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Estado de Minas EDUCAçãO | SEGURANçA

Seu filho está a salvo?

Encontro ouviu oito escolas tradicionais de BH para saber como funciona a segurança. Todas têm mecanismos considerados eficientes. Em três delas, especialistas da área foram conferir pontos positivos e negativos


postado em 21/08/2013 14:18 / atualizado em 21/08/2013 15:23

Já não são raros no país casos trágicos que colocam em evidência a falta de segurança nas escolas. Um dos mais recentes foi da manicure Suzana Figueiredo, que sequestrou o garoto João Felipe, de apenas 6 anos, em Barra do Piraí (RJ). Passando-se pela mãe da criança, ela ligou para  a escola e pediu que João fosse liberado mais cedo da aula. Em seguida, pediu a um motorista de táxi para pegar o garoto. A mulher o levou João Felipe a um hotel e o matou por asfixia. Motivo: ela queria se vingar da família.

O crime serviu de alerta sobre as fragilidades ainda existentes em instituições educacionais no país no quesito segurança. O próprio pai de João Felipe afirmou que o filho nunca tinha sido buscado de táxi na escola e que preencheu uma ficha informando quem poderia buscá-lo – apenas ele mesmo, a mãe da criança, o avô e uma cunhada. Isso não impediu que o colégio liberasse o menino sem maiores dificuldades, após o telefonema de Suzana.

(foto: Paulo Márcio/Encontro e Eugênio Gurgel)
(foto: Paulo Márcio/Encontro e Eugênio Gurgel)


Dois anos antes da tragédia, outro caso amplamente divulgado no Brasil, o massacre de Realengo, também evidenciou a falta de atenção à segurança no ambiente escolar. O atirador Wellington Menezes entrou na escola municipal onde havia estudado, no Rio de Janeiro, sem precisar comprovar o motivo da ida ao colégio (ele alegou que faria uma palestra). Lá dentro, atirou nos alunos, ferindo 13 e matando 11.

Marcantes pela crueldade e motivação, os dois crimes sinalizam a importância de investimentos na segurança das instituições de ensino, por onde circulam diferentes pessoas ao longo do dia e que são responsáveis pela entrega dos alunos aos pais – processo que pode ser confuso de se controlar, em meio a estudantes inquietos e adultos apressados.

A própria Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), em seu site, alerta para algumas medidas essenciais de prevenção a ocorrências em escolas, como a conferência de identidade da pessoa antes que se permita a saída da criança, a confirmação de autorização de saída com os pais, a necessidade de supervisão de um adulto em áreas recreativas e a atenção a pessoas suspeitas rondando as dependências e áreas próximas aos colégios.

(foto: Eugênio Gurgel)
(foto: Eugênio Gurgel)
(foto: Pedro Nicoli/Encontro)
(foto: Pedro Nicoli/Encontro)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cientes dessa necessidade, as escolas particulares de BH têm adotado diferentes estratégias na prevenção da violência, sendo as mais comuns o sistema de câmeras, porteiros em todos os turnos, seguranças terceirizados e catracas. Mas a estrutura varia de colégio para colégio (ver quadros).

Após pesquisas sobre o que seria mais eficaz em termos de segurança, a Fundação Torino, por exemplo, investiu em um programa de biometria para controle do fluxo, desenvolvido especificamente para a instituição. Todos os alunos, pais e educadores são cadastrados, e registram-se a entrada e saída de cada um por meio desse sistema. “Diante de tudo que vemos em relação a acesso a empresas e escolas, nos perguntamos como melhorar a nossa segurança, e nosso investimento mais recente foi na biometria. É um investimento alto e um processo complexo, mas lidamos com vidas, e os alunos merecem todo o cuidado possível”,  diz o diretor-administrativo, Magno Braz.

Em colégios menores, como o Edna Roriz, que tem cerca de 500 alunos, a proposta é a familiaridade com os estudantes e com a comunidade escolar. “Temos menos estudantes, então a escola se propõe conhecê-los bem. Os porteiros sabem quem vem sozinho, quem é trazido pela mãe, qual responsável normalmente busca a criança. Mesmo no caso dos mais velhos, que têm autorização para sair sozinhos, procuramos nos inteirar e saber quem está acompanhando”, diz a coordenadora pedagógica, Maria Alice Viotti. Ainda assim, a escola não abre mão de catracas, carteirinha de acesso e autorização por escrito dos pais, caso a pessoa que for buscar o aluno não esteja na relação de responsáveis permitidos.

(foto: Eugênio Gurgel/Encontro)
(foto: Eugênio Gurgel/Encontro)
(foto: Eugênio Gurgel)
(foto: Eugênio Gurgel)

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

Essa mobilização em torno do tema segurança e a adoção de medidas mais rigorosas são uma tendência da sociedade, segundo Roberto Salgado,  policial militar e instrutor do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência e ex-integrante do Programa Patrulha Escolar, da PM. “Catracas, carteirinha de identificação, seguranças físicos e porteiros durante todo o expediente são medidas cada vez mais difundidas, inclusive em escolas municipais e estaduais”, diz ele, lembrando que a atuação dos pais é essencial nesse processo, especialmente se a instituição ainda não tiver medidas de controle do fluxo de pessoas, sistema de alarme e câmeras. “Quando se fala em escolas particulares, principalmente, os pais têm condições e devem exigir que a instituição forneça esse tipo de estrutura”, afirma.

