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Estado de Minas

WhatsApp: existe idade certa para começar?

Não há consenso entre especialistas sobre quando as crianças devem ter acesso ao aplicativo. Mas episódios recentes de superexposição de menores mostram que, cada vez mais, é necessário orientação e cuidado na hora de deixar os filhos usarem a ferramenta


postado em 25/03/2015 14:19

Foi-se o tempo em que as famílias acessavam a internet pelo único computador que tinham em casa. Naquela época  - a mesma da internet discada -, a máquina era compartilhada e, muitas vezes, instalada em ambiente comum, onde todos conseguiam ver o que lá se passava. Difícil um cenário mais distante da realidade atual. Hoje, a comunicação na web é individual, restrita e reduzida ao tamanho da palma da mão. É nos smartphones que tudo acontece, inclusive grande parte da interação social na rede, sendo um dos protagonistas o WhatsApp. Não à toa, fica cada vez mais difícil para os pais acompanhar os filhos no ambiente digital.

(foto: Samuel Gê/Encontro)
(foto: Samuel Gê/Encontro)


E se engana quem pensa que as crianças ainda engatinham nesse meio. Segundo levantamento divulgado no ano passado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), a faixa etária de brasileiros entre 10 e 15 anos é a segunda que mais navega na web pelo smartphone, atrás apenas dos jovens entre 16 e 24. Isso porque não temos a comparação com o público de 5 a 9 anos, pois, até o último estudo, essa faixa não era incluída no escopo (para o próximo levantamento, já será). E não para por aí: também em 2013, estudo da organização Common Sense Media já havia atestado, nos Estados Unidos, que 38% das crianças com menos de 2 anos já usaram tablets ou smartphones para consumir alguma forma de mídia.

Esse cenário de "precocidade digital" exige que pais reflitam, cada vez mais cedo, sobre como agir quando os filhos começarem com o temido pedido: "me dá um celular?". E, verdade seja dita: casos recentes, especialmente relativos ao WhatsApp, não deixam de assustar quem está passando por esse momento de decisão. Mostram, também, como os responsáveis ainda não têm a resposta certa sobre o que fazer - o que pode gerar reações extremas. Um exemplo é o episódio do adolescente mineiro de 15 anos que divulgou no aplicativo, sem consentimento da namorada, um vídeo dos dois em momento de intimidade - e, em seguida, a mãe do garoto se filmou batendo no filho para mostrar à namorada que ele tinha sido punido pelo que fez. Esse vídeo também vazou e gerou polêmica na internet neste mês.

O fato é que não existe resposta certa sobre quando é a época ideal para as crianças começarem a ter acesso ao smartphone e, mais especificamente, ao WhatsApp. No entanto, é consenso entre especialistas a importância da orientação e da proximidade dos pais quando decidirem permitir esse uso. Aliás, segundo a psicóloga e psicanalista Túlcia Poggiali, pais devem preparar seus filhos para essa situação antes mesmo de autorizá-los. "A formação que a criança vem recebendo, desde pequena, será a base para que os equívocos do uso do WhatsApp, por exemplo, sejam evitados", diz. Afinal, a educação em termos dos comportamentos moral e ético adequados deve acontecer desde os primeiros anos de vida. Não estabelecer limites previamente e tentar mudar as regras de forma abrupta, diz Poggiali, pode trazer reação de difícil controle.

Segundo a especialista, o diálogo aberto e franco é o caminho, e é preciso conscientizar os pequenos dos riscos e do uso inadequado do aplicativo, como a exposição pessoal e familiar, o contato com estranhos, o risco de isolamento social e o comprometimento do rendimento escolar.

(foto: Denis Medeiros/Encontro)
(foto: Denis Medeiros/Encontro)


É na filosofia de diálogo transparente que apostam Rodrigo Neves, diretor comercial da TIM Minas Gerais, e sua mulher, Luciana Bellato. Os três filhos do casal, Arthur, Giulia e Sofia Bellato, de 11, 10 e 5 anos, respectivamente, já têm smartphones e são autorizados a usar o WhatsApp. Os dois mais velhos já têm grupos de amigos no aplicativo e aproveitam o recurso para conversar com os coleguinhas com quem conviviam em São Paulo e Recife, onde já moraram. Já a caçula, que ainda está em processo de alfabetização, consegue apenas marcar emoticons e gravar áudios, que manda para pais, avós e madrinha.

Para Rodrigo, o contato com a tecnologia é inevitável e, portanto, a opção da família é por construir uma relação de confiança e de diálogo com os filhos, no intuito de orientá-los bem quanto ao uso das ferramentas, seus possíveis problemas e riscos. "Por se tratar de crianças, também acompanhamos como estão as conversas, com quem estão batendo papo, mas sempre pautados em transparência e confiança", diz Rodrigo. "Não escolhemos privá-los do acesso, pois, futuramente, quando não conseguiríamos fazer isso de qualquer forma, é a confiança que vai prevalecer."

Pais que decidem autorizar o acesso dos pequenos ao WhatsApp devem estar sempre atentos aos filhos, segundo Poggiali, acompanhando de perto as atividades, o comportamento e as relações pessoais dos pequenos. Mas a psicóloga lembra que é sempre função e dever dos pais estabelecer limites. Então, cabe a eles avaliar se os filhos têm maturidade suficiente para compreender vantagens e desvantagens da ferramenta, além de ter condições de aceitar os limites do uso. A partir daí, decidem autorizar ou não. Para ela, o uso antes dos 9 anos pode ser inadequado. "A proibição, quando escolhida pelos pais, é no intuito de evitar que os filhos fiquem expostos a situações que estão fora do seu entendimento e para as quais não estão preparados emocionalmente", diz.

Essa é a opção atual do advogado José Otto Segui Temporão e sua mulher, a engenheira Cristiane Pinheiro Lima Temporão. O filho caçula, Bernardo, de 8 anos, ainda não tem celular. O mais velho, Caetano, de 10 anos, tem smartphone, mas não pode usar o WhatsApp ou outras redes sociais. As ressalvas, segundo o advogado, são várias. Ele diz que as mídias sociais são muito recentes e que até adultos ainda estão aprendendo a usá-las. "Não há qualquer sigilo, o que se escreve fica lá de maneira permanente. E as crianças ainda estão em processo de formação, aprendendo as maneiras de interagir socialmente", afirma José Otto.

Apesar de restringir as redes sociais, o advogado permite o uso de outros recursos, como  mensagens SMS, pois, de acordo com ele, essa comunicação é mais restrita "pessoa a pessoa", mais direcionada. "A questão é a interação social, os grupos de conversa. Crianças são distraídas, podem escrever o que não devem, o coleguinha pode entender errado. Elas não enxergam a consequência da má interpretação", diz. Contudo, José Otto sabe que é uma questão de tempo e tem tranquilidade ao responder aos filhos, quando eles questionam por que os coleguinhas usam o aplicativo e eles não. "Digo que eles também poderão usar. É só questão de respeitar o tempo", explica José Otto.

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