“O livro tem o propósito de ampliar a voz da mulher, inspirando e valorizando o protagonismo feminino nos negócios, por meio dos relatos de vidas e carreiras das coautoras, cujas experiências e vivências são comuns para muitas brasileiras. São histórias carregadas de desafios, superações, erros e acertos, aprendizados, ressignificação, recomeços, legados, diversidade e sororidade”, reflete Hélida.
A obra apresenta diferentes trajetórias de mulheres que, ao empreenderem, transformaram suas próprias realidades e também impactaram positivamente suas famílias, comunidades e ambientes de trabalho. A maioria das autoras acumula múltiplas jornadas — como mães, chefes de família, líderes e gestoras. “Esse não é um livro sobre mulheres perfeitas. É um livro sobre protagonistas reais, que fizeram de seus caminhos uma ponte para outras mulheres atravessarem. Nosso intuito é mostrar o potencial do olhar feminino para transformar realidades, abrir novas oportunidades de carreiras, humanizar processos e construir um mercado de trabalho mais empático, forte e justo”, afirma Silvana Lages.
Segundo o Sebrae, em estudo realizado com base na PNAD Contínua do IBGE, o Brasil conta com cerca de 10,4 milhões de mulheres empreendedoras — mais de 42% do total de donos de negócios no país. Desse grupo, 52% são chefes de família. Embora o número tenha crescido 33% na última década, grande parte delas empreende por necessidade, não por oportunidade. O livro, portanto, também lança luz sobre os desafios diários que essas mulheres enfrentam.
“É sobre como enfrentar a solidão, o medo e o peso das responsabilidades, enquanto se tenta construir um sonho. E em meio a tantas dificuldades, essas histórias reais de mulheres que chegaram lá inspiram e fortalecem o empreendedorismo feminino, que hoje sustenta milhões de famílias e movimenta a economia do país”, diz Silvana.
Da indústria de alimentos ao ecoturismo
Formada em Psicologia e Terapia Ocupacional, Hélida relembra no livro como a força da família e a conexão com as raízes rurais marcaram sua trajetória. Filha de Maria Dalva Couto Mendonça e Hélio Mendonça Braga, ela cresceu próxima ao universo do campo e aprendeu com o pai a reconhecer oportunidades e agir com pragmatismo. Com a mãe, encontrou o exemplo de coragem e reinvenção que a acompanha até hoje.
“D. Dalva é a minha maior inspiração pela sua garra, humildade, determinação e, acima de tudo, pelo exemplo de mulher, mãe e empreendedora que ela foi para mim. Ela virou o jogo e assumiu o protagonismo da própria vida, da família e da empresa que criamos. Foi com o apoio dela que saí do país para conquistar minha independência financeira, antes dos 18 anos, e construir minha carreira profissional. Minhas duas primeiras experiências fora do Brasil, para estudar nos EUA e, depois, estudar e trabalhar na Inglaterra, foram fundamentais para me transformar na mulher que sou hoje: protagonista, empreendedora e forte”, relembra Hélida.
Em 1973, a morte inesperada do pai mudou a vida da família. “Minha mãe tinha apenas 31 anos, não sabia dirigir, não tinha conta em banco, nunca havia saído de casa para trabalhar e, de repente, se viu sozinha na criação e sustento dos quatro filhos. Eu era a mais velha e tinha 12 anos. Lutando contra uma depressão profunda, ela optou por acreditar em si mesma: vendeu nossa fazenda, honrou as dívidas e se encontrou profissionalmente no mercado imobiliário.”
Essa mesma força motivou, anos depois, a criação da Forno de Minas, junto com o irmão Helder. “Foi ‘o sim’ que mudou a minha vida. Eu era feliz com a profissão que escolhi. Mas meu irmão surgiu com uma ideia tão inesperada quanto irresistível: transformar o tradicional pão de queijo, um patrimônio da culinária mineira, em um produto congelado, prático, moderno e inovador, preservando as origens e o sabor caseiro dessa iguaria, que faz parte da memória afetiva dos brasileiros. Foi a decisão mais importante e assertiva da minha vida, pois me permitiu testar e desenvolver minha potência para empreender.”
Fundada em 1990, a Forno de Minas passou por momentos marcantes: foi vendida parcialmente a um grupo inglês em 1999, recompra da marca pela família em 2009 e, em 2023, uma venda definitiva para um grupo canadense. Hélida foi responsável pelas áreas de RH, Marketing e Estratégia.
“Quando a vida pede coragem para recomeçar e se arriscar, não ignore este chamado. Sem desmerecer o medo, que faz parte de qualquer grande mudança e mantém nossos pés no chão, acredite no seu potencial, tenha perseverança para errar, acertar e continuar, com determinação para transformar os sonhos em realidade e seguir em frente.”
Hoje, ela se dedica ao desenvolvimento de um novo projeto: a Fazenda Hiáia, localizada entre Ouro Preto e Piranga. O espaço, adquirido com o marido no início dos anos 2000, une preservação ambiental, memória afetiva e turismo ecológico. A palavra “Hiáia” — que combina referências indígenas e africanas — carrega em seu significado a força feminina e a ligação com a água.
“Acredito que empreender é inovar com propósito, preservando a conexão com nossas raízes. Hoje, eu e meu marido nos orgulhamos de sermos produtores rurais apaixonados por inovação e pela natureza. A vida me ensinou que coragem, resiliência e conexão com as próprias raízes são forças que movem o mundo. Por isso, sigo firme no objetivo de deixar um legado que valorize o cuidado com a terra, a natureza e as pessoas. Porque empreender também é plantar o futuro”, avalia Hélida.
Serviço
Mulheres que Transformam Vidas – Onde: Parrilla Savassi 158 (Rua Professor Morais, 158 – Funcionários, Belo Horizonte/MG). Quando: 7 de agosto de 2025, das 19h às 22h. Livro: Mulheres que Transformam Vidas – Histórias Inspiradoras de Mulheres Empreendedoras (326 páginas – Editora Empreender). Preço: R$ 79,90.