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Estado de Minas CIDADES | CURIOSIDADE

O rei do pedaço

A lagoa da Pampulha ficou famosa pelas obras de Niemeyer. Mas quem está roubando a cena são os animais que ali vivem, como o jacaré, que até já procriou e se tornou atração a mais para os visitantes


postado em 07/01/2014 16:27 / atualizado em 07/01/2014 16:32

(foto: Nereu Jr.)
(foto: Nereu Jr.)
 
 
Quem passa pela orla da lagoa da Pampulha num dia de sol pode se deparar com um visitante inusitado: um jacaré-de-papo-amarelo, típico de regiões com rios e lagos no Brasil – do Nordeste ao Rio Grande do Sul –, que encontrou na represa que compõe o complexo arquitetônico de Oscar Niemeyer um ótimo hábitat urbano. Ao contrário do famoso personagem dos desenhos da Hanna-Barbera, o Wally Gator, que causava pânico nos moradores da cidade quando fugia de sua jaula, o réptil que reside na Pampulha se tornou uma atração à parte. "Quando se está andando em volta da lagoa e se observa uma aglomeração de pessoas em determinado ponto, pode saber que é o jacaré", diz Flávio Marcus Campos, presidente da Associação dos Amigos da Pampulha (Apam).

Isso pode ser facilmente comprovado quando se realiza uma busca na internet. São diversas fotos e vídeos mostrando reações de surpresa de pessoas e animais de estimação quando o encontram. E mesmo sendo um animal silvestre, de acordo com o presidente da Apam, não há registro de problemas relacionados aos jacarés, nem mesmo ataques a outros bichos. "Aqui, o problema não é o jacaré e, sim, a lagoa, que sofre com a poluição."

O que não se sabe, ao certo, é como esses répteis – sim, é mais de um, e inclui fêmeas e filhotes – chegaram à Pampulha. Para Daniel Vilela, coordenador do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama em Minas Gerais, o mais provável é que os jacarés já habitassem os córregos afluentes da lagoa: "Eles estavam lá antes mesmo de a represa ser construída e foram beneficiados pela imensa lâmina d’água e pelas condições ambientais criadas artificialmente", diz Vilela.
 
 

Na verdade, a região se transformou numa espécie de zoológico a céu aberto, com presença de capivaras, que já são uma atração; de centenas de espécies de aves, incluindo garças, marrecos e mergulhões; e, claro, peixes, como o cascudo e a tilápia. Estes, aliás, são a principal fonte de alimento dos jacarés. "As capivaras, principalmente os filhotes e exemplares mais jovens, podem compor a dieta desses répteis, mas a base alimentar são organismos menores, mais fáceis de capturar e ingerir, como peixes e invertebrados aquáticos", explica Daniel Vilela.
Os jacarés estão se mostrando verdadeiros guerreiros pela sobrevivência, já que enfrentam a poluição e a curiosidade – e, às vezes, a maldade – humana. "É evidente que existe risco no convívio com jacarés em espaços urbanos. Mas, considerando que não fazemos parte de sua cadeia alimentar, e de nenhum outro animal silvestre brasileiro, o risco é bem maior para eles. Já fomos acionados para resgatar um animal que aparentemente foi atropelado e que morreu logo em seguida. Foi um único caso em dez anos", conta Vilela.

O Ibama não possui um censo da população de répteis que vivem na Pampulha, mas já foram encontrados ninhos, casais e filhotes na orla. A maior dificuldade para se realizar um trabalho de pesquisa com esses bichos é que eles não vivem num local definido. Um ponto mais fácil para quem quer avistá-los é perto do Parque Ecológico, por ser uma região com natureza mais abundante e preservada. De qualquer forma, vale lembrar que, mesmo que não agradem a todos, os jacarés garantiram o direito de viver na lagoa, por serem os primeiros habitantes da região. "Apesar das adversidades, os jacarés estão se adaptando aos novos desafios e, ao que tudo indica, continuarão causando admiração e temor na Pampulha por muito tempo, para nossa alegria", diz Daniel Vilela.

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