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Estado de Minas

Eles venceram


postado em 09/11/2011 09:18

Bernardo Borges de Lima, 36 anos, ex-aluno do Colégio Loyola, pesquisador e professor da UFMG(foto: Walmir Monteiro, Geraldo Goulart, Cláudio Cunha, Eugênio Gurgel, Pil Gloor/Divulgação, Júnia Garrido, Arquivo pessoal)
Bernardo Borges de Lima, 36 anos, ex-aluno do Colégio Loyola, pesquisador e professor da UFMG (foto: Walmir Monteiro, Geraldo Goulart, Cláudio Cunha, Eugênio Gurgel, Pil Gloor/Divulgação, Júnia Garrido, Arquivo pessoal)
O matemático premiado
 

Não se deve medir um homem pelos seus títulos, mas ter no currículo um prêmio internacional pela pesquisa feita no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), uma das instituições mais respeitadas do mundo nessa área, diz muito sobre as conquistas do professor Bernardo. Em março de 2004, ele foi a Punta del Este, Uruguai, receber o reconhecimento da Bemoulli Society pela melhor tese de doutorado defendida por um latino-americano. Mas sua maior conquista foi ter sido convidado para ser membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências.

DICA: "Meus pais sempre me presentearam com livros, enciclopédias, mapas e atlas".

 

 

Qual o principal legado de uma boa escola? Disciplinar? Criar o hábito de estudo? Estimular o gosto pela leitura? Ensinar valores morais? Ou transmitir um grande volume e conteúdo acadêmico? A resposta não é única e não há, aqui, a intenção de simplificar o questionamento. Mas, para tentar entender como a trajetória escolar influencia a carreira e o sucesso das pessoas, Encontro selecionou perfis de alguns jovens talentos que, apesar da pouca idade, podem ser considerados bem-sucedidos em suas profissões.

 

Por mais que haja diferenças entre os aspectos destacados por cada um dos entrevistados, as características estudantis mais marcantes que, ao menos na teoria, refletem diretamente na vida profissional deles têm origem no ensino fundamental. Isso confirma a colocação da professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Eliane Marta Teixeira Lopes, especialista em história da educação, de que é nas primeiras séries que se forma a “personalidade do estudante” e se constroem hábitos a serem carregados para o resto da vida. “Nos primeiros anos da escola, a pessoa aprende como absorver o ensino. Se ela não cria o gosto por estudar, por exemplo, depois fica difícil convencê-la da importância disso”, diz a professora.

 

Segundo ela, a escolha da escola para matricular as crianças é uma decisão que requer muita cautela dos pais; não basta usar critérios tais como, se o filho é indisciplinado, basta colocá-lo em um colégio apertado. “O pai não pode transmitir para o filho a responsabilidade do desejo de ser o que ele não foi, pensar ‘eu vou dar a ele o que eu não tive’, e depois simplesmente cobrar resultados. É preciso saber ouvir o que a criança quer”, diz.

 

Henrique Nogueira Macedo, 29 anos, promotor de justiça, ex-aluno do Colégio Marista Dom Silvério
 

Promotor aos 22

 

Acostumado a concursos públicos desde o início do curso de direito, quando começou a trabalhar no Tribunal de Justiça, Henrique queria chegar ao Ministério Público. Não demorou – aos 22 anos, ele foi aprovado. “Eu me lembro do envolvimento do professores com os nossos problemas e de como a escola me preparou para as avaliações. Teve um ano em que toda quinta-feira à noite a gente ia ao Dom Silvério fazer quatro provas seguidas. Era cansativo, mas adquiri o hábito", diz ele. Quando saiu da graduação, fez 10 concursos e passou em todos.

DICA: "É importante, portanto, que o colégio te ensine a ter ritmo".

 

 

A especialista complementa, no entanto, que a escolha da instituição deve partir de critérios bem definidos. “O que eu quero que meu filho aprenda na escola?” é um bom ponto de partida para a decisão que precisa ser tomada, geralmente no período em que estamos – últimos meses do ano, quando são feitas as inscrições para o próximo ano letivo.

 

Ainda segundo Eliane, se antes as famílias matriculavam os filhos em colégios tradicionais católicos por causa da defesa dos valores religiosos, hoje a maioria olha o mercado, prioriza boas notas nos vestibulares e as oportunidades profissionais que determinadas instituições podem oferecer. Isso acaba fazendo com que as escolas que apresentam os melhores resultados tenham muitas características em comum.

