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Estado de Minas

Carteira cheia no futuro


postado em 09/10/2012 10:35

A arquiteta Ana Carolina Matos abriu a primeira poupança aos 10 anos(foto: Eugênio Gurgel, Cládio Cunha, Gaspar Nóbrega/Light Press, Geraldo Goulart, Júnia Garrido)
A arquiteta Ana Carolina Matos abriu a primeira poupança aos 10 anos (foto: Eugênio Gurgel, Cládio Cunha, Gaspar Nóbrega/Light Press, Geraldo Goulart, Júnia Garrido)

O mercado financeiro ainda é um bicho de sete cabeças para muita gente. Expressões como renda fixa, renda variável, fundos de investimento, ações e debêntures costumam afastar parte do público leigo que até gostaria de investir nesse universo misterioso, mas acaba desistindo ao se deparar com a complexidade do assunto. Não é o caso dos jovens. Ousada e sem medo de arriscar, parte da garotada de 20 e poucos anos (ou até mais nova) tem se aventurado na arte de investir, mesmo sem experiência. Assim como ocorre com profissionais tarimbados, não acertam todas – mas conseguem transformar erros em lições. É sempre bom lembrar que, nesse mercado – e mesmo para os jovens –, um pouco de cautela não faz mal para ninguém.

 

Exemplo da ousadia típica da juventude foi a primeira incursão do economista Daniel Prado, 22 anos, na bolsa de valores. Sem ter experiência, decidiu começar a aplicar aos 17. Na época, a Bovespa vinha de anos subindo, e tanto a mídia quanto os amigos comentavam que o setor estava valendo a pena. Interessado na dinâmica do mercado e em ganhar dinheiro, ele acompanhou a empolgação e, após ler alguns livros e consultar a internet, começou a comprar e vender ações. De fato, a temporada foi boa para os ousados, e ele acertou em quase todas as apostas. “Achava que era expert”, conta, lembrando-se do baque posterior.

 

O engenheiro Gabriel Ferreira, 24 anos, estabeleceu objetivos claros: “Quero ter independência financeira e viver em um padrão de vida estabelecido por mim”
 
 

Em 2008, a crise mundial veio com força e Daniel, que tinha acabado de entrar na faculdade de economia, justamente pelo interesse nesse mercado, perdeu parte do dinheiro que investiu. “Nesse sentido, a crise foi importante: mostrou que não era tão fácil assim”. Agora graduado, explica que, de 2008 a 2011, ganhou mais conhecimento do que dinheiro e, hoje, tem uma mentalidade menos imediatista: evita o antigo hábito de acompanhar e fazer movimentações diariamente, além de diversificar as aplicações para títulos do governo e fundos multimercado. Ainda assim, em seu portfólio, investimentos em ações (os de risco mais alto) representam cerca de 40%, o que não é tão convencional. “Sempre gostei de ter uma parcela alta em ações. Mesmo que os preços caiam, tenho possibilidade de esperar que voltem a subir.”

 

 
 

Como a idade é um fator de peso nas escolhas dos jovens, produtos de rentabilidade alta, porém mais arriscados, tornam-se atraentes para pessoas de até 30 ou 35 anos. E a bolsa de valores pode se tornar uma armadilha para os interessados em dinheiro rápido. O gestor de investimentos da HH Picchioni, Paulo Henrique Amantéa, explica que há muitos jovens afoitos, que se acham autossuficientes e arriscam em excesso, inclusive comprando papéis de “micos” — empresas com menor liquidez, cujas ações costumam ter preços baixos, em torno de R$ 1. “Para se ter uma ideia, 90% dos jovens que entram na bolsa saem em um ano”, diz. O gestor alerta que até mesmo esse público deve ter paciência e estratégias para operar, além de acompanhar o noticiário nacional e internacional. “Muitos jovens só descobrem isso depois que já entraram no mercado ou que já perderam dinheiro”, diz Amantéa, ressaltando que pessoas de até 35 anos representam 25% dos clientes da corretora, número que vem crescendo de 10% a 15% desde a crise.

