Estado de Minas PREMIADO

Bioma Café conquista prêmios e reforça modelo sustentável no Alto Paranaíba

Com cafés campeões no Cup of Excellence 2024, fazenda aposta em tecnologia, preservação ambiental e formação de novas gerações


postado em 01/10/2025 10:45 / atualizado em 01/10/2025 12:07

Fundada em 2010, a Bioma Café é referência na produção de cafés especiais, acumulando 38 premiações nacionais e internacionais somente em 2024 (foto: Divulgação Bioma Café/Mariana Lopes)
Fundada em 2010, a Bioma Café é referência na produção de cafés especiais, acumulando 38 premiações nacionais e internacionais somente em 2024 (foto: Divulgação Bioma Café/Mariana Lopes)
Em Campos Altos, no Alto Paranaíba, a Fazenda Bioma Café é conduzida com uma filosofia que vai além da produção agrícola: trata-se de uma relação de respeito e afeto com a terra e com cada pé de café. À frente da propriedade, o produtor e sócio proprietário Marcelo Nogueira Assis  conta que aprendeu desde cedo a enxergar a lavoura como um ser vivo. “Eu trato a planta como um ser humano. Ela respira, se alimenta, cresce. É como um filho: precisa de atenção, paciência e cuidado. Se você bate na lavoura, ela não devolve”, explica. Essa visão, passada de geração em geração, norteia o trabalho em uma atividade que exige resiliência.
 
Fundada em 2010  por Marcelo e seu sócio Flávio Márcio Silva, a Bioma Café é referência na produção de cafés especiais, tendo cinco lotes campeões no  Cup of Excellence 2024, premiação internacional considerada o “Oscar” do setor. Um de seus lotes venceu a categoria experimental (grãos que passaram por fermentação induzida) com nota de 93,14, a mais alta do concurso. No mesmo ano, a fazenda foi vencedora nacional na categoria “Café Natural” no concurso NossoCafé. Além dos prêmios de qualidade, a empresa carrega certificações de produção regenerativa, que comprovam práticas sustentáveis e responsáveis. O selo reforça o compromisso com o meio ambiente, a preservação do solo e o respeito às gerações futuras. 
 
“Produzir café sustentável não é mais caro, é uma escolha. Com o tempo, a própria terra retribui”, resume Marcelo. As condições de clima mais frio e as adversidades naturais exigiram escolhas específicas de variedades, como o café Catuaí Vermelho, reconhecido pela resistência, além do Arara, Paraíso, Bourbon amarelo, entre outros que se destacaram em concursos recentes. O empresário logo avisa: “produzir café é um investimento de longo prazo. Nos três primeiros anos, a planta apenas cresce, sem dar frutos. Só depois desse tempo vem a primeira colheita, que marca o início de um ciclo produtivo que pode durar em média 15 anos”. Ainda assim, complementa, há uma alternância natural. Um ano de alta produção seguido de outro mais tímido, quando o cafeeiro precisa “se recuperar” para voltar a produzir em abundância. 
 
"Nada acontece no curto prazo. O agro não é devastação, como muitos pensam. É escolha. Eu escolhi ser um produtor sustentável", diz o sócio proprietário Marcelo Nogueira Assis (foto: Divulgação Bioma Café/Mariana Lopes)
Além das peculiaridades do cultivo, os produtores convivem com desafios cada vez mais intensos. A imprevisibilidade climática tem exigido tecnologias que, até pouco tempo atrás, não eram necessárias em Campos Altos. “Quando cheguei aqui, ninguém falava em irrigação. Hoje, é questão de sobrevivência. O clima vem mudando, e três anos seguidos de problemas de safra impactaram toda a cadeia”, relata Marcelo. A Fazenda Bioma Café possui atualmente cerca de 250 hectares cultivados e opera quase totalmente de forma mecanizada, com tratores e drones que ajudam no manejo. Mesmo assim, a mão de obra qualificada continua sendo um gargalo. “O campo paga bem hoje, mas os jovens não querem seguir essa vida. A mecanização foi uma necessidade diante dessa realidade”, explica.
 
