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Estado de Minas MINEIROS DO ANO 2017 | HELEY DE ABREU SILVA BATISTA

Heroína de verdade

A professora tentou impedir o vigilante que ateou fogo na creche Gente Inocente, em Janaúba, e morreu para salvar a vida de seus alunos de 4 e 5 anos. Graças a ela, a tragédia não foi ainda maior


postado em 03/01/2018 15:48 / atualizado em 03/01/2018 15:51

Retrato da professora Heley:
Retrato da professora Heley: "A mamãe morreu, mas salvou um bocado de criança", disse sua filha, Lívia, de 12 anos (foto: Arquivo pessoal)
A meninada estava eufórica. O Dia das Crianças se aproximava e as comemorações já estavam a mil na escolinha. O relógio marcava 9h40 da manhã de 5 de outubro. A professora Heley de Abreu Silva Batista, de 43 anos, estava em sala de aula acompanhada da turma de 1º e 2º períodos. Eles falavam sobre a magia do cinema, quando de repente a realidade se tornou pior do que qualquer filme de terror. Em um ato covarde, o vigia noturno do Centro de Educação Municipal Gente Inocente Damião Soares Santos, de 50 anos, tirou de uma mochila um galão de álcool e ateou fogo em crianças e professores que estavam no local. O desespero se instalou imediatamente. Enquanto alguns tentavam fugir do cenário de horror, Heley, mesmo com o corpo em chamas, lutou até o último minuto para tirar seus 15 alunos da sala tomada pelo fogo. Além disso, enfrentou o autor do ataque, bloqueando seu caminho para que não conseguisse avançar sobre os pequenos, protegendo-os. A professora só parou quando desmaiou. Sem sua coragem, a tragédia de Janaúba, cidade no Norte de Minas a 557 quilômetros da capital, teria sido muito maior. "Três palavras definem Heley: alegria, coragem e inspiração", afirma a diretora da creche, Aline Cristina Mendes Santos. "Ela não encontrava dificuldade em nada. Tudo estava bom."

Com 90% do corpo queimado, Heley morreu no hospital cerca de 11 horas depois da tragédia. O incêndio matou ainda outras 12 pessoas, entre elas, nove crianças. Quatro vítimas, sendo três meninos, continuavam internadas no início de dezembro.

Há 16 anos, Heley já havia vivido uma tragédia pessoal. Ela perdeu o filho Pablo, de 4 anos, afogado em uma piscina de um clube. O menino tinha a idade da maioria das crianças que morreu no incêndio da creche. "Heley amava seus alunos, amava ser professora. E sei que fez de tudo para salvá-las. É o tal do instinto materno", diz o marido, Luiz Carlos Batista. Estudante de odontologia, ficou com ele a missão de criar os três filhos do casal, Breno, de 15 anos, Lívia, de 12, e Olavo, de apenas 1 ano e 4 meses. "Outro dia a Lívia falou assim: ‘A mamãe morreu, mas salvou um bocado de criança’." É essa imagem que Luiz quer que os herdeiros guardem da mãe - uma mulher de garra e coragem, que estava sempre disposta a ajudar. "O que ela fez, poucas pessoas fariam: entregar a sua vida para salvar outras. Mas Heley era uma supermulher no dia a dia, com sua bondade, em seus pequenos atos de amor", diz.

Em um país onde professores precisam lutar diariamente por melhores condições de trabalho, Heley foi uma heroína de verdade: tanto na arte de ensinar quanto na maior missão de qualquer ser humano, a de amar o próximo.

  • Heley de Abreu Silva Batista
  • Nascida em Montes Claros (MG)
  • Morreu, aos 43 anos, em 5 de outubro, em incêndio na creche de Janaúba
  • Professora no Centro de Educação Municipal Gente Inocente
  • Deixa o viúvo Luiz Carlos %u2028Batista e três filhos

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