 

O engenheiro químico Gabriel Ferreira, 24 anos, fez o caminho contrário da maioria e começou a investir na bolsa assim que ela atingiu os 29 mil pontos – o fundo do poço. Sabendo das “pegadinhas” das ações, preparou-se: fez cursos e estudou. “A bolsa é um investimento arriscado e requer bastante conhecimento. Procuro sempre acompanhar as notícias do mercado, principalmente por meio da internet e de programas especializados. A newsletter que recebo também ajuda a resumir o que há de mais relevante no setor”, conta. Além das aplicações na bolsa, Gabriel tem títulos do Tesouro Direto, fundos imobiliários e multimercado, bem como previdência privada. Com a diversidade de aplicações, consegue poupar e ter um fluxo mensal de renda, balanceando opções mais arriscadas e outras mais conservadoras. “Meu objetivo é ser independente financeiramente, ter a tranquilidade de viver em um padrão de vida estabelecido por mim e a liberdade de fazer escolhas de uso do meu tempo”.

 

Daniel Prado, 22 anos, investe 40% de seu dinheiro na bolsa: “Gosto de ter uma parcela alta em ações, porque ainda sou novo e posso correr mais riscos”
 
 

Para Marlene Kraus, professora da pós-graduação em administração de empresas da FGV/Ibs, ousadia não é tudo entre os jovens. Muitos se preocupam com o futuro cada vez mais cedo, buscando informações sobre como fazer o dinheiro render em longo prazo. “Os jovens sabem que vai chegar o momento em que precisarão da renda. Se estão acostumados a viver com mais dinheiro do que a que aposentaria proporciona, será uma grande perda de nível de vida, caso não tenham investimentos com retorno”, explica, ressaltando que já vê alguns investindo, inclusive, em imóveis. “O comportamento conservador é uma característica da população no geral, pois ninguém quer perder, e isso também se reflete nos jovens”.

 

No caso da arquiteta Ana Carolina Matos, 30 anos, a consciência da necessidade de poupar veio cedo: ela abriu a primeira poupança aos 10 anos, com o dinheiro que economizava quando os pais lhe davam algum trocado para o lanche, cinema e outras atividades. Assim, juntou o valor mínimo necessário na época, R$ 50, e fez o investimento com o CPF da mãe. “A poupança foi a origem das outras aplicações que tenho hoje. Foi muito bom poupar, pois eu não precisava do dinheiro quando era adolescente e creio que, quanto mais jovens iniciarmos nossos investimentos, melhor”. Com o dinheiro da poupança montou seu escritório e o apartamento. E não só na poupança ela foi precoce. Aos 19, decidiu abrir a previdência privada. “Acredito que meu ganho maior será com o tempo: aos 65 anos, já serão 46 de aplicação”, diz a arquiteta, que tem aplicações em CDB, fundos multimercado e de ações. Ana também está apostando nos imóveis.

 

 
 

Para quem já tem um negócio, considerar o futuro da empresa é importante na hora de se montar a carteira de investimentos. A empresária Mariana Silva, 25 anos, lida de formas diferentes com as aplicações pessoais e aquelas destinadas à empresa, uma confecção de roupas. Para uso pessoal, o dinheiro se divide em previdência privada, poupança e um consórcio entre amigos. Já para a empresa, ela aplica em fundo de renda fixa e no consórcio de um carro. “É algo mais formal do que o consórcio entre amigos, pois é para poupar dinheiro para a empresa, que não pode ter problemas”, explica. Mariana se descreve como conservadora, perfil que justifica por ter tomado a frente da confecção em um momento difícil. “Em vez de fechar o negócio que meu pai começou, decidi assumi-lo. Acho que, por ter vivido essa crise e assumido uma empresa no vermelho, tenho mais prudência”, diz ela, que prefere ter algum dinheiro na poupança para resgate rápido, pois fica de olho em oportunidades de novos negócios.

