A economia mineira continua crescendo a taxas superiores às do Brasil. Em linhas gerais, 2011 não pode ser visto como um ano ruim, apesar, claro, de estar longe do boom observado no ano anterior, quando o Produto Interno Bruto (PIB) do país aumentou 7,5%. Até o segundo trimestre deste ano (últimos dados oficiais), o PIB mineiro cresceu 4,4%, ante 3,5% do Brasil. Setores importantes da economia do estado, como a mineração, metalurgia e siderurgia, apresentaram bons números de faturamento e investimento. Aos poucos, a tão defendida diversificação da economia vai se tornando menos distante. Além disso, a Copa de 2014 e o que dela surgirá para a capital também são boas notícias para o estado.
Mas é bom não deixar o otimismo contaminar. A expectativa é de que, no próximo ano, as coisas comecem a ficar mais difíceis. A crise econômica mundial, sobretudo na Europa e Estados Unidos, deve ter impacto maior no Brasil em 2012. Para Minas, com uma economia altamente voltada para o exterior (o mercado interno absorve apenas 10% da produção de commodities como o minério de ferro), esse fato tem maior gravidade. Nos dez primeiros meses deste ano, as exportações mineiras cresceram 36,8%, enquanto que, no mesmo período, o saldo comercial (diferença entre as vendas ao exterior e as importações) aumentou 42,2%. Resumindo: se a crise for mesmo muito forte lá fora, esses números tendem a cair fortemente, impactando toda a cadeia produtiva mineira.
MINERAÇÃO
Ano de muitas mudanças
Poucos setores da economia resumem tão bem o quadro mineiro quanto a mineração. Este ano foi repleto de mudanças significativas, com a entrada e o fortalecimento de novos atores. Mais importante, a demanda ainda aquecida – principalmente pela locomotiva chinesa – levou o preço das commodities às alturas, com impactos favoráveis sobre o faturamento das empresas. O preço do minério de ferro, por exemplo, bateu na casa dos US$ 190 a tonelada. “O problema é que a crise na Europa, se não for muito compensada pela China, deverá levar esse preço para US$ 140 a US$ 150”, alerta o empresário Olídio Carlos Blanc Gomes, um dos sócios da LGA Minerações e Siderurgia.
Fábrica da Usiminas em Ipatinga: em 2011, siderúrgica mineira mudou de mãos e entrou firme no mercado de mineração |
O maior destaque do segmento veio da Usiminas, tradicional siderúrgica mineira que está entrando firmemente na mineração. A subsidiária do grupo na área adquiriu uma leva de mineradoras no estado. No mês passado, concluiu a compra da Mineração J. Mendes, da Siderúrgica Oeste de Minas Gerais (Somisa) e da Global Mineração, por US$ 100 milhões. Além disso, a Mineração Usiminas (Musa) comprou ativos, dentre eles imóveis e direitos referentes a um título minerário em Serra Azul, Minas Gerais, por meio da aquisição da Mineração Ouro Negro. O valor da operação foi de US$ 367 milhões.
Vinte anos depois de ser privatizada, a empresa de Ipatinga mudou de mãos novamente. O grupo siderúrgico Ternium, do conglomerado ítalo-argentino Techint, desembolsou R$ 4,1 bilhões por 27,7% do capital votante da empresa. Com isso, o controle da siderúrgica mineira passa a ser dividido entre os recém-chegados italianos e a japonesa Nippon Steel, acionista da companhia desde 1991. Especialistas no setor ouvidos por Encontro acreditam que o negócio foi bom para ambas as partes. A Usiminas deixa de ter dois sócios – Votorantim e Camargo Corrêa — pouco interessados na indústria do aço, e ganha um parceiro com experiência de 40 anos no setor. Para a Ternium, por sua vez, a entrada na Usiminas é a oportunidade de enfim entrar no mercado brasileiro – o melhor da América Latina. O grupo tem duas unidades no México e uma na Argentina.
VEÍCULOS
De novo na liderança
Mais um ano de liderança para a Fiat Automóveis. Em novembro, por exemplo, a empresa emplacou mais de 66 mil unidades, bem à frente da Volkswagen, segunda colocada, com pouco mais de 60 mil – GM (55,9 mil ) e Ford (27 mil) vieram em seguida. Nos 11 primeiros meses do ano, foram emplacados pouco mais de 3 milhões de carros, expansão de 4,4% em relação a 2010 – o setor surpreendeu até os mais otimistas, já que, no início do ano, a expectativa geral era de queda nas vendas.
Mas o grande destaque da Fiat veio da sua subsidiária de caminhões, a Iveco. A empresa inaugurou sua concessionária número 100 no país. O número, simbólico, reflete a expansão da empresa nos últimos cinco anos. Em dezembro de 2006, por exemplo, a rede somava 52 revendas no Brasil. Ou seja, até chegar à centésima, a Iveco inaugurou uma média de 10 novas concessionárias a cada ano.
Marco Mazzu, presidente da Iveco Latin América, empresa que está em plena expansão no Brasil: “O momento é excelente para o segmento no país” |
Para o próximo ano, há dois cenários projetados pela Iveco. Em razão da crise internacional, o quadro otimista prevê estabilidade nas vendas, enquanto o pessimista fala em queda de 10% na comercialização de caminhões. “O momento é excelente para o segmento no país, mas há os fatores específicos que devem atrapalhar um pouco, como os problemas financeiros da Europa e Estados Unidos”, resume o presidente da Iveco Latin America, Marco Mazzu.
Entre janeiro e setembro, a Iveco emplacou 10,7 mil caminhões no país, ou 32% a mais do que em 2010. O detalhe é que o mercado como um todo cresceu bem menos em vendas, com alta de 15,6% – menos da metade.
AÇÚCAR E ÁLCOOL
É preciso melhorar
Ou o governo federal anuncia um plano de redução de impostos para a indústria de açúcar e álcool ou o setor corre sérios riscos. A ameaça é de empresários do segmento, capitaneados pelo Sindicato da Indústria de Açúcar e Álcool de Minas Gerais (Siamig). “Praticamente metade dos protocolos de intenção de novas usinas não saiu do papel”, diz o presidente do Siamig, Luiz Custódio Cotta Martins. O setor está também estagnado na principal região produtora do estado, o Triângulo Mineiro.
A crise internacional foi mais que uma marolinha: “Metade das intenções de investimento em novas usinas não saiu do papel”, diz Luiz Custódio Cotta Martins, presidete do sindicato do setor |
Minas recebeu 23 novas usinas nos últimos oito anos, mas a coisa começou a mudar a partir do fim de 2008, quando a crise ganhou força nos Estados Unidos, espalhou-se pela Europa e ganhou todo o mundo. Segundo Custódio Martins, há três problemas básicos: um, é a própria crise internacional; outro, a política tributária em Minas (o ICMS sobre o etanol, por exemplo, é de 22% no estado, ante 12% em São Paulo); por fim, ele reclama da não definição de um marco regulatório para inserir os derivados da cana na matriz energética brasileira. “O problema tributário a gente está superando, já que o governo estadual vai reduzir, no próximo mês, o ICMS para 19%”, afirma o presidente do Siamig.
Havia a expectativa de que pelo menos 140 usinas fossem implantadas até 2015. Agora, essa projeção é de 93. Os projetos já iniciados e em fase inicial também estão sob suspensão, esperando uma melhor definição do cenário econômico.