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Estado de Minas MODA

Consumidor paga caro por exclusividade e looks feitos sob medida em Belo Horizonte

Empresários e artesãos seduzem clientes da alta sociedade com atendimento personalizado. Profissões que pareciam extintas, como costureiras e alfaiates individualizados, ganham força


postado em 04/06/2019 12:52 / atualizado em 06/06/2019 01:04

Maria Vitória Vieira é referência em Belo Horizonte na modelagem e acabamento de roupas para a alta sociedade:
Maria Vitória Vieira é referência em Belo Horizonte na modelagem e acabamento de roupas para a alta sociedade: "Sou costureira à moda antiga", diz. (foto: Paulo Marcio)
Vários artesãos e profissionais de Belo Horizonte produzem peças sob medida para quem procura sair do fast fashion (moda rápida) e se diferenciar com produtos exclusivos e personalizados. As técnicas de produção geralmente são passadas de pai e avôs – ou mãe e avós – para filhos e netos. O atendimento vip tem um preço: um sapato de ouro pode chegar a custar R$ 100 mil. Um terno, R$ 13 mil, e a roupa e o sapato exclusivos não saem por menos de R$ 900, a peça mais básica.
 
Estilista

Com cinco décadas dedicadas a uma profissão em extinção, a costureira Maria Vitória Martins Vieira é referência em Belo Horizonte na modelagem e acabamento de roupas. Ela orgulha-se de ter completado bodas de ouro no ofício e ser reconhecida por mulheres da alta sociedade quando o assunto é roupa fina sob medida. Tóia, como é chamada carinhosamente por clientes e alunos do Curso de Design de Moda da Fumec, faz questão de trabalhar sozinha em casa e acompanha todas as etapas da costura: entrevista com a cliente, escolha da criação, medidas, compra do tecido, modelagem, corte, prova, acabamento e até consultoria no look completo, com dicas de sapatos, bolsas e joias a serem usadas com cada peça. “Sou costureira à moda antiga”, diz.

Bem-estar e conforto levam clientes a buscar os sapatos personalizados fabricados por Ana Cristina Miranda:
Bem-estar e conforto levam clientes a buscar os sapatos personalizados fabricados por Ana Cristina Miranda: "Se a pessoa estiver com o pé machucando, a festa acaba", diz. (foto: Denis Medeiros)
O ateliê é o mesmo há 52 anos: ela atende em um quarto no seu apartamento no bairro Funcionários, na região Centro-Sul da capital e ainda costura em máquina doméstica. O tratamento vip começa na hora da entrevista com as clientes, que não dura menos de uma hora e meia. “Mas já se prolongou por seis horas”, conta. São no mínimo duas provas antes de entrega da roupa e o público é diversificado, mas sempre em busca de uma peça fina, com melhor caimento e acabamento.
 
As roupas produzidas por Tóia são clássicas e atemporais. “Algumas que fiz na década de 60 poderiam ser usadas hoje”, diz. São únicas, feitas de tecidos nobres, como seda, algodão puro e renda. E a clientela não pensa duas vezes em pagar pela exclusividade.
  
Tóia aprendeu o oficio com a mãe, Aracy de Oliveira de Martins Vieira, que sempre costurou para ela e a irmã. Naquela época, nem existia a palavra francesa moulage (modelagem tridimensional, que monta a roupa no manequim), mas Aracy já produzia peças dessa forma. “Ela usava intuitivamente”, lembra a costureira. Foi aí que começou a fazer roupas para ela mesma, depois para amigas e em seguida clientes. “Fiquei viúva aos 35 anos e criei meus três filhos com a costura”, diz.

Sapatos

Os ternos produzidos pelo estilista Marcelo Blade podem chegar a R$ 13 mil: artistas, altos executivos e políticos de todo o país não abrem mão das peças no tamanho exato.(foto: Samuel Ge)
Os ternos produzidos pelo estilista Marcelo Blade podem chegar a R$ 13 mil: artistas, altos executivos e políticos de todo o país não abrem mão das peças no tamanho exato. (foto: Samuel Ge)
A empresária Ana Cristina Miranda Diniz guarda até hoje as formas e máquina de fabricação de sapatos do avô, Antônio Miranda. Foi com ele que aprendeu a criar sapatos sob medida.
 
Ana Cristina chegou a atuar como dentista, mas o ofício aprendido com o avô falou mais forte na hora de escolher qual caminho seguir. Há 20 anos ela tem a Ana Miranda Sapatos Sob Medida, que fabrica calçados femininos finos e esportivos com numeração de 28 a 43. Os clientes alvos são aqueles que buscam bem-estar e conforto, além de beleza. “Se a pessoa estiver com o pé machucando, a festa acaba”, diz.
 
As palmilhas são produzidas conforme as articulações, respeitando joanetes, calos, dedo longo e pé maior do que o outro. Os sapatos demoram cerca de um mês para ficarem prontos, podendo chegar a dois meses. São mais de 50 tipos de saltos vendidos em modelos de couro, tecidos, camurça, bordado, flores e glitter. A numeração é aleatória: 35,2; 35,7; 36,75. “Qualquer milímetro é relevante no pé”, explica Ana Cristina. A medida nos pés da cliente é tirada pela própria empresária com hora marcada e a peça mais simples não sai por menos de R$ 900, que é a sapatilha.