A psicóloga Mila Villela, mãe de João Paulo, de 6 anos, é uma das que vivenciaram o aumento da segurança em seu cotidiano. O filho, que estudava em uma escola menor, de bairro, foi transferido para a Fundação Torino há um ano e meio e convive com um novo sistema de entrada e saída da escola, mais complexo. Em uma ocasião, Mila teve de levar o filho ao médico no horário da aula e, mesmo sendo cadastrado no sistema biométrico e tendo autorização da mãe, João não conseguiu sair, pois estava fora do horário do fim da aula. Assim, um funcionário teve de liberá-lo. “É uma burocracia que vale a pena. É uma questão de segurança dos filhos”, diz a psicóloga.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mesmo em casos mais complicados, como os rodízios de pais para buscar as crianças na aula, os colégios têm encontrado formas de controlar o fluxo. A administradora Moema Parreiras se alterna com outros pais para buscar alguns alunos no Loyola, entre eles seu filho Davi, de 6 anos. Na escola há um sistema de chaveiro eletrônico em que ficam guardados os dados de todas as pessoas autorizadas a pegar cada criança. Desse modo, ela sabe que só os pais do rodízio conseguirão tirar o Davi de lá.  “Assim, fico bem mais tranquila”, afirma. E, cá entre nós,  tranquilidade não tem preço.

Escolas aprovadas na avaliação

Em se tratando de segurança, toda cautela é pouca. Encontro pediu a dois especialistas em segurança, Deniz Carvalho de Souza e Flávio Silva Coelho, que visitassem algumas instituições de ensino e encontrou bons exemplos. Apenas três colégios, dos oito entrevistados, permitiram a avalição in loco dos especialistas, acompanhados da equipe de Encontro: o Colégio Santa Maria, no bairro Coração Eucarístico; o Colégio Edna Roriz, no bairro Belvedere; e o Colégio Santa Dorotéia, no Sion.

O especialista Flávio Coelho diz que, antes de qualquer avaliação, é possível afirmar que a segurança depende previamente de três pilares: proteção passiva, medidas de proteção ativa e medidas operacionais. Na proteção passiva são utilizados os meios de segurança primários de bloqueio e controle, entre eles muros, grades, cercas, telas, vegetação e paisagismo. A proteção ativa utiliza os meios secundários para auxiliar a primária, tais como câmeras de segurança, catracas eletrônicas, controle de acesso por biometria, crachás de identificação, sensores infravermelhos, alarmes sonoros e magnéticos. Para completar, a medida operacional é constituída pela ação humana e engloba a execução, manutenção e fiscalização das medidas passivas e ativas de segurança.

Flávio Coelho e Deniz de Souza, especialistas em segurança: avaliação in loco em três escolas(foto: Samuel Gê/Encontro)
Flávio Coelho e Deniz de Souza, especialistas em segurança: avaliação in loco em três escolas (foto: Samuel Gê/Encontro)


“Somente quando esses três pilares trabalham de forma integrada é que a segurança estará funcionando de forma macro em qualquer instituição”, diz Flávio Coelho. O que se percebe é que, de maneira geral, todas as escolas se preocupam em investir nos três pilares. Mas outros pontos positivos também chamaram a atenção nas três escolas avaliadas.

O Colégio Santa Maria, no bairro Coração Eucarístico, tem área extensa, o que pode representar vulnerabilidade nas áreas perimetrais, como o estacionamento. No entanto, isso é compensado pela determinação de só entregar os alunos para pessoas previamente autorizadas, e dentro da escola (alguns somente em sala de aula). “É uma medida simples, mas muito eficaz, considerando que a maioria dos sequestros ocorre na parte externa das escolas, já que os marginais ficam dentro do veículo junto com os pais, aguardando a chegada da criança”, diz o especialista Deniz de Souza.

No Colégio Edna Roriz, no bairro Belvedere, a utilização de vigilância de empresa especializada, sistema de circuito fechado de televisão (CFTV), alarmes e controle de acesso diminui o campo de ação de possíveis invasores. Mas os especialistas sugerem que a entrega dos alunos seja feita dentro da escola, evitando-se assim que os pais fiquem expostos a ação de bandidos enquanto aguardam no carro, do lado de fora da escola. “Em casos de sequestro, reduziria a possibilidade de êxito, tendo em vista que necessitariam entrar na escola e pedir ajuda”, diz Souza.

Já o Colégio Santa Dorotéia, situado no bairro Sion, é outro bom exemplo de investimento tanto na segurança interna quanto externa. “Apesar da área extensa, há um sistema eficaz de controle de acesso por meio de catracas, monitores interligados em tempo real com os vários seguranças que circulam dentro e fora da escola, além do sistema CFTV ativo e alarmes em pontos estratégicos”, diz Flávio Coelho. Mas também aqui a dica é para que os pais ou responsáveis busquem os alunos somente na área interna da escola.

Independentemente da instituição, os especialistas ressaltam que a segurança depende, principalmente, do diálogo  entre pais, filhos e orientadores das escolas.

(foto: Editoria de Arte)
(foto: Editoria de Arte)

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