cozinheira Marinete Silva disse que foi uma briga boa na hora de criar a receita, pois o marido, Luiz Antônio, insistia em usar cuscuz para fazer a massa do bolinho cremoso. "Eu fiz e mostrei para ele que o prato estava ficando muito pesado", diz. "Aí, ele me mandou fazer do jeito que eu achava melhor", lembra, rindo.
Para a cozinheira, o sabor do caldo da carne junto com o petit gâteau de canjiquinha foi o que mais impressionou o paladar dos clientes. "Teve uma chef que disse que o sabor do caldo estava igual ao de comida de vó". Localizado na região do Barreiro e com uma atmosfera clássica de boteco, o Bar do Kxote é um dos cinco estreantes desta edição do Botecar. Já chegou, chegando.
O segundo lugar ficou com o prato Marujada, do Bazin Bar. Feito com barriguinha suína, moranga, vinagrete de jiló e geleia de pimentacom gengibre, a receita do tira-gosto foi inspirada nos ingredientes simples que costumavam ser desprezados na época da escravidão. “Às vezes, a pessoa acha que moranga serve apenas para engordar porco”, diz a chef Bethânia França. "Mas, quando trazemos o prato, é uma surpresa. A mesma coisa com jiló. Até quem achava que não gostava, pediu para repetir", completa ela, que decorou seu bar com as cores do congado.
Completando o pódio, o Zumbi dos Palmares, do Bar Geraldim da Cida, levou bronze. Foi a própria Consolação Aparecida, a Cida (claro!), que inventou a receita. Foram oito meses de pesquisa sobre cultura africana e congado. O resultado foi um petisco delicioso feito com lombo suado; farofa de farinha de milho com coco, bacon e amendoim; acompanhado de um molho de rapadura com gengibre; e chips de inhame. "Usei o gengibre porque, na minha cabeça, todo mundo ia usar pimenta. Então o meu jeito de conseguir picância foi através da raiz", diz.
Talento de quem usa os ingredientes com a sabedoria que só vem com anos e anos de cozinha.
As receitas campeãs do Festival Botecar 2019:
1º lugar: Bar do Kxote
Frevo Mineiro - Costela bovina cozida ao molho da casa. Acompanha petit gâteau de canjiquinha recheado com requeijão e fatias de banana-da-terra fritas sobre cama de mostarda
2º lugar: Bazin Bar
Marujada - Barriguinha suína e moranga assada acompanhados de vinagrete de jiló e geleiade pimenta com gengibre
3º lugar: Geraldim da Cida
Zumbi dos Palmares - Lombo suado, farofa de farinha de milho com coco, bacon e amendoim. Acompanha molho de rapadura com gengibre e chips de inhame
4º lugar: Bar da Lora
Tradição da Lora - Fígado com cebola e jiló, pernil, farofa de miúdos e molho de banana da terra com gengibre
5º lugar: Bar do Zezé
Bené-Dito - Joelho de porco cozido, mandioca na manteiga de garrafa e farofa de jiló