
Fundada em 2010 por Marcelo e seu sócio Flávio Márcio Silva, a Bioma Café é referência na produção de cafés especiais, tendo cinco lotes campeões no Cup of Excellence 2024, premiação internacional considerada o “Oscar” do setor. Um de seus lotes venceu a categoria experimental (grãos que passaram por fermentação induzida) com nota de 93,14, a mais alta do concurso. No mesmo ano, a fazenda foi vencedora nacional na categoria “Café Natural” no concurso NossoCafé. Além dos prêmios de qualidade, a empresa carrega certificações de produção regenerativa, que comprovam práticas sustentáveis e responsáveis. O selo reforça o compromisso com o meio ambiente, a preservação do solo e o respeito às gerações futuras.
“Produzir café sustentável não é mais caro, é uma escolha. Com o tempo, a própria terra retribui”, resume Marcelo. As condições de clima mais frio e as adversidades naturais exigiram escolhas específicas de variedades, como o café Catuaí Vermelho, reconhecido pela resistência, além do Arara, Paraíso, Bourbon amarelo, entre outros que se destacaram em concursos recentes. O empresário logo avisa: “produzir café é um investimento de longo prazo. Nos três primeiros anos, a planta apenas cresce, sem dar frutos. Só depois desse tempo vem a primeira colheita, que marca o início de um ciclo produtivo que pode durar em média 15 anos”. Ainda assim, complementa, há uma alternância natural. Um ano de alta produção seguido de outro mais tímido, quando o cafeeiro precisa “se recuperar” para voltar a produzir em abundância.

Do campo à exportação
Produzir café de qualidade é um desafio que vai muito além da colheita. Na fazenda liderada por Marcelo, cada etapa do processo é feita internamente, sem depender de terceirizados. Isso garante segurança, controle e transparência até o momento em que o grão deixa a propriedade rumo ao mercado internacional. Diferente da maioria dos produtores, que entregam o café cru às cooperativas para finalização, Marcelo investiu em toda a estrutura de beneficiamento e rebeneficiamento dentro da própria fazenda. Assim, o produto já sai pronto para ser comercializado diretamente com compradores e exportadores. Hoje, cerca de 90% da produção é destinada ao mercado externo, enquanto apenas 10% circula no Brasil. “Nosso café chega a diversos países, muitas vezes embalado sob marcas internacionais. O consumidor bebe nosso produto sem saber sua origem”, comenta Marcelo.
Na propriedade, cada lote de café é rastreado em detalhes: talhão por talhão, quadro por quadro, dia por dia. Essa organização permite a criação de blends precisos e personalizados, sem perder a identidade do grão. O acompanhamento técnico também é peça-chave. Marcelo participa do Educampo, plataforma do Sebrae que conecta propriedades rurais para troca de experiências, comparando índices de produtividade e custos. A ideia é aprender em conjunto, corrigindo falhas e replicando boas práticas. Apesar das dificuldades, o produtor acredita que a paixão pela atividade é o que sustenta o negócio. “O café exige investimento constante, mas também devolve histórias e conquistas. Não é só uma lavoura: é uma família inteira que cresce junto com cada planta”, conclui.
Educando novas gerações
O planejamento estratégico da fazenda começou em 2021 com a meta de alcançar determinados resultados até 2026 e muitos deles vieram antes do prazo. “Antes, ninguém me conhecia, mas depois que começamos a ganhar prêmios isso mudou. Agora, o desafio é ainda maior. Precisamos mostrar consistência e entregar qualidade todos os dias”, afirma. Parte desse propósito se traduz em iniciativas de educação. Através do Programa Café com Futuro, toda semana cerca de 300 estudantes passam pela fazenda para conhecer o processo de produção, aprender sobre a importância do solo e entender que agricultura pode e deve ser sustentável. “É uma forma de plantar sementes para o futuro, inspirando jovens que talvez nem imaginam seguir esse caminho e podem escolher permanecer no campo”, diz Marcelo.

Esse cuidado também se reflete na diversificação. Além dos 250 hectares de café, a fazenda cultiva 50 hectares de abacate, que funcionam como barreiras naturais contra o vento e ainda geram renda. A expectativa é ampliar para 360 hectares de cultivo nos próximos anos. Para Marcelo, trabalhar no campo é um exercício de paciência e resiliência. “Nada acontece no curto prazo. O agro não é devastação, como muitos pensam. É escolha. Eu escolhi ser um produtor sustentável”, afirma.