 

João Henrique Couto, 31 anos: gerente da Copasa e ex-aluno da Fundação Torino
 

Método para vencer

 

Nem sempre o que se aprende na escola se usa no dia a dia – que o diga um aluno que odeia pensar nas fórmulas de química. Mas João conta que criar um método próprio de estudos para a carga pesada de conteúdos que viu na Fundação Torino foi o que mais o ajudou a organizar prioridades. Outro ganho foi aprender a falar em público e a ter habilidade com idiomas, um salto para a conquista do primeiro posto de gerente que ocupou na Copasa, aos 28 anos.

DICA: “Na hora do aperto, sempre me lembro das provas de arguição. Ser avaliado por uma banca de exigentes professores é uma ótima preparação”.

 

 

Tal constatação é defendida também pelo especialista em educação e articulista da Encontro, Claudio de Moura Castro. Ele diz que a sustentação de um bom ensino está calcada em quatro pilares: disciplina; tempo de estudo; bons professores, que estimulem a busca pelo conhecimento; e uma escola que tenha lideranças fortes. “Todas as boas escolas que eu conheço em Belo Horizonte são assim. Isso é o que faz a diferença. Os exemplos mostram que grande parte dos alunos bem-sucedidos passou por instituições que priorizam esses pilares”, afirma. “Mas é importante o conjunto estar completo. Não adianta a escola ter bons professores, mas, por exemplo, não ter liderança que a conduza para frente”.

 

Aos 17 anos, Henrique Nogueira Macedo já estava terminando o primeiro ano do curso de direito na UFMG e decidiu que queria intensificar os estudos e investir em concursos. “Eu percebi que estava fácil me preparar para provas muito disputadas quando me dei conta de o quanto a faculdade era mais fácil que o colégio”, diz. “Eu me sentia mais preparado que a maioria”. As lembranças que o promotor, hoje com 29 anos, traz do Marista Dom Silvério passam pelo respeito aos professores: “Eu gostava mais de matemática e de física, mas me via obrigado a estudar o que eu queria e também o que eu não achava interessante. Na 8ª série, a professora Margarida avisou que as aulas de português seriam pura gramática”, conta. Ele não via muito sentido naquilo, mas, por incrível que pareça, acabou gostando. “Hoje eu reconheço o quanto isso fez diferença para eu escrever bem. Não tenho dificuldade com as regras. Aqui no MP (Ministério Público), todo mundo brinca comigo, dizendo que eu sou o chato da crase, da vírgula...”, diz.

 

Juliana Reis Guimarães, 28 anos: médica, ex-aluna do Colégio Marista Dom Silvério, da Escola Americana e da Fundação Torino
 

Ela fala cinco línguas

 

O desempenho de um aluno em sala de aula está diretamente ligado ao conhecimento que ele traz de casa, que adquire com a família. Esta é a ideia central do conceito de Capital Cultural, defendido pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu, e vivenciado por Juliana. Fluente em cinco idiomas e apaixonada pelos estudos, ela credita a carreira de sucesso à trajetória escolar – fruto de escolhas feitas pelos pais.

DICA: “Pude morar em outros países, estudei em escolas bacanas. Não tem segredo.Em casa, não tive obstáculo nenhum para buscar mais conhecimento. É isso”.

 

 

Aos 24 anos, ele já trabalhava no MP de Minas Gerais e, por fazer mestrado em direito processual, também dava aula em um curso de pós-graduação na PUC-Minas. “Desde essa época gosto de refletir sobre o papel da educação, e como a faculdade reúne grupos heterogêneos, é nessa fase que você percebe quem tem base. Tive alunos muito diferentes uns dos outros”. Ele diz que ter um histórico de conhecimento e de dedicação mais amplo é o grande diferencial para se inserir no mercado. “Porque não basta passar no vestibular; tem que sustentar o bom desempenho para ganhar espaço.”

 

O ritmo de estudos que ganhou nos tempos de Fundação Torino é a herança escolar mais visível na personalidade de João Henrique Couto. “Tínhamos quase 15 matérias, muito conteúdo para estudar. Como a cobrança era grande, eu acabei me acostumando a pegar pesado nos estudos. E acho que hoje isso me ajuda a enfrentar os desafios da vida profissional”, diz o gerente de Divisão de Desempenho Empresarial da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), hoje com 31 anos.

