
Seu Hélio se aposentou cedo e seu irmão, que havia assumido a presidência da empresa, morreu alguns anos depois. Assim, em 1999, coube ao filho mais velho, Rogério Bousas, então com 28 anos, tomar a frente do negócio. Apesar da pouca idade, ele não se intimidou com o desafio. E os resultados mostram que o tino comercial realmente passou de pai para filho. Hoje, o grupo Classic, do qual fazem parte as quatro lojas da Serenata, inclui também a Michael e a Vogga (marcas próprias de instrumentos, comercializadas em cerca de 2 mil pontos de venda no país cada uma), além da empresa de logística Ícone, criada para suprir a demanda do próprio grupo, cujo galpão ocupa 9.200 m², área quase 30% maior do que o campo do Mineirão.

Rogério Bousas, que tem uma irmã e um irmão mais novos, enxergou cedo a importância dessas ferramentas. O grupo Classic tem conselho administrativo há seis anos. Segundo o presidente, a medida foi importante não apenas para que o negócio crescesse, mas também para que a família continuasse harmônica. "Construímos uma estrutura organizada, e isso deu abertura para cada um de nós fazer o que gosta", afirma. No processo de profissionalização da empresa, lembra, seus irmãos preferiram não atuar no dia a dia, apesar de ainda serem sócios e fazerem parte do conselho. "Temos os fóruns adequados para discutir questões relativas ao negócio, e todos sabem a regra do jogo", diz.

É comum, aliás, presidentes de segunda geração implementarem gestões mais colaborativas e técnicas. Filhos que estudaram mais sobre administração e vêm com ideias inovadoras costumam propor mudanças em relação ao que faziam os pais. Zica, por exemplo, diz que sua forma de gestão, em comparação à do pai, é mais aberta, com líderes mais comunicativos e objetivos estratégicos mais claros para a equipe. "A empresa atingiu, assim, três anos sem acidentes de trabalho, o que é um recorde no setor. Somos a primeira do segmento a ter a certificação OHSAS, de segurança e saúde do trabalho", afirma. Também implementaram programas internos de 5S (Senso de Utilização, Senso de Organização, Senso de Limpeza, Senso de Padronização e Senso de Disciplina), além de mais iniciativas sociais.

Edward Mason I e Edward Mason II passaram por isso durante a transição da presidência da empresa DCML, do ramo de venda e prestação de serviço para mercado de construção e mineração. "No final do processo, tínhamos alguns conflitos. Acho que eu estava querendo levantar voo e ele tentando pousar", conta o filho. Na época da sucessão, Edward II fez algumas mudanças em executivos-chave e diz que o pai ficou receoso com a "ousadia", mas acabou entendendo a posição. "Se eu tivesse mudado tudo de um dia para o outro, ele não teria gostado nada. Mas, como fiz mudanças cirúrgicas e nenhuma sem conversar e explicar a intenção, ele acabou aceitando", afirma. O executivo também implementou um sistema de meritocracia, definindo metas específicas e detalhadas para funcionários de todos os níveis, o que tem auxiliado o negócio, especialmente durante a crise. Deu certo. Em 2016, a empresa registrou o melhor faturamento dos últimos sete anos: 350 milhões de reais.

Se há quem faça carreira, desde o início, na empresa da família, esse não foi o caso de Bruno Nunes, presidente da marca de roupas masculinas Zak. Mesmo gostando de moda desde pequeno e com a certeza de que esse era o ramo no qual queria trabalhar, não quis se prender à companhia dirigida pelo pai. Na adolescência foi estudar na Inglaterra, onde também fez faculdade de administração. Enquanto estava na graduação, trabalhou por algum tempo como comprador para a Zak, mas depois se tornou vendedor numa loja da Emporio Armani, em Londres. Quando voltou, foi supervisor de vendas na empresa da família por alguns anos, depois se mudou para São Paulo, onde foi gerente de exportações na Ellus e gerente comercial da divisão de tecidos da Paramount Têxteis. Morou ainda no Rio Grande do Sul, onde trabalhou na divisão de vestuário da marca Olympikus. Só depois de toda essa experiência externa é que decidiu abrir uma loja da Zak em Porto Alegre e, em seguida, ajudar o pai nos negócios também em BH. "A empresa estava crescendo, e criamos áreas que antes não existiam, como estilo e marketing", afirma. "Quando vi, estava envolvido e fui conquistando meu espaço e confiança." Ele diminuiu o número de marcas de fora vendidas nas lojas, mantendo apenas três: Diesel, Ricardo Almeida e Armani Jeans. Hoje, a marca própria representa 90% dos negócios.

A naturalidade em algumas sucessões de presidência, como na Zak ou na Artec, pode ter sido facilitada pelo fato de que irmãos dos atuais diretores tenham preferido seguir outros caminhos profissionais. No caso da família Menin, por sua vez, a situação seria em tese mais difícil, já que os dois filhos homens de Rubens Menin, fundador da construtora MRV, se formaram em engenharia e iniciaram suas carreiras na principal empresa do pai.

A escolha não foi boa apenas para ele, como também para a empresa que decidiu comandar. "À medida que a família tinha alguém 100% do tempo lá, o negócio passou a ter mais importância", explica. "Isso ajudou a mostrar a relevância que a Intermedium Financeira poderia ter." Fundada em 1994, a empresa foi crescendo, conquistando novos mercados, abrindo-se para novos produtos, até se transformar no banco Intermedium- três anos depois da entrada de João Vítor. Para a família, a escolha do filho mais novo também foi interessante. "Talvez eu e ele pudéssemos entrar em conflito, mas, como tínhamos perfis diferentes e seguimos caminhos alternativos, isso não aconteceu", diz Rafael. "Foi bom para ele, para mim e, pensando nos ativos da família, o processo de sucessão também ficou equilibrado."

E eles estão certos. Segundo o professor Samir Vaz, se o processo de sucessão é estruturado, se há clareza em relação ao papel dos interessados e os fóruns de discussão são adequados, as companhias familiares têm grande potencial. "As empresas mais longevas ao redor do mundo são justamente as familiares, pois, nelas, os gestores tendem a ter compromisso com um horizonte de tempo maior e tomam decisões mais voltadas para sua sobrevivência, mesmo em momentos difíceis", explica. "O vínculo que existe entre membros da família e organização sugere comprometimento maior com história, valores e percurso trilhado", diz.

Mariana, o pai e o irmão, João Henrique, dirigem, cada um, uma regional do grupo. O fundador, ainda 100% ativo, fica em Goiânia, onde o negócio foi criado. O irmão mais velho de Mariana fica em Brasília, e a caçula foi escolhida para gerir os negócios em Minas. "Nosso pai já nos considera mais sócios do que sucessores", explica. E essa forma de fazer negócio tem funcionado. O grupo, que começou com uma loja em Goiânia, em 1992, já tem 30 concessionárias no país e representa sete montadoras. Só em BH, são cinco lojas, quatro das quais inauguradas sob gestão de Mariana. "Ele nos deu espaço para errar, entende a importância disso. Eu e meu irmão também nos respeitamos muito e respeitamos o espaço um do outro", completa.

Clique nos nomes abaixo e leia o perfil de cada um dos herdeiros:
Rafael Menin (MRV)
Edward Munson Mason (DCML)
Rogério Garcia (Serenata)
Mariana Abrão Normanha (Tecar)
Marcelo Cohen (Belvitur)
Bruno Nunes (Zak)
Henrique Simôes Zica (Minasligas)
Luiz Gustavo Magalhães Pereira (Tracbel)
João Vitor Menin (Banco Intermedium)
Elerson Murta (Artec)