Publicidade

Estado de Minas EDUCAçãO | CARREIRA

A hora da escolha

A dúvida sobre qual profissão seguir é sempre um dilema para os jovens que se preparam para entrar na universidade. Entre outras dicas, especialistas orientam pesquisar muito sobre a área pretendida


postado em 21/08/2014 14:42

Aluna do ensino médio do Colégio Loyola, Marina Bastos vai tentar engenharia de produção:
Aluna do ensino médio do Colégio Loyola, Marina Bastos vai tentar engenharia de produção: "Nossa insegurança vem de não entendermos bem a profissão escolhida" (foto: Pedro Nicoli/Encontro)
A facilidade com as ciências exatas levou o estudante da 3a série do ensino médio Henrique Campos, de 16 anos, a pensar na engenharia como profissão. Nada mais comum entre alunos: guiar a opção do curso pelas matérias com as quais têm mais afinidade no colégio. Para Henrique, no entanto, a decisão não foi definitiva e, antes de se inscrever para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em maio, mudou de ideia. O interesse pelo comportamento humano – adquirido quando começou a fazer terapia, aos 15 anos – falou mais alto. "Percebi como a terapia me ajudou e tive vontade de ajudar pessoas dessa forma. Descobri muito sobre mim e sei que outras pessoas poderiam se beneficiar disso também", diz.

Com outra opção em jogo, o jovem pesquisou mais a fundo as matérias do curso de psicologia, para ver se gostaria de estudá-las, e também as possíveis áreas de atuação do profissional, além de ter conversado com  psicólogas na feira de profissões  promovida anualmente pelo Colégio Logosófico, onde estuda. "Tive mais certeza de que era isso que queria", conta.

Henrique está entre os jovens que se empenham na decisão que assombra a maioria dos alunos do ensino médio: qual carreira seguir? É consenso entre os especialistas que a pesquisa é imprescindível nessa hora. "As disciplinas da escola são a primeira referência dos alunos, mas não devem ser a única. É preciso sair um pouco das matérias e pensar na atuação profissional, que virá depois do curso e que nem sempre tem relação direta com as disciplinas com as quais se tem afinidade na escola", explica a psicóloga escolar do colégio Bernoulli, Vera Grapiuna. "A pesquisa é importante, pois o jovem ainda é cheio de fantasias e ideias preconcebidas sobre as carreiras. Devem ser incentivados a buscar informações sobre a realidade do mercado e da profissão."

Carolina Tantikitmanee, do colégio Santo Agostinho:
Carolina Tantikitmanee, do colégio Santo Agostinho: "Não gosto da ideia de escolher outro curso no Sisu só porque a nota te possibilita isso" (foto: Geraldo Goulart/Encontro)
Orientadores profissionais ressaltam a importância de se refletir com tempo e empenho sobre o tema. E a dica é valiosa em tempos de Sisu (Sistema de Seleção Unificada), por meio do qual se selecionam os candidatos às vagas de instituições públicas de ensino superior. Isso porque, munido de sua nota do Enem, o aluno pode consultar, no sistema, em quais cursos consegue se inscrever com base em seu desempenho. Caso a nota não seja suficiente para ele entrar na graduação que pretende, pode optar por outro curso, que tenha nota de corte mais baixa.

"A nota do Enem não pode ser usada no ano seguinte. Assim, caso o aluno não consiga o curso que deseja, acaba escolhendo qualquer outro, apenas para garantir a entrada na universidade. Isso tem nos preocupado", diz a coordenadora do programa de orientação profissional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Delba Barros. Segundo ela, isso ocorre pelo fato de que ainda há muita pressão para o jovem brasileiro ingressar na universidade assim que sai do colégio. "Passar no vestibular é uma conquista não só do aluno, mas da família, da escola. Os jovens têm muito medo de errar", explica.

