
Engana-se quem pensa que o horário inibe o público. São mais ou menos 700 pessoas engajadas em começar assim o dia, no silêncio da aurora combinado com o som da voz suave e tranquila do padre Alexandre Fernandes, pároco da Nossa Senhora Rainha, no Belvedere. Esse rito especial acontece na quaresma há mais de uma década, e os fiéis não desanimam. Na verdade, para muitos, o evento já faz parte do calendário anual. É assim para o dentista Carlos Jaime Machado, que frequenta essa missa com sua mulher, a também dentista Cláudia Jaime, há 12 anos. "Dessa maneira, começamos mais cedo o encontro com Deus. Amanhecemos em silêncio, assistindo ao privilégio de o dia nascer", diz. "E não só nós pensamos assim. A cada ano, a missa nesse horário tem ficado mais cheia."

Quem está à frente dessa comunidade que só cresce é o abre-campense Alexandre Fernandes de Oliveira, de 50 anos. Mais novo de oito irmãos, oriundo de família católica – sua casa, na infância, ficava ao lado da igreja, que frequentava semanalmente –, padre Alexandre conta que sua vocação é antiga. Diz que estava certo de seu dom desde a primeira confissão, na primeira eucaristia, aos 7 anos de idade. A partir de então, foi trabalhando em direção a seu caminho na Igreja Católica. Após concluir o ensino médio, já em BH, cursou história e decidiu entrar para o seminário. Passou um ano em Bragança Paulista (SP), onde fez o noviciado (período da formação de um religioso que precede a emissão dos votos), e logo depois retornou a BH para o curso de teologia. Começou também a cursar psicologia, apesar de não ter chegado a se formar.

Depois de alguns párocos substitutos, que ficaram por poucos anos ou meses cada um, ele foi quem de fato permaneceu. "Quis construir laços com as pessoas que estavam aqui, buscando a confiança das famílias", afirma. "Fui visitando suas casas, aumentando gradualmente o número de missas, incentivando e multiplicando as atividades", completa. Deu certo. Desde então, fiéis, participantes e voluntários não faltam.

É mesmo o trabalho que o ocupa quase o tempo todo, e a palavra folga é rara em seu vocabulário. São de nove a 12 horas diárias envolvido com atividades religiosas. Isso porque, além de celebrar missas todos os dias (exceto às segundas-feiras), dirige a produtora da igreja e faz questão de estar a par de todos os projetos da paróquia. "É preciso saber delegar, mas me encontro sempre com os coordenadores dos projetos", diz. É ainda capelão do hospital Biocor e assessor de pastoral do colégio Magnum Agostiniano.

A empresária, aliás, diz que as atividades da igreja a fizeram se sentir amparada durante um difícil momento da vida. "Quando precisei, cada vez que fui até a igreja me senti muito fortalecida", explica ela, que passou seis meses morando em São Paulo e não encontrou essa mesma acolhida por lá. "Percebi muita diferença. Não vi lá uma igreja que me oferecesse tanto. Tenho orgulho de falar que a paróquia de que faço parte oferece tantas oportunidades de estarmos perto de Deus", afirma.

Segundo Moninha Quintero, coordenadora da rádio da paróquia, amiga e colega de trabalho do padre Alexandre há mais de 20 anos, o principal motivo para esse envolvimento do público é justamente o perfil do pároco. "Ele é um homem visionário", diz. "Tem o dom para levantar talentos, perceber as qualidades de cada um e colocar todo mundo para trabalhar", completa. As pessoas próximas garantem que ele realmente enxerga longe. Vislumbra projetos que, à primeira vista, parecem ambiciosos demais ou de difícil execução, mas que, no fim das contas, dão certo. Um exemplo é o congresso Mulheres na Linha, Homens com Foco, que está na quinta edição. Na última, realizada em março, participaram cerca de mil pessoas. Nessas cinco edições, o congresso trouxe palestrantes para discutir questões relativas não apenas à religião e ao catolicismo, mas também à formação humana, como o filósofo Leandro Karnal, o empresário Sérgio Cavalieri, a atriz Myriam Rios, o padre-celebridade Fábio de Melo e o cantor Leo Chaves, da dupla Victor e Leo.

Apesar de não ser um padre midiático, sua popularidade está entre as mais altas de BH. "Ele é um pastor: cuida de todo mundo", diz doutora Filó. "Tem uma abertura imensa para os jovens, é um grande comunicador e está antenado com questões do momento para trabalhar com as pessoas." Para a jornalista Lavínia Wiermann, a sensação de pertencimento à comunidade que o padre é capaz de incutir nas pessoas é o segredo do rebanho tão volumoso. "Nós nos sentimos como uma família aqui na paróquia", afirma ela, que vai sempre à missa com o marido, o administrador Willer Wiermman, e as filhas Laís, de 6 anos, e as gêmeas Laura e Luiza, de 3. "Ele não precisa de redes sociais. Só no boca a boca já consegue fazer conhecer o trabalho da paróquia", completa ela, que mora no Buritis.

