O banco Mercantil do Brasil (MB) é uma espécie de ave rara no mercado financeiro brasileiro. Sabe aquele típico banqueiro de sucesso: agressivo, com doses cavalares de ambição e um arrojo incomum na hora de arriscar? Esqueça. Ele está longe, muito longe do Mercantil do Brasil. Na instituição não há executivos celebridades – o CEO da empresa, André Brasil, é um sujeito discreto, pouco afeito a festas, badalações e frases bombásticas. Seu hobby: assistir a partidas de futebol e participar de atividades sociais ligadas ao espiritismo, sua religião. Os principais acionistas da companhia fogem completamente ao estereótipo de dono de banco. Dificilmente concedem entrevistas e, ainda mais raramente, posam para fotos (a da capa desta edição é uma exceção, tenham certeza). Homens e mulheres de negócios tendem a ser vaidosos, sobretudo à medida que acumulam dinheiro e poder. Os Araújos, contudo, são de uma simplicidade de duvidar. Eles dirigem o próprio carro, não ligam para roupas de grifes e estão a léguas de ter os hábitos requintados de outros banqueiros, como jogar golfe, cultivar jatos e apreciar vinhos caros.

Uma grande inovação ou mudança no Mercantil do Brasil pode levar tempo para ganhar as ruas, já que é exaustivamente discutida. A matriz da companhia funciona num prédio austero, no centrão da capital Belo Horizonte. Lá, os funcionários que entram têm quase garantia de emprego duradouro, razão pela qual a maioria do primeiro time de executivos é forjada nas entranhas da organização. André Brasil, por exemplo, entrou na casa com 14 anos de idade como estagiário, exatamente como aconteceu com outro executivo de primeiro escalão, José Ribeiro Vianna Neto, diretor jurídico. Trata-se, portanto, de uma instituição de cultura arraigada e muito distinta do padrão arrojado e agressivo, comum no mercado financeiro brasileiro.




Em 2009, aconteceu outro tiro meticulosamente planejado – e certeiro. Para reforçar sua identidade na região geográfica que escolhera atuar, o banco decidiu participar – e venceu – do leilão da Previdência Social, tornando-se responsável pelo pagamento dos benefícios a aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) nas cidades onde tivesse agência (MG e interior de SP). A vitória no leilão trouxe enorme contigente de clientes e mudou o perfil do banco, que hoje tem perto de 1,8 milhão de clientes. No final dos anos 1990, a instituição tinha 90% de sua carteira de crédito voltada para clientes PJ e apenas 10% era formada por pessoa física. Atualmente, 52% da carteira são de clientes PF. A entrada de pensionistas e aposentados do INSS também ajudou a dar impulso ao crédito consignado no Mercantil do Brasil. A prioridade do banco é o público B, C e D. “Também sabemos cuidar da classe A, mas nossa linha de atuação está toda voltada para as classes B, C e D, justamente as que mais cresceram no Brasil”, diz André Brasil. “É preciso reconhecer dois fatores: quantitativamente, a classe A é pequena no país e nenhuma instituição financeira se sustenta atendendo exclusivamente a esse público. Em segundo lugar, esse grupo é altamente exigente. Para dedicar-se a ele, são necessários investimentos em produtos, serviços, atendimento e tecnologia compatíveis com as demandas desse segmento.”

Para satisfazer sua clientela e tê-la com fidelidade, o MB sempre reforçou uma característica marcante nos bancos de antigamente: o atendimento pessoal. Tecnologia e facilidades remotas são importantes? Sim, mas para complementar o atendimento “olho no olho”. “O Mercantil nunca se esqueceu de que pessoas gostam de ser atendidas por pessoas, e não por máquinas”, diz Márcio Costa, ex-diretor executivo do banco e atual conselheiro da instituição. “Por isso, nossos clientes são fiéis e tradicionais.” Essa, pode-se dizer, também é uma característica cultural na instituição. São lendárias as histórias do banqueiro Milton de Araújo com seus clientes. Quando ele estava à frente das operações comerciais, conhecia muitos pelo nome e fazia questão de recebê-los em sua sala, sempre de portas abertas. Traços adquiridos quando ele (Milton) era gerente de agência do Banco do Triângulo Mineiro, pertencente ao falecido banqueiro José de Magalhães Pinto. A obsessão de Milton de Araújo pelo cliente era tamanha que até hoje ele gosta de ser tratado como bancário, e não banqueiro.

“O Mercantil vive o melhor momento de sua história. Nunca estivemos tão bem”, afirma André Brasil. Mas, para manter a média de crescimento superior a 20% nas operações de crédito nos próximos anos, o Mercantil do Brasil precisará superar alguns desafios. A empresa tem hoje 184 agências e precisa crescer esse número, a fim de fazer frente aos concorrentes que têm investido na ampliação da rede em terras mineiras. O Bradesco, por exemplo, inaugurou somente em 2011 cerca de mil agências no país. Em Minas, são 457. Os planos do MB são de chegar a 200 ainda neste ano. Replicar a cultura da companhia em cada uma dessas unidades também é vital para garantir a essência do negócio. Outro desafio é continuar a ter atendimento personalizado em contraposição ao crescimento vertiginoso pelo qual passa o banco.
Muitos desses desafios serão enfrentados não apenas pelo CEO, André Brasil, mas também pelas gerações mais novas de controladores. Paulo Brant de Araújo, neto de um dos fundadores (Oswaldo), é um desses nomes. Aos 30 anos de idade e desde os 19 trabalhando na organização, Paulo sabe que sua responsabilidade vai muito além do preparo técnico. “Somos uma família coesa e assim continuaremos”, diz ele. “Nosso objetivo maior é o de perpetuar a instituição”. Mas, para decifrar os caminhos que levarão o Mercantil do Brasil a continuar sendo uma ave rara no mercado financeiro, todos – acionistas e executivos – deverão ter tempo para discutir. No melhor estilo MB: as decisões serão lentamente amadurecidas, com cautela e parcimônia, na mente dos homens que comandam a companhia e os resultados comemorados de forma simples, sem pompa. “Nosso jeito é esse. Estamos orgulhosos”, diz Marco Antônio de Araújo. Os conservadores venceram.
(Colaborou Ângela Drummond)