Apesar disso, o Enem trouxe uma vantagem, uma folga de alguns meses para os estudantes pensarem melhor sobre a profissão. Antes de fazer o exame em novembro, focam mais em estudar para obter uma boa nota. A partir daí, a inscrição para os cursos, por meio do Sisu, é só em janeiro seguinte, o que ainda dá algum tempo para quem não está certo do que pretende fazer.  "O processo ficou um pouco mais suavizado, especialmente porque são jovens de uma faixa etária em que três meses fazem diferença no amadurecimento",  diz Delba.

No processo de escolha, a escola tem papel importante. As instituições podem oferecer orientação para os alunos, por meio de reuniões coletivas e individuais com psicólogos, psicopedagogos e outros profissionais envolvidos na educação. Costumam, ainda, promover visitas a feiras de profissões e a espaços de trabalho como fábricas, empresas e redações de jornais. "A escola deve acompanhar o processo, também, por meio da análise constante do desempenho do aluno", diz a diretora geral pedagógica do Colégio Santa Maria, Maria Helena Menezes Carvalho.

O estudante Henrique Campos tinha pensado em cursar engenharia: acabou se decidindo pela psicologia, depois de conhecer as áreas de atuação desse profissional (foto: Samuel Gê/Encontro)
O estudante Henrique Campos tinha pensado em cursar engenharia: acabou se decidindo pela psicologia, depois de conhecer as áreas de atuação desse profissional (foto: Samuel Gê/Encontro)
A aluna do terceiro ano do Santo Agostinho, Carolina Tantikitmanee, de 17 anos, chegou à última série do Ensino Médio ainda sem ter resolvido o que queria fazer. Entre letras, moda, direito, psicologia, relações internacionais e ciências políticas, as opções eram muitas. Ao longo deste ano, fez testes vocacionais na internet e visitou uma feira de profissões, onde excluiu alguns cursos, como direito. Quando já estava tendendo para letras, preocupava-se com as críticas de outras pessoas, que sempre ressaltavam o fato de que teria de virar professora. "Até que parei de pensar que essa carreira seria um problema", diz.  Além disso, ao conversar com graduados no curso, viu que há outras carreiras possíveis, como o trabalho em editora. "Não gosto da ideia de escolher outro curso no Sisu só porque a nota te possibilita isso. Fui criada na filosofia de que se deve fazer o que gosta."

A estudante da 3a série do ensino médio do Colégio Loyola Marina Bastos, de 17 anos, decidiu qual será sua graduação após uma viagem com a turma da escola para os EUA, onde os alunos participaram de um curso de empreendedorismo na Boston College. Após a viagem, em junho passado, ela ainda estava em dúvida sobre o que estudar, mas tinha grande interesse pelo empreendedorismo em si. Pesquisando quais cursos e carreiras a levariam a trabalhar com isso, decidiu-se pela engenharia de produção. "Acho que, muitas vezes, a nossa insegurança vem porque não entendemos bem a profissão, e é isso que precisamos pesquisar antes de escolher", diz Marina.

A família também é pilar importante na escolha, principalmente no sentido de incentivar o jovem a procurar informações, além de apoiá-lo ao longo do processo. Vera Grapiuna, psicóloga do Bernoulli,  lembra, ainda, que os pais conhecem muito das características e gostos dos filhos e podem conversar sobre isso com eles. "Se o jovem quer fazer direito, mas não gosta de leitura, os pais podem apontar que essa é uma profissão em que é preciso ler muito e perguntar se o filho está disposto a isso, por exemplo", diz.

O essencial em todas as frentes, segundo os especialistas, é mostrar que a escolha não precisa ser definitiva e não estará "errada" caso o jovem decida mudar de curso – o que não deve isentá-lo de fazer uma opção bem fundamentada. "O aluno precisa saber que a escolha feita foi a possível naquele momento, circunstanciada pelo que então vivia", explica Delba Barros. Principalmente nos dias de hoje, em que a fronteira entre profissões está cada vez mais tênue, diz ela, o aprendizado que se teve no primeiro curso não será desperdiçado.

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade