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Estado de Minas

O furacão das agulhas


postado em 06/03/2012 10:52

A médica Jandira Mourão, recordista em aplicações de botox, segura o símbolo da pele perfeita(foto: Cláudio Cunha, Eugênio Gurgel, Júnia Garrido, Divulgação)
A médica Jandira Mourão, recordista em aplicações de botox, segura o símbolo da pele perfeita (foto: Cláudio Cunha, Eugênio Gurgel, Júnia Garrido, Divulgação)

Não faz muito tempo quando, no meio de uma consulta médica, o celular da paciente tocou. “É meu marido”, disse ela para a oftalmologista Jandira Mourão, que se preparava para aplicar na cliente a toxina botulínica (comumente conhecida como “botox”). “Então atenda”, disse-lhe a médica. “Onde você está?”, perguntou-lhe o marido, em tom enérgico. “Estou na consulta com a doutora Jandira”, respondeu-lhe a mulher-paciente. “Mas são quase 23 horas. Só pronto socorro funciona neste horário. Estou indo aí”, disse o marido, que desligou, sem aguardar resposta.

 

Constrangida, a paciente desculpou-se com a médica: “Meu marido está desconfiado, resolveu vir aqui”. Jandira reagiu com tranquilidade: “Que ótimo; é bom que ele também vai me conhecer. Quem sabe acaba se tornando meu paciente também?” Quando chegou ao consultório da médica, o marido não só encontrou a mulher, como também outras oito pacientes que aguardavam na sala de espera. Todas em perfeito estado de saúde, mas ávidas pelos cuidados estéticos da rainha do botox.

 

O episódio ilustra um pouco do perfil da médica Jandira Mourão Coscarelli, 51 anos, um fenômeno quando o assunto é botox. O consultório da médica, que atende a 70 pacientes num único dia, vive abarrotado de gente. Nos horários de pico das segundas e quartas-feiras (dias reservados exclusivamente para fazer aplicação da toxina), é comum ver gente sentada nos corredores e até na escadaria contígua ao elevador do 14º andar do prédio onde funciona sua clínica. Para dar conta de tanta demanda, o intervalo entre uma consulta e outra é de apenas 10 minutos. Os retornos (quando os pacientes voltam para uma simples conferência da médica) são marcados a cada cinco minutos.

 

Para não perder tempo, a cadeira de aplicação do botox, no consultório de Jandira, fica ao lado da porta que dá acesso à sala de espera. Quando o atendimento de um paciente acaba, a própria médica abre a porta e diz: “Entre o próximo”. Quase todos os dias da semana, à exceção da sexta-feira, a médica atende até as 22h. Isso em meses normais, porque quando chega dezembro... “Todo mundo quer fazer aplicação para ficar bonita no Natal”, diz Jandira. “Nesse período, costumo sair depois da 1h da manhã”.

 

Falante e animada, Jandira é, inegavelmente, uma mulher dinâmica. Parece alimentar-se de toda a agitação de sua clínica e daquele entra-e-sai de gente. Com agenda lotada e tudo marcado sem maiores intervalos, o paciente pode esperar até meia hora para ser atendido nos dias mais concorridos. Mas arrisque perguntar para os clientes de Jandira se eles ficam incomodados com tanta correria – e espera. “Que nada”, diz a arquiteta Andréa Sarayva, 42 anos. “Tudo é compensado pela excelência do serviço”.

 

O bilionário Eike Batista, que aplica botox com a mineira duas vezes por ano, em BH: "Ela dá aquela atenção diferenciada dos médicos que têm carinho pelos pacientes"
 

 

De tão intensa, a sala de espera da clínica de Jandira é uma verdadeira festa. Lá, funciona uma espécie de Facebook de carne e osso. Todo mundo fica sabendo dos babados e novidades que envolvem, principalmente, as mulheres da alta roda da cidade. Segundo a médica, já saiu até casamento de gente que se conheceu ali. “Um dia, quero escrever um livro só com as histórias da sala de espera”, diz Jandira. “Acontecem coisas que ninguém acredita. Há episódios engraçadíssimos”.

 

Nas terças e quintas-feiras, ela se dedica mais aos trabalhos oftalmológicos. Faz exclusivamente cirurgia de pálpebra – ou, como é chamada, plástica palpebral. Também nesse quesito Jandira é bastante popular. Sua agenda para 2012, por exemplo, já está completamente lotada até o fim do ano. No caso das aplicações de botox, a despeito de toda a procura, ela consegue encaixar novos pacientes com, no máximo, 30 dias do pedido de consulta. Como oftalmologista, embora reconhecida, Jandira não tem o renome que conquistou com o botox, atividade que foi pioneira no país e hoje é referência internacional. “Ela foi precursora da prática no Brasil”, diz outro reputado médico mineiro, o dermatologista Gabriel Gontijo. “Somos concorrentes, mas reconheço: ela é um fenômeno”.

 

Com os três dias semanais em que se dedica ao botox, Jandira atende a aproximadamente 200 pessoas por semana, ou cerca de 8 mil por ano, o que faz dela a número um do Brasil na aplicação da substância. Ela só não atende quando está participando de congressos ou quando está esquiando com a família, esporte que não deixa de praticar, todos os anos. Mas, mesmo nesses períodos, não desliga nunca o celular. Está sempre ligada. “Há muitos anos sou quem mais utiliza a toxina botulínica no país, e desde 1995 sou a recordista na compra de frascos da indústria”, diz ela.

 

Tida como perfeccionista e obcecada pelo trabalho, até recentemente ela atendia todos os sábados. Por insistência da família, hoje reservou os fins de semana para descansar em sua fazenda no município de Rio Acima, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde se dedica à criação de carneiros.

 

“Além de pioneira, ela é a maior pesquisadora da toxina no país, com imenso conhecimento nessa área e, por isso, acabou sendo esteio de muitos profissionais da área estética”, afirma o cirurgião plástico Amaury Cançado Travaglia, outro fenômeno mineiro em aplicação do botox . “Eu aprendi muito com ela, que sempre foi muito aberta com os colegas. Também admiro o fato de ela não ter abandonado a oftalmologia, diante de todo o sucesso que conquistou na área estética”, afirma Travaglia, o número 2 em aplicação da toxina botulínica em Minas (veja box), perdendo apenas para Jandira, a campeã no Brasil.

 

A médica entre os filhos Gianino e Gabriella, e o marido, Giambatista Coscareli, que também é oftalmologista, no jardim da casa da família: "Meus filhos se tornaram pessoas maravilhosas a despeito de minha ausência", diz ela
 

 

O pioneirismo da pesquisadora mineira começou no final década de 1980, com um rumor que se espalhou como fogo em feno seco: “Uma médica está aplicando algo que some com as rugas”. Era o que mais se comentava entre as mulheres, principalmente. Já entre o meio médico, reinava a desconfiança: “Quando eu comecei a mexer com isso, todo mundo me chamava de doida”, afirma Jandira. “Eles diziam que não iria dar em nada”. Mas ela acreditou no produto e mergulhou nos estudos.

 

Formada em oftalmologia pela UFMG, começou um estudo de pós-graduação (Fellow) no Hospital São Geraldo com o catedrático em estrabismo Henderson de Almeida, que a encorajou a usar a toxina para determinado tipo de estrabismo, a exotropia intermitente. A substância, que na época era chamada de Oculinum, ainda precisava de liberação do FDA (Food and Drug Administration) nos Estados Unidos. Pesquisadores de outros países já estavam notando tal efeito curioso nos pacientes tratados com a toxina.

 

“Passei a testar nas mulheres dos pacientes, nas enfermeiras e até em mim mesma. Quando vi, tinha uma multidão de gente querendo a aplicação, que na época no país não se conhecia nem o nome”, conta Jandira. Em 1989, a Allergan comprou os direitos de comercializar a droga com aprovação do FDA e a batizou de Botox, uma marca, portanto, comercial, mas que depois se tornou sinônimo da substância a que dá nome (toxina botulínica). “Hoje, todos os médicos que me chamaram de doida aplicam a toxina”, diz ela.

 

Na carteira de clientes da médica Jandira figuram centenas de mulheres – e homens – da alta sociedade mineira, além de políticos de alto escalão (que preferem o anonimato) e muitos, muitos empresários conhecidos. Entre eles, a estilista Elisa Atheniense e a pecuarista e uma das donas da Andrade Gutierrez, Cristiana Gutierrez. “Ela é caxias desde a escola”, conta Cristiana, colega de Jandira dos tempos de Colégio Loyola, e hoje paciente da médica, que também atende as duas filhas de Cristiana. “Ela é muito obstinada no que faz”, diz a empresária. “Impressionam-me a força de vontade dela, a disponibilidade a qualquer hora e o embasamento científico”.

 

Há oito anos paciente de Jandira, Elisa Atheniense atualmente passa poucos dias em Belo Horizonte. Na correria entre Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Nova York e São Paulo, ela tem de contar com a disponibilidade a qualquer hora para tratamentos faciais. “São sempre em horários malucos: tarde da noite ou finais de semana, pois minha agenda é tão cheia quanto a dela”, conta a estilista mineira. As indicações e doses recomendadas pela médica são seguidas à risca. “Ela é atualizadíssima, conhece todas as novidades e sabe o que faz: as pacientes dela nunca ficam com cara de boneca”, diz Elisa.

 

Amiga da médica desde os tempos de Colégio Loyola e cliente de longa data, a empresária Cristiana Gutierrez destaca um dos motivos do sucesso de Jandira: "Ela sempre foi caxias e muito obstinada no que faz"
 

 

Uma das pacientes mais antigas, a empresária Maria Regina de Araújo Melo, 63 anos, habituou-se a colher a opinião da médica para qualquer procedimento estético que deseje realizar “A dra. Jandira já me falou ‘não’ muitas vezes”, afirma. “Nisso, eu sou taxativa”, diz Jandira. “Se eu achar que não vai ficar bem, não faço. Muitas pacientes já saíram nervosas daqui porque eu me recuso a atender apenas caprichos”. Uma das fantasias mais procuradas é a de querer lábios como os de Angelina Jolie. “Já tive paciente com mais de 80 anos que veio aqui querendo uma boca como a da atriz”, conta. Mas, felizmente, segundo a médica, os casos de falta de senso estão se tornando cada vez mais incomuns. “As pessoas estão aprendendo que os resultados naturais e imperceptíveis são sempre os melhores”, afirma.

 

A maioria absoluta dos clientes, é bem verdade, ainda são mulheres. Mas cresce a cada ano o percentual de homens. Atualmente, perto de 30% dos pacientes de Jandira são do sexo masculino. O mais famoso deles é o empresário Eike Batista “Xiaoping”, homem mais rico do Brasil. Primeiramente, Jandira operou as pálpebras de Eike, depois começou as aplicações de botox. Pelo menos duas vezes por ano, todos os anos, ele vem do Rio de Janeiro para ser atendido por Jandira. “Eu procuro a excelência em tudo e a Jandira é uma dessas raras profissionais absolutamente ‘fora da curva’”, revelou Eike a Encontro. “Além disso, ela dá aquela atenção diferenciada dos médicos que têm carinho pelos pacientes. É única!”, afirma.

 

Recentemente, Eike Batista decidiu montar no Rio de Janeiro uma luxuosa clínica de estética, chamada Beaux, para que sua namorada, Flávia Sampaio, a administrasse. Tudo foi feito mediante orientação e treinamento de dois médicos mineiros, Gabriel Gontijo e Jandira Mourão.
Casada há 29 anos com o também oftalmologista Giambatista Coscarelli, mãe de dois filhos – o engenheiro mecânico e esportista Gianino, 28 anos, e a advogada Gabriella, de 24 –, Jandira é usuária dos produtos que vende. Usou botox pela primeira vez aos 30 anos como cobaia de si mesma e nunca mais parou. Ela própria se aplica. Numa única vez, experimentou fazer com um famoso médico americano. Não gostou, e nunca mais voltou. Sua filha Gabriella também usa o produto desde os 18 anos. Já Gianino passa longe. “Ele é atleta, nem liga para isso”, diz a mãe.

 

No marido Giambatista, a médica lista três grandes qualidades: “O bom humor, a garra e a rapidez com que toma decisões”. O fato de a família nunca almoçar junta e de a “dona de casa” estar sempre ausente é recompensado em viagens. Pelo menos uma vez por ano, o casal e os filhos vão esquiar. “Eu realmente não vi meus filhos crescerem, isso me dá uma dor no coração”, diz ela. “Mas também descobri que filho não precisa necessariamente de mãe para se desenvolver. Os meus se tornaram pessoas maravilhosas a despeito de minha ausência”.

 

Rica e bem-sucedida, Jandira não trabalha exclusivamente por dinheiro. Pelo contrário. Faz questão de atender gratuitamente pacientes enviados pela secretaria de Estado da Saúde. São 150 pacientes fixos que tiveram paralisia facial e outras síndromes, como o caso da professora Neide do Carmo Mingote: “Meu rosto está praticamente perfeito graças a ela. Antes, tinha vergonha até de trabalhar”, afirma.

 

Mas, hoje, o uso estético do botox é incontestavelmente maior do que o terapêutico. O valor cobrado no consultório de Jandira varia de acordo com a quantidade usada em cada ponto de aplicação, de R$ 65 a R$ 85. “Tenho pacientes de todas as idades; a mais nova tem 16. Quando bem indicado, pode, sim, ser feito até na infância”. O procedimento que mais realiza atualmente é levantar os supercílios com uma técnica que ela desenvolveu e que ensina em congressos e encontros de aplicadores de todo o Brasil. “Aplicar toxina é uma arte”, diz. “Mas meu maior segredo é a discrição: ninguém desconfia quem são meus pacientes”.

 

Mesmo com a pele lisa como pêssego, sem rastro de manchas ou rugas, Jandira diz não ser vaidosa. “Nunca pintei meus cabelos”, afirma. A vaidade, ela diz, é só com a profissão. É por isso que, mesmo com 20 anos de experiência na medicina estética e com cursos específicos na Itália (Milão), Argentina e outros países, ela ainda quer pleitear uma bancada para que obtenha o título em dermatologia. “Quero estar sempre na vanguarda”, diz. Para isso, Jandira se prepara para anunciar nos próximos meses o resultado da criação de um ativo (de diferentes fórmulas de acordo com a pele) para ser utilizado com o mais moderno laser para rejuvenescimento da atualidade. Rugas, temei! Porque a rainha do botox está vindo aí!

 

 
 
 

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