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Estado de Minas ENTRETENIMENTO

Os caras do showbiz

Com a vinda de estrelas internacionais, como Elton John e Paul McCartney, BH entra na rota dos grandes shows musicais. Conheça os produtores que estão trazendo os astros mundiais para a cidade


postado em 10/06/2013 17:19 / atualizado em 11/06/2013 18:18

Viajar o ano todo sem pausa para fim de semana ou feriado. Reuniões tensas e intermináveis com empresários de estrelas como Paul McCartney, Elton John e Beyoncé. Arriscar milhares de reais num único espetáculo. Ganhar, ou perder, muito dinheiro numa única noite. Esse é o arriscado cotidiano do produtor musical. Tipo de empresário raro em BH até alguns anos atrás, quando a cidade raramente figurava na agenda dos shows internacionais (sempre restritos ao eixo Rio-São Paulo), eles aos poucos começam a se firmar na cidade. Seduzidos pelo universo da música e pelas altas (e sigilosas) cifras de um mercado que só no ano passado movimentou, segundo cálculos de empresas do setor, cerca de R$ 11 bilhões, a figura do produtor mineiro vem mesmo se fortalecendo nos últimos 10 anos.

Mas, afinal, quem são eles? Qual a cara dos profissionais que trabalham para colocar a cidade no roteiro dos principais artistas mundiais? Para início de conversa, não são muitos – ainda. Alguns entraram no mercado recentemente. Outros já percorreram uma longa estrada. Em comum, acreditam que o mercado de BH é bom, está em transformação e vai ficar melhor, mas ainda tem etapas importantes a vencer. “Quando comecei a produzir shows, o mercado belo-horizontino era muito diferente de hoje. A cidade era menor. E, na boa: nós éramos mesmo bastante amador”, confessa o produtor Lúcio Oliveira. Considerado por todos os outros produtores da cidade o precursor do segmento, o proprietário da Artbhz conta que, no início, tudo era feito mesmo na base do improviso. “Para se ter uma ideia, eu era estudante de engenharia civil e entrei no negócio meio por acaso. Não existia escola para formar ninguém. Fazíamos tudo na raça. Aprendia fazendo”, conta.

Há 30 anos no mercado, Lúcio foi o responsável pela revitalização do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) na década de 1980. Fechado durante anos por causa do regime militar, a reabertura do espaço da rua Gonçalves Dias se transformou num marco na história dos shows na cidade.  “Foi ali que comecei a aprender o meu ofício”, conta, orgulhoso. Ao longo de sua carreira, junto aos irmãos Evando José Lara e Gegê Lara, seus sócios durante uma época, ele foi o responsável pela vinda a Belo Horizonte de nomes como B.B. King, Eric Clapton, Bob Dylan, Sting, Julio Iglesias, Paul Simon e Mercedes Sosa.

(foto: Cláudio Cunha)
(foto: Cláudio Cunha)

O homem que reuniu os Mutantes


  • Mesclando doçura e determinação, Aluizer Malab conseguiu uma coisa que até mesmo para o mais otimista dos roqueiros parecia impossível: reunir os Mutantes para uma turnê internacional. Há 25 anos sem se encontrarem, graças a Malab, os irmãos Serginho e Arnaldo Baptista voltaram a se falar. E o que é melhor: a tocar juntos. O show, realizado no centro cultural Barbican em maio de 2006, parou Londres. E teve na plateia nomes como David Bowie e Beck Hansen. A excursão com a mais importante banda da história do rock brasileiro passaria ainda pelos EUA e por vários estados brasileiros. Em BH, a marca da qualidade do trabalho de Malab não é menor: no seu currículo, destaques para o Eletronika e a produção de shows de nomes como Robert Plant, Morrissey, David Guetta, Jack Johnson e The Black Eyed Peas. Para este ano, ele ainda vai trazer Beyoncé, em setembro.






Mas será que a baixa profissionalização do setor, tão característica do início dos anos 1980, ainda é um problema para os produtores? Aqui, as opiniões se dividem. “Desde a época que eu trabalhava com rádio já percebia que o profissional de evento era mais um promoter, um festeiro, do que propriamente um profissional de comunicação. O setor era muito pouco profissionalizado e isso me incomodava muito”, conta Márcia Ribeiro, que, junto a Gegê Lara, comanda hoje a Nó de Rosa Produções. A empresária foi a responsável pela vinda de nomes como Paul McCartney, Guns n’ Roses, Iron Maiden e Ozzy Osbourne à capital. Para ela, ainda hoje o setor enfrenta um baixo índice de profissionalização. “Os meus fornecedores são meus inimigos”, desabafa a produtora, depois de ter tido alguns problemas com a organização do show de Paul no início de maio. “Ninguém pode imaginar a dificuldade que tivemos para realizar o show”, diz.