 

Nelly Hong Val, 33 anos, empresária, ex-aluna da Escola Americana
 

Na faculdade aos 16

 

O plano inicial da família de Nelly era morar nos Estados Unidos, por isso ela foi matriculada em uma escola internacional. Entretanto, seus pais resolveram continuar no Brasil. “Eu não quis mudar de colégio; eles souberam respeitar meu desejo”, diz Nelly. A partir daí, ela descreve como, aos 16 anos, já estava cursando administração de empresas e, aos 24, voltava de um mestrado em moda na Itália. “A desenvoltura que conquistei na época da escola me abriu a cabeça para viajar pelo mundo. Morei em vários lugares, até na Coreia, e voltei para abrir meu próprio negócio em BH”.

DICA: “Não existe escola ideal, mas sim aquela que combina melhor com a personalidade do aluno”.

 

 

Anna Motta, coordenadora dos cursos da Scuola Superiori da Fundação Torino em Belo Horizonte, destaca a preparação integral que a instituição oferece: “Por sermos uma escola internacional, os alunos têm aulas sobre a cultura de várias regiões do mundo”. Lá, o ensino é puxado – visando a fluência do italiano, espanhol e inglês – e ainda com aulas que dão uma boa base de direito, economia e latim. “Mas tudo depende das escolhas dos alunos aqui dentro. Queremos mesmo é estimular a busca pelo conhecimento”, explica Anna.

 

Outra instituição internacional que já tem histórico em formar jovens talentos é a Escola Americana. Em Belo Horizonte, a diretora Catarina Song diz que o fato de a equipe de educadores ser composta também por norte-americanos e europeus já dá aos alunos uma visão diferente do que significa universalidade. “Nossos professores brasileiros comentam como a convivência com o diferente é importante para o crescimento dos estudantes. Cerca de 50% dos nossos alunos vieram de outros países, são mais de 20 nacionalidades diferentes. Investimos muito em atividades extraclasse”, diz Catarina Song.

 

Ludmila Helene Freitas, 26 anos: médica torrinolaringologista, ex-aluna do Colégio Militar de Belo Horizonte
 

Saudade da boina

 

Ela não gostava de estudar e precisou recorrer a professores particulares para pegar o ritmo da turma da 5ª série, assim que entrou no Colégio Militar. Mas Ludmila não se surpreendeu quando soube que a instituição que a “disciplinou” foi a escola pública de BH mais bem classificada no ranking do Enem este ano. “Tudo conspirava para que a gente se dedicasse ao máximo. A estrutura do exército era rigorosa, mas muito legal. Tinha aula de dança e hipismo. Até de usar a boina eu tenho saudade”, diz a médica, residente no Hospital das Clínicas da USP.

DICA: “Hoje sei o valor da palavra disciplina”.

 

 

A empresária Nelly Hong Val soube aproveitar bem o investimento feito pelos pais para que tivesse o diploma internacional da Escola Americana. Depois de se graduar em administração de empresas, ela foi para a Itália fazer mestrado em moda. “A escola me deu suporte para encarar o mundo. Morei em diferentes países e voltei a BH para abrir minha confecção”. Ela conta ainda que acaba de se tornar mãe e já está pesquisando sobre as melhores escolas da região onde mora: “Eu tive uma ótima formação e hoje me sinto realizada profissionalmente. Quero fazer minha parte para perpetuar isso”.

 

O percurso educacional escolhido pela médica Márcia Reis Guimarães para seus quatro filhos tem rendido muito orgulho a ela. “Mas se preparar para a vida não é fácil, é sempre uma aposta”, afirma. À semelhança dos outros três, a mais velha, Juliana Guimarães, foi alfabetizada em um colégio tradicional da capital mineira, o Dom Silvério. Depois, estudou da 5ª à 8ª série na Escola Americana, e as últimas séries, correspondentes ao ensino médio, na Fundação Torino. Fez medicina na UFMG, que era seu objetivo (está entre os vestibulares mais concorridos do país), e atualmente faz residência médica na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, uma das mais respeitadas instituições brasileiras na área.

 

Segundo Juliana, cada escola pela qual passou contribuiu enormemente para sua realização profissional. “Eu tive uma boa noção de como é o estudo brasileiro, o norte-americano e o europeu. Além disso, fiz intercâmbios e aprendi a me virar em ambientes diferentes. A gente se reinventa, é muito interessante”, diz a médica.