Ternos

Berta Bismarker herdou da mãe, a chapeleira Lenice Bismarker, a arte de deixar as cabeças das mulheres mais femininas:
Berta Bismarker herdou da mãe, a chapeleira Lenice Bismarker, a arte de deixar as cabeças das mulheres mais femininas: "Dou consultoria sobre brinco, anel e até sapato a usar". (foto: Paulo Marcio)
Altos executivos, artistas e políticos de todo o país usam ternos do alfaiate mineiro Marcelo Blade. O atendimento personalizado, as peças feitas no tamanho exato e os tecidos ingleses e italianos dão diferencial ao alfaiate. Blade produz ainda camisas, gravatas e lenços, mas sua especialidade costuma ser o colete do noivo, em tonalidade diferente dos ternos. O luxo tem preço: o terno mais barato do alfaiate custa R$ 5 mil e pode chegar a R$ 13 mil, quando produzido de cashmere com seda ou com o tecido cool effect, que dá a sensação térmica de até 10 graus a menos. O valor não assusta os clientes que fazem fila para as encomendas, geralmente agendadas com um mês de antecedência.
 
Marcelo aprendeu a arte desde o 14 anos, quando foi ser office-boy do pai, o alfaiate Hermano do Carmo. De lá pra cá, foi só criação. Ele faz o atendimento na parte de baixo de sua casa, no Cruzeiro, região Centro-Sul da capital. Em passeio pela cidade de Tiradentes há dez anos, o alfaiate decidiu ingressar em novo ramo e começou a fazer aventais, gorros, chapéus, bandanas e domas para chefes de cozinha. E assim nasceu a marca de vestuário para cozinheiros, a Blande Gourmet. Assim como nos ternos, o diferencial dos aventais são os coletes colocados na parte de cima das peças. De Tiradentes, os aventais já foram para a Espanha, México, Chile, Itália e Peru, Londres e Nova York.

Chapéus

A diva brasileira dos chapéus, arranjos de cabelo e acessórios não poderia ter ficado sem uma herdeira sucessora. A estilista mineira Berta Bismarker assumiu com glamour e elegância o bastão da mãe, Lenice Bismarker, falecida há sete anos. “Faço isso desde os 13 anos, pois sou filha e neta de chapeleira”, diz. Assim como Lenice, ela mantém o ateliê em casa, onde produz diversos produtos para a cabeça: desde chapéus a correntes, bandanas, flores, tiaras, arranjos para noivas e casquetes.
 
O seu diferencial são peças produzidas de acordo com o gosto das clientes e o fato de nenhuma ser igual a outra. Os materiais usados são sofisticados, como cristal, renda, crinol, metal e pena. Assim como a mãe, profissional conhecida pela ternura, diversão e simpatia, Berta prioriza o atendimento à clientela. “Conversamos sobre tudo. Dou consultoria sobre brinco, anel e até sugestões sapato a usar”, diz.
Raymundo Vianna vem de família com tradição de mais de 150 anos em ourivesaria:
Raymundo Vianna vem de família com tradição de mais de 150 anos em ourivesaria: "Na arte final, as máquinas não substituem o homem". (foto: Denis Medeiros)
 

JÓIAS

Você consegue imaginar um sapato de ouro e pedras legítimas pelo valor de R$ 100 mil? E uma fivela de cinto com cavalo esculpido a mão cravejado de esmeraldas e brilhantes por R$ 50 mil? O trabalho do ourives e empresário Raymundo Vianna, um dos sócios da Vianna Brasil, é pensar e elaborar essas joias raras. A família de Raymundo tem 150 anos de tradição em ourivesaria. Ele aprendeu a profissão com o pai, Raymundo Vianna, o Mundinho. “Ele  não gostava de produtos industrializados e gostava de produzir produto artesanal e com material nobre”, afirma.
 
Colares, brincos, aneis e esculturas que saem da Vianna Brasil têm selo de garantia: todos são elaborados com materiais preciosos, como prata, ouro, platina e pedras legítimas, como Quartzo, Topázio Imperial, Água Marinha, Turmalina da Paraíba e Esmeraldas. E rodam o mundo, com exportação para mais de 20 países, com escritórios e uma loja nos Estados Unidos. O atendimento personalizado é feito pelo próprio Raymundo, que analisa cada detalhe do visual da clientela, como vestido, sapato e arranjo de cabeça.
 
As joias da Vianna são inspiradas nas cores, formas, arte e cultura brasileira. A maioria leva pedras na concepção. “Em Minas temos a maior diversificação de pedras do mundo”, diz Raymundo. A demanda pelas preciosidades está em peças inimagináveis. Na década de 50, ourives se debruçavam nas bengalas para colocar o cabo em ouro. Hoje, o trabalho é feito em armações de óculos, acessório que a cada dia ganha mais adeptos. Raymundo é muito procurado também por colecionadores, como as produtoras de orquídeas, que encomendam broches no formato da flor do amor, poder, desejo e sedução. “Na arte final, as máquinas não substituem o homem”, afirma.

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