Responsável pelo maior evento de música baiana fora da Bahia, o Axé Brasil, Leo Dias, da DM Produções, relativiza o problema com os fornecedores. Tendo no currículo a experiência de 15 anos de Axé Brasil e a realização de shows de artistas como David Guetta, Infected Mushroom, Black Eyed Peas, Maroon 5, Cindy Lauper, Offspring, Stanley Jordan e Erik Morillo, para ele o mercado de BH não é menos profissional do que, por exemplo, Curitiba ou Recife. “É claro que existem problemas. Mas não acho que, nem de longe, aqui é o pior lugar do Brasil para se trabalhar. Claro: se você compara com São Paulo, é diferente. Mas se compararmos nossa cidade com as outras cidades brasileiras do mesmo tamanho, estamos longe de ser o lugar mais difícil para se organizar um evento. Além disso, hoje posso trabalhar com fornecedores de todo o país”, explica.

(foto: Cláudio Cunha)
(foto: Cláudio Cunha)

O professor

  • Numa época em que não existiam cursos profissionalizantes na área, Lúcio Oliveira foi à luta. Sua primeira empresa, Efeito, foi criada ainda em 1974. Com colegas da UFMG, promoveu o projeto “Segunda Mineira”, que trouxe à cidade nomes como Paulinho da Viola, Cartola e MPB4. Em 1979 criou a Tempo Produções, com os irmãos Evando José Lara e Gegê Lara. A empresa duraria 18 anos e revolucionaria o mercado de shows na capital. Quem tem mais ou menos 40 anos certamente se lembra bem do histórico show de Sting, no estádio Independência. Nos últimos anos, ele tem focado seu negócio no segmento do entretenimento familiar: Disney no Gelo, Circo da China, Mágico de Oz, Holiday on Ice, Backyardigans e as exposições Corpo Humano e Mundo Jurássico. No mês passado, ele também produziu Russian State Ballet, considerada uma das companhias de dança mais respeitadas da Rússia.




Outro que não acredita na falta de profissionalismo em BH é o produtor Alessandro Queiroga. Atuando na área desde 1982, primeiro no Rio e depois em Belo Horizonte, e tendo no currículo a realização de shows de nomes como Tom Jobim, Baden Powell, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Dianna Schuur, Charles Aznavour, Madredeus e Madeleine Peiroux, para Queiroga todo segmento tem diversidades na qualidade da prestação do serviço – e no segmento de cultura e entretenimento não poderia ser diferente. “Temos hoje excelentes produtores e promotores. O grau de profissionalismo é um dos melhores do Brasil. São empreendedores persistentes, diante da característica que temos aqui, em que a primeira coisa a se fazer é colocar dificuldade para a realização de grandes ideias e projetos. Mas os produtores são guerreiros. Vão lá e fazem acontecer”, afirma.

Para Leo, o grande problema do setor hoje não é o pouco profissionalismo, mas sim a falta de costume do público e dos produtores para eventos de dimensões maiores. “Este ano, por exemplo, com o novo projeto do Mineirão, é claro que tive alguns problemas na organização do Axé Brasil. Assim como sei que os outros produtores também enfrentaram problemas. Mas acho isso normal. Afinal de contas, foi o primeiro ano de uso da nova Arena Minas. E tudo ainda é novidade, tanto para nós quanto para o público”, diz.