Tamanha quantidade de atividades, demandas e fiéis exige, de fato, uma equipe grande. Além do aumento na quantidade de funcionários desde a entrada de padre Alexandre, cresceu a equipe de religiosos. Quando chegou à paróquia, era apenas o padre Alexandre a rezar missas e realizar as atividades de sacerdócio. Atualmente, a igreja conta também com padre Luís Henrique Eloy, que está no Belvedere desde o início de 2015, e o recém-chegado padre Leonardo Pessoa, que começou no final de março passado, depois de voltar de uma temporada de sete anos e meio estudando na Itália.

O bom currículo dos religiosos é um dos pontos apreciados por diversos frequentadores. Os padres Luís Henrique e Leonardo são dois dos três únicos brasileiros com o título de doutor em ciência bíblica concedido pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma. "Isso diz como essa comunidade tem sede por formação", explica padre Leonardo. "Em uma de minhas primeiras missas, algumas pessoas já me perguntaram sobre quando faríamos algum novo curso."

A Arquidiocese de BH reconhece o bom trabalho desenvolvido na paróquia Nossa Senhora Rainha. "Pessoas de diferentes partes da região metropolitana se unem para anunciar o evangelho e testemunhar a fé, principalmente a partir de importantes trabalhos dedicados aos mais pobres", diz o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo. "Agradeço aos caríssimos sacerdotes que integram a paróquia, vivendo com alegria a missão de servir, seguindo os passos do Mestre Jesus, bem como a todos os fiéis que nos ajudam na construção de uma Igreja servidora, dedicada a tornar o mundo mais solidário e justo." E não pense que, por serem três padres, a agenda deles fica mais folgada. Estão sempre envolvidos com compromissos relativos à igreja. Na Quarta-feira Santa, por exemplo, acontece uma espécie de "plantão" de confissão individual (que, em situações normais, ocorre apenas com hora marcada). Trinta minutos antes do horário de início do plantão deste ano, 15h, já havia 20 pessoas na espera e senhas haviam sido distribuídas.
Eles também precisam se desdobrar entre a igreja do Belvedere e a recém-fundada comunidade Bom Jesus do Vale, no Vale do Sereno, criada para atender aos fiéis da região. Atualmente, as missas são feitas em uma construção provisória, mas com capacidade para cerca de 500 fiéis. O terreno, de 5 mil metros quadrados, foi doado pela Vale do Sereno Empreendimentos Ltda. há três anos, e é onde será construída a capela definitiva. O projeto é de autoria do arquiteto Gustavo Penna e já está protocolado na Prefeitura de Nova Lima, aguardando aprovação. Atualmente, são celebradas missas às 10h nos domingos. Para quem veio para ficar um ano, a missão de quase 20 tem sido mais que abençoada.

Para dar conta de todas as atividades religiosas propostas pela paróquia Nossa Senhora Rainha – e agora também na comunidade Bom Jesus do Vale –, padre Alexandre conta, atualmente, com dois vigários paroquiais, Luís Henrique Eloy e Silva e Leonardo Pessoa.
Foi Luís Henrique Eloy e Silva quem chegou primeiro, em fevereiro de 2015. Rapidamente, tornou-se querido pelos frequentadores da igreja, que celebram sua oratória contundente e seu conhecimento ímpar da Bíblia. Resultado é que suas missas são sempre lotadas e seus sermões são até gravados pelos fiéis durante o rito. E isso não é à toa: ele tem mesmo um currículo respeitável. Bacharel em teologia pela PUC-Rio e mestre e doutor em ciência bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, o padre natural de Nepomuceno também é membro da Pontifícia Comissão Bíblica no Vaticano, coordenador da revisão final da tradução da Bíblia da CNBB, assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da CNBB e professor de exegese do Novo Testamento em duas faculdades. "Meus pais diziam que eu queria ser padre desde criança", lembra. "Eu mesmo sinto essa vocação desde os 11, 12 anos."

Antes de entrar no seminário, padre Leonardo cursou direito na UFMG, e foi justamente durante a graduação que se decidiu, de fato, pela vida religiosa. Depois de se formar, foi então para o seminário. Após ser ordenado, em 2007, e antes de ir para a Itália, trabalhou nas paróquias São Domingos de Gusmão, no bairro Ribeiro de Abreu, e Nossa Senhora da Paz, no Guarani. Tímido e discreto, é da opinião de que o que deve transparecer nas missas não é a personalidade do padre, mas sua mensagem. "Meu interesse não é que o fiel se lembre tanto do padre Leonardo, mas de algo que o tenha tocado no evangelho", diz.
Subordinados ao pároco, os vigários celebram missas, atendem confissões, fazem sacramentos, pregam em seminários e ajudam o sacerdote no que for necessário. Como ambos exercem outras atividades durante a semana, dando aula e estudando, os ritos de terça a sexta ficam a cargo de padre Alexandre. Já no sábado e domingo, todos dividem os horários das missas.