Do campo à exportação
 
Produzir café de qualidade é um desafio que vai muito além da colheita. Na fazenda liderada por Marcelo, cada etapa do processo é feita internamente, sem depender de terceirizados. Isso garante segurança, controle e transparência até o momento em que o grão deixa a propriedade rumo ao mercado internacional. Diferente da maioria dos produtores, que entregam o café cru às cooperativas para finalização, Marcelo investiu em toda a estrutura de beneficiamento e rebeneficiamento dentro da própria fazenda. Assim, o produto já sai pronto para ser comercializado diretamente com compradores e exportadores. Hoje, cerca de 90% da produção é destinada ao mercado externo, enquanto apenas 10% circula no Brasil. “Nosso café chega a diversos países, muitas vezes embalado sob marcas internacionais. O consumidor bebe nosso produto sem saber sua origem”, comenta Marcelo. 
 
Na propriedade, cada lote de café é rastreado em detalhes: talhão por talhão, quadro por quadro, dia por dia. Essa organização permite a criação de blends precisos e personalizados, sem perder a identidade do grão. O acompanhamento técnico também é peça-chave. Marcelo participa do Educampo, plataforma do Sebrae que conecta propriedades rurais para troca de experiências, comparando índices de produtividade e custos. A ideia é aprender em conjunto, corrigindo falhas e replicando boas práticas. Apesar das dificuldades, o produtor acredita que a paixão pela atividade é o que sustenta o negócio. “O café exige investimento constante, mas também devolve histórias e conquistas. Não é só uma lavoura: é uma família inteira que cresce junto com cada planta”, conclui.
Educando novas gerações
 
O planejamento estratégico da fazenda começou em 2021 com a meta de alcançar determinados resultados até 2026 e muitos deles vieram antes do prazo. “Antes, ninguém me conhecia, mas depois que começamos a ganhar prêmios isso mudou. Agora, o desafio é ainda maior. Precisamos mostrar consistência e entregar qualidade todos os dias”, afirma. Parte desse propósito se traduz em iniciativas de educação. Através do Programa Café com Futuro, toda semana cerca de 300 estudantes passam pela fazenda para conhecer o processo de produção, aprender sobre a importância do solo e entender que agricultura pode e deve ser sustentável. “É uma forma de plantar sementes para o futuro, inspirando jovens que talvez nem imaginam seguir esse caminho e podem escolher permanecer no campo”, diz Marcelo.
 
Café com futuro: toda semana a fazenda recebe cerca de 300 estudantes para conhecer o processo de produção, aprender sobre a importância do solo e entender que agricultura pode e deve ser sustentável (foto: Divulgação Bioma Café/Mariana Lopes)
Café com futuro: toda semana a fazenda recebe cerca de 300 estudantes para conhecer o processo de produção, aprender sobre a importância do solo e entender que agricultura pode e deve ser sustentável (foto: Divulgação Bioma Café/Mariana Lopes)
O logotipo da Bioma Café traduz essa filosofia: as figuras humanas de braços abertos representam as pessoas; as formas geométricas simbolizam os talhões de café; e o espaço em verde remete à preservação. Mais de 63% da área da fazenda está destinada à mata nativa, muito além da obrigação legal de 20%. No campo, o trabalho segue uma linha de equilíbrio entre tecnologia e respeito à natureza. A fazenda investe em consultorias especializadas em biológicos e desenvolve compostagem própria, transformando cascas de café e restos de produção em adubo natural. “Eu não quero plantar por modismo ou para tirar foto. O que fazemos aqui é real, pensado para regenerar o solo e garantir produtividade a longo prazo”, explica.
 
Esse cuidado também se reflete na diversificação. Além dos 250 hectares de café, a fazenda cultiva 50 hectares de abacate, que funcionam como barreiras naturais contra o vento e ainda geram renda. A expectativa é ampliar para 360 hectares de cultivo nos próximos anos. Para Marcelo, trabalhar no campo é um exercício de paciência e resiliência. “Nada acontece no curto prazo. O agro não é devastação, como muitos pensam. É escolha. Eu escolhi ser um produtor sustentável”, afirma.
 

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