Outro importante produtor mineiro é Aluizer Malab. Empresário da banda Pato Fu há quase 20 anos e responsável pela volta da banda Os Mutantes numa excursão histórica que rodou a Europa e os EUA, ele foi o responsável pela reabertura do Mineirão com o show de sir Elton John. Malab também não acredita que o problema seja a falta de profissionalização. Pelo contrário. Para ele, o mercado já é bastante profissionalizado. E vive um grande momento de transformação. “Antes da minha geração, as coisas eram mais românticas. Tenho uma grande admiração por um cara como o Lúcio, que organizava eventos maravilhosos e se arriscava muito. Mas hoje é diferente. A partir dos anos 1990, sobretudo com as leis de incentivo, muitos escritórios foram abertos e o mercado ficou mais complexo e com uma grande concorrência. Concorrência que, aliás, muitas vezes atrapalha todo mundo”, afirma Malab, tocando num ponto que parece ser mesmo fundamental: a falta de união do setor. “Somos completamente desunidos, desarticulados. E este é, sem dúvida, o grande problema do setor”, afirma Lúcio Oliveira. “Hoje, como vice-presidente da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), constato semanalmente, junto ao Leo Dias, que é o presidente, a dificuldade de conseguirmos nos unir. Cada um só olha para o próprio umbigo”, afirma o empresário.

(foto: Pedro Nicoli)
(foto: Pedro Nicoli)

O axé com cara de Minas

  • No início dos anos 1980, o rock nacional começava a viver seus anos de glória: Blitz, Paralamas do Sucesso, Titãs, Barão Vermelho, Legião Urbana e Kid Abelha não paravam de tocar no rádio. Leo Dias, um jovem estudante de engenharia elétrica que adorava organizar festas, gostava tanto desse tipo de música que um dia teve uma ideia: por que não trazer uma dessas bandas para BH? Mas era impossível. Os produtores mais velhos tinham todos os contatos das bandas e não largavam o osso. A primeira chance só viria em 1992, quando o Skank topou que o primeiro grande show da banda fosse feito por Leo. O espetáculo reuniu 5 mil pessoas. No mesmo ano, o grupo Chiclete com Banana estreou em BH diante de 8 mil mineiros. Estava descoberto o filão. Hoje, Leo é o nome mais importante no Brasil quando o assunto é axé fora da Bahia. Este ano,  o Mineirão foi palco da grande festa baiana organizada pelo empresário mineiro.









Do alto da sua experiência de três décadas, Lúcio toca no ponto que será crucial para o crescimento – ou estagnação – do setor nos próximos anos, não só em BH, mas em todo o país: o preço dos ingressos. “Agora mesmo estamos discutindo, em Brasília, a lei da meia-entrada. No Brasil existe um subsídio absolutamente sem controle, já que ninguém controla carteirinha de estudante falsa, e nós somos tão desunidos que não conseguimos nos unir nem mesmo para essa questão fundamental”, afirma.

O resultado da falta de controle sobre a meia-entrada é nefasto para o setor e para os consumidores sem carteirinha. Não raro, o preço do ingresso de um show internacional é maior que um salário mínimo. Motivo: sabendo que muita gente compra seu ingresso com carteirinha de estudante falsa (feita facilmente pela internet), o produtor multiplica por dois o preços do ingresso. Quem perde? “O cidadão brasileiro honesto que não topa burlar a lei. Este é o único país do mundo em que o governo estabelece um subsídio e não paga por ele”, afirma Lúcio.


(foto: Divulgação)
(foto: Divulgação)

Ela fez o Paul falar uai

  • Formada em publicidade e relações públicas, Márcia Ribeiro (na foto, com o sócio Gegê Lara), sempre trabalhou em veículos de comunicação. Como superintendente da rádio Guarani, comandou um projeto de mudança na emissora que, então, comemorava 20 anos. Em 2003 montou a Nó de Rosa. Determinada, em menos de cinco anos, junto ao sócio Gegê Lara, seu negócio experimentou um crescimento impressionante. O grande salto da empresa aconteceu há quatro anos, com a produção local do Cirque Du Soleil. Hoje, eles fazem uma média de 20 shows por ano. No ano passado, também fizeram cerca de 40 eventos empresariais. E este ano sua empresa conseguiu o que para muitos seria impossível: fazer o mais importante dos Beatles vivo, Paul McCartney, tocar aqui. O show entrou para a história da cidade.








A solução para resolver o problema crucial do alto preço dos ingressos tem sido contornada pelas quatro mais importantes produtoras brasileiras – Geo Eventos, Time For Fun (T4F), Plan Music e XYZ Live – com a captação de patrocinadores. Numa entrevista recente, o empresário Roberto Medina, criador do Rock in Rio, revelou que nos seus eventos só a metade do preço do ingresso é paga pelo consumidor. A outra parte vem de patrocínio. “O patrocínio é mesmo fundamental. Mas, infelizmente, aqui em BH não tem o peso que deveria ter”, diz Márcia Ribeiro, da Nó de Rosa. “No Brasil, os patrocinadores parecem estar mais interessados no eixo Rio-São Paulo e nas cidades litorâneas”, afirma.

