postado em 12/12/2017 15:10 / atualizado em 12/12/2017 15:19
Passaram-se 120 anos e inúmeras transformações na paisagem da cidade. Da década de 1950 até hoje, a população saltou de 350 mil para 2,5 milhões de habitantes, de acordo com o censo do IBGE. Avenidas foram alargadas, cursos d’água canalizados e tampados para dar lugar a veículos que hoje passam de 1,8 milhão, segundo o Detran-MG. Proporcionalmente aos números, crescem também os desafios e preocupações cotidianas. A sensação de insegurança insiste em pairar sobre o dia a dia dos moradores. Congestionamentos não são mais apenas registrados nos tradicionais horários de rush. A Pampulha, Patrimônio Cultural da Humanidade, segue poluída, apesar de algumas melhorias. E os moradores em situação de rua se multiplicam a cada ano. São questões complexas que merecem atenção de todos. Para tanto, conversamos com especialistas que apontaram algumas possíveis soluções.
Despoluição da Lagoa da Pampulha
(foto: Thiago Mamede/Encontro)
A lagoa faz parte do Conjunto Moderno da Pampulha, alçado ao status de Patrimônio Cultural da Humanidade no ano passado. No entanto, ainda está longe do ideal. Apesar de ter atingido a categoria de classe 3, que permite atividades esportivas sem um contato demorado com a água, é possível notar a cor verde em determinadas partes da lagoa. Isso indica a presença de matérias orgânicas e algas. Em outras palavras: ela continua recebendo esgoto. De acordo com a Copasa, seu programa Caça Esgoto, que investiga lançamentos indevidos em galerias pluviais e sarjetas das ruas, permanece em andamento. A empresa, no entanto, informou que depende das prefeituras de BH e de Contagem, já que tais problemas dizem respeito também à urbanização de bairros vizinhos. “A lagoa tem de ser uma prioridade de política pública daqui para frente. Os primeiros passos foram dados para melhorar a qualidade da água, mas foram apenas remédios. É uma perspectiva de melhora temporária”, diz Marcus Polignano, coordenador do Projeto Manuelzão, da Faculdade de Medicina da UFMG, que surgiu em 1997, com a ideia de lutar por melhores condições ambientais, principalmente na Bacia do Rio das Velhas, que abrange municípios da Grande BH e da região central do estado. O projeto faz parte do Programa Pampulha Viva, que busca conscientizar moradores sobre os problemas decorrentes da poluição da lagoa e de cursos d’água que a alcançam. Trânsito
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Não é segredo para ninguém que a mobilidade urbana é um dos temas espinhosos das metrópoles. Como vimos na página 98, a frota urbana da capital mineira já ultrapassou o número de 1,8 milhão. Trata-se de 0,74 veículo por morador, a maior taxa do país. Nos últimos anos, ações para minimizar o inchaço no tráfego saíram do papel, como a implantação de ciclovias, mudanças de circulação no hipercentro (privilegiando os pedestres e o transporte público) e criação de pistas exclusivas para os coletivos. Mas, para o engenheiro e professor da Fumec Márcio José de Aguiar, especialista em transporte e trânsito, ainda é pouco. Faltam, segundo ele, ações contínuas e investimentos mais pesados. “Se continuarmos apostando em mobilidade apenas na superfície, vamos piorar”, diz. Por isso, ele aponta que o antigo projeto de novas linhas subterrâneas de metrô tem de sair de vez do papel. “Desde a década de 1980, planejamos a expansão metroviária, mas não conseguimos avançar um centímetro. As pistas exclusivas de ônibus não são, de fato, só para ônibus e existe ainda a carência de integração das estações do Move”, ressalta.
Criminalidade
(foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)
Os números apontam que a criminalidade na capital mineira vem diminuindo. Segundo recente pesquisa da Polícia Militar, comparado ao ano de 2014, houve redução de 14,6% no registro de crimes considerados violentos. Os furtos de veículos também tiveram queda, de 7%. Entretanto, a sensação de insegurança persiste. Pensando nisso, a Polícia Militar implantou, em agosto, 86 bases móveis em pontos estratégicos de BH, onde é possível, entre outras ações, registrar ocorrências. Espera-se também que as vans militares possam afungentar criminosos. De acordo com o sociólogo Frederico Couto Marinho, a iniciativa da PM é importante. Além disso, ele comenta que a atuação mais incisiva da Guarda Muncipal, agora armada, pode ajudar a evitar furtos e assaltos em regiões mais movimentadas como o hipercentro. Ele destaca, contudo, que um dos gargalos em relação ao tema diz respeito aos jovens e sua ligação com as drogas. “É preciso quebrar essa relação, muitas vezes facilitada pela evasão escolar”, diz Frederico, um dos pesquisadores do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG. Além disso, ele ressalta a importância de fortalecer as medidas socioeducativas impostas aos jovens que cometem infrações.
População de rua
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )
Atualmente, BH possui mais de 4,5 mil pessoas vivendo nas calçadas, praças, baixios de viaduto e lotes vagos. Esse número é 150% maior que o registrado no último Censo de População em Situação de Rua, apresentado há três anos e que contabilizou 1,8 mil pessoas. Em setembro, a PBH divulgou uma operação para atacar o problema que inclui abertura de abrigos, oferecimento de empregos e até a criação de guarda-volumes para as pessoas deixarem seus pertences. Mas a questão se vislumbra como problemática, uma vez que, segundo a professora Maria de Fátima Almeida, da Faculdade de Educação da UFMG, a tendência é do número de sem-teto aumentar, principalmente por causa da conjuntura econômica e o avanço do desemprego. Maria de Fátima já desenvolveu uma tese sobre o assunto e sabe das dificuldades que envolvem a abordagem aos moradores. “Não vai ser apenas a prefeitura que conseguirá tirar a população da rua”, diz. “Temos de envolver outros setores da sociedade, como organizações não governamentais.”
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