 

Daniel de Oliveira Malard, 35 anos, promotor de justiça, ex-aluno do Colégio Santo Antônio
 

Leitor voraz

 

Esportes, música e muita leitura. O trabalho como promotor é certamente a principal conquista do eclético Daniel, mas seus dias são ocupados por diversas outras atividades e habilidades que ele carrega desde pequeno. “No Santo Antônio, aprendi a viver sob pressão. Quando saí da faculdade, já estava preparado para estudar num ritmo de 14 horas por dia até passar no concurso que queria”.


DICA: “Desde a Coleção Vaga Lume (clássica série de livros infantojuvenis da Editora Ática), virei um leitor compulsivo. Devo isso aos primeiros professores”.

 

 

A afinidade na vida universitária se estendeu à vida profissional dos amigos Bruno Campos e Marcelo Fontes. O primeiro estudou no Santo Inácio de Loyola, e o segundo no Colégio Santo Antônio. “Somos dois nerds”, brinca Bruno. Mesmo com experiência relativamente pequena dos sócios, o escritório de arquitetura BCMF tem conquistado notoriedade. No mês passado, eles estiveram na cidade de Colônia, na Alemanha, para receber o SpecialPrize do prêmio COI/Iaks Award, na categoria Instalações Esportivas Especiais.

 

O projeto vencedor foi o Complexo Esportivo de Deodoro, localizado no Rio de Janeiro, preparado para os Jogos Panamericanos de 2007 já visando a candidatura para as Olimpíadas de 2016. Os “campeões” estão também na edição especial de aniversário de 25 anos da revista AU (Arquitetura e Urbanismo), que os coloca entre os 25 jovens arquitetos com até 40 anos de idade que terão um trabalho representativo da arquitetura brasileira.

 

“Eu morava perto da escola e ia para lá até fora dos horários da aula. Tinha um campo de futebol inesquecível no Loyola, enorme, eu adorava jogar bola e a escola era praticamente uma segunda casa”, diz Bruno. Sempre muito criativo, sua habilidade não se restringe aos desenhos; ele é também um grande contador de histórias: “No 3º ano, bolei a camiseta da turma que satirizava a rigidez do ensino com uma tirinha que dizia ‘Quem não cola não sai do Loyola’. Levei uma bronca pública do diretor no dia da formatura, mas como eu tinha acabado de vencer um concurso de cartunista colaborador do jornal Folha de S.Paulo, acabei me saindo bem”.

 

Cláudia Rocha, 26 anos: gerente de e-commerce da Eletrocell, ex-aluna do Colégio Santo Agostinho
 

Espírito de liderança

 

Só quem estudou no Santo Agostinho pode entender o significado da expressão “ir contra o agostinianismo”. “É que algumas regras tinham de ser seguidas: chegar atrasado, por exemplo, não podia de jeito nenhum”, conta Cláudia. Como poucos, ela aprendeu a questionar os limites e a criticar o que não lhe parecia correto. O espírito de líder a fez se destacar profissionalmente. Depois de se graduar em Comunicação pela UFMG, ela passou por grandes empresas como Globo e Ricardo Eletro, até comandar a equipe que cuida do site da Eletrocell.

DICA: “É importante estudar em um colégio que desperte o espírito de competição. Não para exames, mas para a vida”.

 

 

Marcelo Fontes também gosta de falar de seus tempos no Santo Antônio. “Eu lembro que era uma escola diferente das outras, não tinha chamada nem caderneta; quem quisesse sair da escola e passear no horário de aula, podia. Mas ninguém fazia isso, porque senão não acompanhava. Quem estava lá acabava tendo que se dedicar para valer”. Até hoje, o nível de exigência do Santo Antônio tem fama na cidade. Nas palavras do diretor, frei Jacir de Freitas: “O aluno que vem para o colégio sabe que vai ter que estudar muito. É claro que damos todo o apoio e suporte pedagógico para ele aprender. Mas a cobrança é inevitável”.

 

Outro aluno que enaltece o aspecto positivo da rigidez no ensino é o endocrinologista Rodrigo Lamounier. “Eu ia para o Santo Antônio de manhã, trabalhava à tarde, fazia inglês, estudava música... Era uma rotina agitada, cansativa, mas eu não me lembro de ter faltado à aula uma única vez. Era muito cobrado para que isso não acontecesse”, conta. Autor do livro Manual Prático de Diabetes e fundador do CDBH (Centro de Diabetes de Belo Horizonte), o médico atribui também à família o seu sucesso profissional: “A liberdade que tive para escolher os rumos da minha trajetória acadêmica culminaram em um autocuidado que me fez enxergar até onde eu poderia chegar. Meus pais sempre confiaram em mim. Eu tinha liberdade de ir onde quisesse, mas era cobrado pelos resultados”.