Pode ser – mas, de olho no promissor mercado mineiro, em julho do ano passado, a T4F (maior do ramo de espetáculos no Brasil) fechou contrato de quatro anos para gerenciar o Chevrolet Hall, uma das principais casas de espetáculos de BH. O grupo, que já administra espaços importantes por toda a América Latina – como o Credicard Hall e o Teatro Abril, em São Paulo, o Citibank Hall, no Rio de Janeiro, e o Teatro Ópera Citi, em Buenos Aires –, aposta no potencial da cidade. O contrato, fechado com os Irmãos Maristas (donos do espaço), trouxe a verticalização de todo o processo da casa, ou seja, contratação e produção de shows nacionais e internacionais, comercialização de patrocínios, venda de ingressos, alimentos, bebidas e merchandising, além da realização de eventos privados. A monopolização de um espaço nobre na cidade mais uma vez dividiu a opinião dos produtores.

“Para o mercado regional, a vinda da T4F não foi boa, já que eles verticalizaram o negócio. O poder de barganha deles para fecharem shows é incomensuravelmente maior do que o dos produtores locais. Fiz muitos shows lá e hoje não faço mais nenhum”, conta Lúcio. Já Leo Dias prefere não se queixar. “É tudo uma questão de negócio. Eles conseguiram o contrato e pronto. Estão no direito deles. Se eu pudesse, também gostaria de ter o Chevrolet Hall só para mim”, diz. Recentemente, surgiram rumores de que a T4F estaria negociando a compra da Plan Music – justamente a empresa que trouxe Paul McCartney ao Brasil. Em nota, a T4F diz que “não comenta boatos”.

(foto: Maurício/dCSET)
(foto: Maurício/dCSET)
Especialista em camarotes

  • Figura conhecida na noite belo-horizontina, o nome do produtor Tim Soier (na foto, com o Rei Roberto Carlos) sempre foi sinônimo de festa. Já nos anos 1980 suas festas ficaram conhecidíssimas e os ingressos eram disputados a tapa. Com o tempo, ele acabaria se especializando na música sertaneja. Zezé di Camargo, por exemplo, não fecha nenhum show em Minas sem antes se aconselhar com o amigo. Em novembro deste ano, Tim vai realizar, no Expominas, um show inédito que vai reunir os irmãos Camargo e Victor & Leo. Quando ninguém falava de Paula Fernandes, ele já produzia shows da musa do sertanejo. Nos últimos anos, ele descobriria outro tipo de oportunidade: os camarotes VIPs. Quem já esteve em algum produzido por ele sabe do diferencial do seu serviço. No show organizado por Malab de sir Elton John no Mineirão, o lounge de Tim foi um dos destaques. No mais recente show do Rei Roberto Carlos, o camarote do produtor  foi o toque de luxo do evento.



Para tentar sanar a falta de espaços, que ainda parece ser um problema na capital, algumas iniciativas começam a serem tomadas. Todos os produtores parecem já ter percebido que, além de profissionalização do setor e busca de patrocínio, a terceira variável para consolidar definitivamente BH na rota dos shows internacionais é a necessidade de a cidade  ter espaços adequados. Se é verdade que a coisa melhorou muito nos últimos anos com a construção de espaços importantes como a Minas Arena, Expominas e Chevrolet Hall, a demanda do mercado, entretanto, parece maior. Nos bastidores, especula-se sobre dois projetos: um na Pampulha e outro no bairro Olhos D’água, em Belo Horizonte, próximo ao BH Shopping.

Na Pampulha, o local seria em um enorme terreno da avenida Clóvis Salgado, ao lado da Toca da Raposa I. Utilizado no ano passado para a montagem do Cirque du Soleil, o espaço poderia se transformar em um ambiente para eventos médios. Alguns empresários e produtores já estão se articulando e pressionando a PBH na tentativa de o local se tornar um espaço definitivo para BH. No Olhos D’Água, o estágio está mais avançado: o espaço deve começar a ser construído até o fim deste ano e início de 2014. Já tem até projeto arquitetônico pronto e deve demorar três anos para ficar pronto. O cenário musical de BH agradece.

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