 

A internet é uma forte aliada das gerações mais novas, que têm familiaridade com tecnologias e com a web e podem buscar conhecimento em portais especializados, sites de notícias, corretoras, Bovespa, etc. Outra facilidade do mundo digital, para os investidores, é o home broker, sistema que permite a negociação de ações via internet, o que economiza dinheiro e o contato direto com a corretora para cada movimentação. “A meninada opera com o home broker, em que se paga menos por cada operação e que pode ser usado de casa”, afirma Paulo Henrique Amantéa. Ele alerta que, apesar da facilidade, é importante saber onde há informações sólidas sobre o mercado na rede. “Fóruns de internet, por exemplo, têm muita especulação e dicas erradas. É interessante visitar portais de entidades com credibilidade”, diz.

 

 A empresária Mariana Silva, 25 anos, se descreve como conservadora. Por ter assumido 
a confecção de roupas fundada pelo pai, tem muita prudência nos investimentos
 
 

Com tantas possibilidades de aprendizado e experiência, os jovens têm, muitas vezes, superado os próprios pais em termos de educação financeira. O estudante de economia Paulo Mesquita, 21 anos, fez cursos de investimento, frequentou palestras e já aplica seu dinheiro por conta própria há dois anos, quando tirou toda a renda que tinha em uma poupança criada pela avó e começou a reinvestir, por achar que não valia mais a pena. Hoje, além de cuidar de sua renda — investe em previdência privada,  CDB e ações —, dá dicas para os pais. “Eles não eram muito ligados a isso e passaram a diversificar e ter novos produtos depois que eu me interessei pelo tema”, conta o estudante, que lhes sugeriu investir em fundos imobiliários.

 

O estudante Paulo Mesquita, 21 anos, não só cuida de seu dinheiro, como dá dicas para os pais, 
Luiz Henrique e Margarida: “Eles passaram a diversificar depois que eu me interessei pelo tema”
 
 

Em que eles investem

 

Fundo multimercado


Combina investimentos em diferentes mercados, como renda fixa, câmbio 
e ações, para procurar as maiores rentabilidades por meio de diversificação. O valor mínimo para investir depende 
de cada fundo. É uma aplicação de risco médio (e o grau depende dos mercados envolvidos)

 

Fundo imobiliário
Constituído por empresa ou instituição financeira que vira dona de um imóvel 
e o divide em cotas, adquiridas pelos investidores. Rendimentos vêm do aluguel pago pelos locatários e da valorização das cotas na bolsa de valores. Considerado de risco médio a baixo

 

CDB (Certificado 
de Depósito Bancário)
Um exemplo de fundo de renda fixa, 
é um título tradicional de captação 
de recursos emitido pelos bancos. 
As taxas de rentabilidade podem 
ser préfixadas, pós-fixadas ou flutuantes. O risco é considerado baixo

 

Tesouro Direto
Títulos emitidos pelo governo para captar recursos para financiar a dívida pública 
e garantir investimentos. O governo devolve a aplicação com um adicional 
que pode variar de acordo com taxas 
de juros, índices de inflação, câmbio 
ou uma taxa fixa. O risco é baixo

 

Previdência Privada
Objetivo é garantir renda extra ao trabalhador que não contribui com o INSS ou julga insuficiente o valor a ser recebido futuramente. Há dois tipos de previdência complementar aberta: Plano Gerador 
de Benefício Livre (PGBL) e Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL). O grau de risco está relacionado ao perfil do plano, 
que pode ser conservador, moderado 
ou agressivo

 

Ações
Ao comprar uma ação (pequena fração 
do capital de uma empresa), o investidor se torna sócio e recebe benefícios, 
como dividendos. Uma das vantagens 
é a liquidez, pois não há carência para o resgate. Há taxa de corretagem (que pode ser um percentual do valor movimentado ou um preço fixo por movimentação) 
e taxas cobradas pela bolsa, 
além de incidência de IR. O risco é alto

 

Poupança
Investimento mais simples entre 
os disponíveis, tem isenção de IR para pessoas físicas e liquidez imediata. 
O cálculo do rendimento mensal é 70% 
da Selic, quando esta taxa básica de juros estiver igual ou abaixo de 8,5%. Caso esteja acima desse patamar, e para 
os depósitos feitos antes de 4 de maio, vale o rendimento referente à TR, divulgada pelo Banco Central, acrescida de 0,5% ao mês. Baixo risco

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