 

Rodrigo Lamounier, 37 anos: médico do Mater Dei e doutor em endocrinologia, ex-aluno do Colégio Santo Antônio
 

Doutor em diabetes

 

O exemplo da mãe, socióloga e ex-professora universitária, foi marcante. Autor do livro Manual Prático de Diabetes, que já está em sua quarta edição, foi professor visitante da Faculdade de Medicina da Universidade da Pensilvânia (EUA) por um ano, antes de concluir o doutorado na USP. Depois, teve experiência como executivo de uma multinacional do setor de saúde. Largou o alto salário, voltou para BH e montou sua própria clínica, especializada em diabetes. “Sou médico de consultório, não de escritório. Quero ajudar a melhorar a vida das pessoas”.

DICA: “Em casa, aprendi a ler jornais diariamente para entender o mundo em que vivemos”, diz. “Os pais precisam ensinar isso a seus filhos. Esse tipo de leitura ajuda a entender as diferenças entre as pessoas e as culturas”.

 

 

O incentivo que veio de casa e da escola teve reflexo direto na carreira de outro profissional belo-horizontino reconhecido em sua área, o professor universitário Bernardo Borges de Lima. Premiado pesquisador em matemática, ele concluiu em 2007 o pós-doutorado no Centrum voor Wiskunde en Informatica (Alemanha) e hoje, aos 36 anos, não para de estudar e planeja um novo pós-doc, dessa vez em Londres. “Desde pequeno, temos o costume de nos presentear com livros. Lembro que enciclopédias, atlas e mapas eram objetos muito comuns em nossa casa. Eu ficava vidrado, me interessava por tudo”. Do Loyola, Borges de Lima tem a nítida lembrança da professora Imaculada, que dava aula de português para o 1º ano do ensino médio: “Eu já era apaixonado por números, tanto que sempre participava de olimpíadas de matemática, mas nessa época eu aprendi o quanto é importante dominar o português. Para saber calcular, preciso saber interpretar e me expressar”.

 

De acordo com a diretora do Loyola, Sônia Magalhães, a pretensão do colégio é colaborar com as famílias: “Oferecemos uma educação que prima pela formação acadêmica, mas também queremos formar jovens capazes de diálogo, reflexão e sensibilidade social. Nossa experiência nessa linha vem desde os seminários de sociologia, filosofia e teologia oferecidos no ensino médio”, conta a professora.

 

Paula Pimenta, 32 anos: escritora, ex-aluna do Colégio Sagrado Coração de Jesus
 

De leitora a escritora

 

A personagem do primeiro livro que Paula publicou era de um colégio de freiras. Isso demonstra o quanto o colégio foi marcante? “Sim!”, responde prontamente. As aulas de literatura da professora Mariane estão, segundo a escritora, diretamente ligadas à sua produção. Ela levou tanto a sério a dica para gostar de ler que virou rata de biblioteca. Hoje, seus livros são adotados em várias escolas, inclusive no Sagrado. “Recebo centenas de e-mails de leitores e penso o quanto sou fã do meu ex-colégio”, diz.

DICA: “Antes de procurar a melhor escola, procure os melhores professores”.

 

 

Mesmo reconhecendo que rankings como o do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) são importantes, o diretor Educacional Corporativo do Colégio Santo Agostinho, Francisco Morales, enfatiza que a formação humana tem valores que não são mensuráveis em testes. Com ótimos resultados nos últimos vestibulares, Morales diz que a conquista maior da escola é proporcionar a autonomia, a responsabilidade e o “protagonismo” da própria formação: “Quero formar cidadãos críticos e criativos”, diz.

 

Talvez sem ter ideia de o quanto o objetivo da direção do colégio foi alcançado, Cláudia Rocha cita essas duas características como parte de sua personalidade. “No Santo Agostinho, aprendi a me virar sozinha, a estimular minha criatividade e a ter valores que vou querer repassar para os meus filhos. Lá eles priorizam a construção do ser humano como um todo. Lembro que a aula de religião era meio uma aula de psicologia”, diz.

