
A ida de Thiago para a TV (ele também tem um quadro semanal no Jornal da Alterosa), há pouco mais de cinco anos, foi a grande responsável pelo reconhecimento que o repórter tem hoje nas ruas – a exemplo da brincadeira que escutou ao chegar à sede da revista. A telinha foi quem deu cara à voz. Mas essa voz, animada e firme, já era antiga conhecida de todo mineiro amante de futebol. Afinal, Thiago Reis é Seu Nome, Seu Bairro, bordão que já repete há dez anos em suas transmissões de pré e pós-jogo na rádio Itatiaia, quando conversa com torcedores sobre como foi a partida.
De tanto sucesso, o bordão já virou marca patenteada e nome da agência de publicidade que cuida de sua imagem. Isso já estava se tornando necessário, pois, além do trabalho como repórter do rádio e da TV, começou a receber convites para ser garoto-propaganda e mestre de cerimônias – ele não revela o cachê (sinal de que é alto). Atualmente, o belo-horizontino de 29 anos tem sido visto nas propagandas do BRT-Move, da Prefeitura de BH.

Aficionado por bola desde os 6 anos, ele chegou a jogar nos juniores do América, seu time de coração, e do Atlético. Talvez seu único sonho na vida, até hoje, tenha sido se tornar jogador profissional. Atacante e bem-humorado, quando perguntado se é canhoto ou destro, diz que bate bem com as duas, sem cair. "Como todo bom centroavante", diz. Apesar do talento, confirmado por amigos e colegas de trabalho – foi, inclusive, o responsável pelo primeiro gol do novo Mineirão, marcado na partida de reinauguração, com a imprensa mineira –, foi dispensado do Galo quando tinha 16 anos, e isso quebrou seu coração. Desistiu de se tornar jogador profissional, traumatizado com o fato de ter sido privado de seu maior sonho.
Chateado e sem ocupação, foi daí que seu pai, vizinho e amigo do radialista Mauro Naves, pediu-lhe que conseguisse um emprego para o filho. "Ele achou que eu fosse conseguir uma vaga em uma loja, um supermercado. Nunca imaginou que fosse ser na rádio", diz Naves, que chamou Thiago para trabalhar no plantão do esporte. Por R$ 20 ao dia, o garoto ouvia as outras partidas – além daquela transmitida – e deixava o narrador a par do que acontecia nos demais jogos.
Seu talento para a comunicação e o conhecimento sobre futebol fizeram com que a rádio lhe oferecesse uma bolsa para cursar uma faculdade. E foi por isso que escolheu o jornalismo. "Eu queria ficar próximo do campo, que era minha paixão. Teria de ser gandula, árbitro ou jornalista. O último pareceu o melhor", diz, no habitual tom de brincadeira. Assim, foi trilhando seu caminho no rádio: estagiário, redator, produtor, até chegar à reportagem. E foi aí que se destacou de verdade: quando se candidatou ao trabalho que ninguém queria fazer, a conversa com o torcedor no pós-jogo, intervalo entre o fim da partida e início das coletivas, em que há uma lacuna na programação.

O bairro surgiu como alternativa, e a frase deveria ser falada logo de início, senão a pessoa já emendava o comentário e nunca chegava a dizer seu bairro. Então, veio a sacada: Seu Nome, Seu Bairro. "Ninguém gostava de fazer essa cobertura. Thiago fez, e diferente de todo mundo. De fato, ele tem o dom da comunicação. Do ponto de vista individual, ele é, hoje, o maior fenômeno do rádio esportivo mineiro", diz Milton Naves.
O contato com os torcedores trouxe inúmeras histórias curiosas para a bagagem do jornalista. Ele gosta de se lembrar das mais engraçadas, por ver a vida de forma otimista. Faz questão de contar a ocasião em que um torcedor, em vez de criticar ou elogiar seu clube, quis saber quem tinha roubado seu bife. "Ele falou que tinha comprado um tropeiro, deixado no balcão para comemorar um gol e, quando se virou novamente, a carne não estava mais no prato", conta. A partir daí, como é muito comum no programa, as pessoas se engajaram na causa do torcedor, que não tinha dinheiro sequer para ir embora do estádio, e fizeram uma vaquinha que rendeu cerca de R$ 400. "Várias vezes, torcedores ofereceram carona para quem não tinha como voltar para casa durante a transmissão, e já houve até contratação: o ex-presidiário da primeira entrevista foi chamado para ser zelador de um prédio, por um dentista que estava perto dele, ouvindo sua história."

Apesar de a carreira de comunicador não ter sido planejada, hoje, depois de 13 anos de Itatiaia, ele não se imagina fazendo outra coisa. Até admite ter sentido vontade de ser psicólogo, na época do vestibular, mas não investiu no ramo. Até isso, de certa forma, concretizou-se, já que Thiago oferece uma espécie de divã aos torcedores que participam de seus programas. Torcedores dos três times de BH têm igual espaço em seu ‘consultório’, já que ele cobre partidas das mais diversas. Na hora das entrevistas, chegam a ficar 3 mil a 4 mil pessoas em seu entorno, interessadas em abrir seus corações e liberar o verbo. Hoje, passou a ser acompanhado por um segurança, para evitar empurra-empurra ou agressões – apesar de garantir que isso nunca aconteceu, fora uma copada de cerveja que levou, logo no início da carreira.

Recém-papai de Bernardo, de 7 meses, Thiago tem uma rotina atribulada e só consegue organizar sua agenda quando sai a escala da rádio. Ele faz cobertura do dia a dia dos times e acompanha até a venda de ingressos, além de apresentar o programa Bola Premiada aos domingos. Tem ainda as participações na TV e seus compromissos como mestre de cerimônia e garoto-propaganda. Segundo sua mulher, Alessandra, ele quase não para em casa: "Mas o pouco tempo livre que tem, ele passa com a família", diz Alessandra. Sobre o futuro, Thiago reitera que não faz planos: "O que vier será de bom grado. Vamos esperar a escala sair."