 

Otávio Nunes, 32 anos: geólogo da Petrobrás, ex-aluno do Cefet-MG
 

Conviver com bons exemplos

 

O aluno questionador que optou por fazer o curso de técnico em estradas no ensino médio não imaginava que, a partir de então, teria escolhas tão positivas para fazer ao longo da carreira. Aos 17 anos, preferiu trabalhar em uma grande ferrovia e postergar por um ano o curso de geologia na UFMG. Logo que terminou a graduação, fez mestrado e focou em concursos. Quando foi chamado pela Petrobras, em 2006, soube que tinha passado em 1º lugar no doutorado da UNB. Hoje, viaja para vários países para pesquisar sobre o pré-sal, inclusive para a Namíbia (foto). “Fiz um grande sacrifício para chegar onde estou. Não há conquista sem ralação”, diz.

DICA: “Há um fator que foi primordial na minha vida: convivi com um grupo muito inteligente. É importante ter amigos que te estimulem, que sejam bons exemplos”.

 

 

A “culpa” pela personalidade forte e o perfil de quem sempre quer mais e acredita em seu próprio potencial, é, para o promotor Daniel de Oliveira Malard, herança do Colégio Santo Antônio: “A estrutura de dar responsabilidade e de cobrar comprometimento fez com que eu enxergasse meus limites. Hoje, tomo decisões muito sérias, como soltar ou não um preso, com certa tranquilidade e confiança. Isso eu não aprendi na faculdade. Conquistei na época do colégio”.

 

Já a médica Ludmila Helene Freitas, de 26 anos, diz que disciplina é a palavra que marcou sua infância e adolescência. “No Colégio Militar tudo era impecável, ninguém saía da linha, nós todos respeitávamos as hierarquias. É o tipo de formação essencial para quem, como eu, precisava de conduta”, conta. O coronel Ricardo Souza Netto, diretor do Militar, confirma que uma das principais características do colégio é postular o cumprimento de regras. “Pautamo-nos pelos princípios e valores do Exército Brasileiro para favorecer o aprendizado”, diz. “Não podíamos nem mascar chicletes em sala de aula”, recorda Ludmila.

 

Os amigos que fez enquanto estudou no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) estão entre as principais referências que Otávio Nunes tem de Belo Horizonte, onde viveu grande parte de sua juventude. Hoje ele é geólogo na Petrobrás e mora em Vitória (ES), onde trabalha com campos do pré-sal. “A gente formava grupos muito unidos para estudar. Como a aula era em tempo integral, convivíamos muito de perto. E, por ser uma escola pública, tinha alunos de diferentes regiões da cidade, gente rica, gente pobre. Todo mundo estava ali com o mesmo objetivo”, diz.

 

Os arquitetos Marcelo Fontes, 39 anos, ex-aluno Colégio Santo Antônio e Bruno Campos, 40 anos, ex-aluno do Colégio Loyola
 

O mineirão é deles

 

O projeto executivo da reforma do Estádio do Mineirão para a Copa de 2014 é do escritório de arquitetura de Bruno e Marcelo, o mesmo que recebeu o prêmio Coi/Iaks Award (Alemanha) pelo projeto do Complexo Esportivo de Deodoro (RJ). Além de bem-sucedidos e da sociedade no trabalho, eles têm em comum a passagem por colégios tradicionais de BH.

DICA: “A escola de ensino médio e fundamental é que faz a diferença. Ela tem de ensinar regras claras de disciplina, seriedade e respeito”, afirma Bruno. “No Santo Antônio, sempre tive muita liberdade. Saber usufruir isso com responsabilidade é o objetivo a ser alcançado. Aprendi isso na escola”, diz Marcelo.

 

 

A escritora Paula Pimenta certamente não teria escolhido essa profissão se não fosse uma ávida leitora desde que aprendeu o significado das letras. E sua maior recordação do Colégio Sagrado Coração de Jesus é a biblioteca, como não poderia deixar de ser. “Lembro-me de uma sala enorme, eu tinha vontade de ler tudo, para depois comentar com os professores. Alguns ficavam dando dicas nos corredores. Uma vez, até ganhei um presente por ser a aluna que mais gostava de ler”.

 

De alguns desses professores Paula se tornou amiga, tem as melhores recordações. Para a atual diretora da escola, Regina Folsta, o incentivo à leitura é essencial para conseguir trilhar uma carreira de sucesso: “A escola ideal é, antes de tudo, afetiva com os alunos. Educadores de verdade se envolvem ao máximo com o aprendizado, não só em sua disciplina. Fórmula para o sucesso dos alunos eu nem acredito que exista, mas parto do princípio de que é a escola que ajuda a abrir as primeiras portas”, diz a diretora. Portas essas que, no futuro – se a base escolar for sólida –, dão passagem para exitosos caminhos que se fecham com chaves de ouro.

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