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Estado de Minas

Chácaras ocupavam a região onde hoje ficam os bairros Santo Antônio e São Pedro

Colégio, avenida e faculdade impulsionaram a modernização


postado em 23/07/2018 15:04

Vista da região em 1930: casas e árvores predominavam na paisagem(foto: Acervo Arquivo José Góes/Reprodução)
Vista da região em 1930: casas e árvores predominavam na paisagem (foto: Acervo Arquivo José Góes/Reprodução)
Nos primeiros anos de Belo Horizonte, as ocupações que brotavam fora dos limites da avenida do Contorno eram precárias. O engenheiro Aarão Reis, chefe da Comissão Construtora da Nova Capital, dividiu a cidade em duas partes: urbana, dentro do anel da Contorno, e suburbana, fora desse corredor. Assim, os primórdios do Santo Antônio, que hoje conhecemos como um dos bairros mais valorizados da cidade, eram rurais. "Podemos identificar as áreas em que se plantava cana-de-açúcar e roças, além de engenhos, olarias e cafezais que existiram na vertente do córrego onde hoje se encontra o bairro Santo Antônio, mais precisamente nas proximidades da rua Paulo Afonso", afirma o pesquisador Alessandro Borsagli em seu artigo "O Vale do Córrego do Leitão em Belo Horizonte: Contribuições da cartografia para a compreensão da sua ocupação".

A Colônia Agrícola Afonso Pena, que abastecia de alimentos a novíssima capital mineira, além de muitas chácaras, era também vista por ali. Mas, a partir de 1910, as primeiras moradias começaram a surgir no entorno do lugar chamado de Caixa-D’Água do Cercadinho, atual sede da Copasa. As residências, no entanto, eram bem humildes e conhecidas como cafuas. Elas abrigavam as famílias pobres da cidade, que não tinham condições de viver nas áreas mais valorizadas, como Centro e Funcionários. Mas a cidade começa a crescer. A região, por volta de 1937, ganha sua primeira linha de bonde e, consequentemente, mais moradores. Nos anos 1950, chegaria a vez de os trólebus atender os moradores e visitantes do bairro.

Comerciante Gege Angelini, que ajudou a fundar a associação do bairro Santo Antônio, ao lado da mulher, Laura, e da filha Maria Elisa:
Comerciante Gege Angelini, que ajudou a fundar a associação do bairro Santo Antônio, ao lado da mulher, Laura, e da filha Maria Elisa: "O Santo Antônio acabou virando um bairro de passagem. Muitos veículos cortam caminho por aqui" (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Nascido no município de Corinto, na região central do estado, Roberto Machado, de 77 anos, veio para a cidade grande, e o Santo Antônio foi o lugar escolhido para morar e criar seus três filhos. "Já naquela época, contávamos com boa oferta de serviços e de comércio. Havia padaria, sacolão e bancas de jornais e revistas perto de casa", diz o cirurgião-dentista aposentado, que gosta de escrever artigos sobre a história e o cotidiano do bairro. "Meu primeiro apartamento por aqui foi na rua Antônio Dias, que na década de 1970 tinha apenas dois ou três prédios. Ainda se resguardava um clima de interior", diz. Um edifício famoso do bairro é o que abrigou, a partir da década de 1960, a Faculdade de Filosofia. O imóvel, na rua Carangola, 288, foi cenário de perseguições a estudantes e professores, além de resistência contra o regime militar, que se instalou no país em 1964. Em 1990, a escola, agora, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, foi transferida em definitivo para o campus da UFMG, na Pampulha. A fachada do prédio foi tombada pelo patrimônio cultural, em 2014.

Gege Angelini é um dos entusiastas do bairro. Foi ele quem ajudou a fundar, em 2003, a Amorsanto, a Associação dos Moradores do Bairro Santo Antônio. O comerciante conta que as primeiras reuniões da associação foram realizadas na paróquia Menino de Jesus, na rua Nunes Vieira. Entre as pautas dos encontros, a segurança e o trânsito. A primeira questão foi amenizada com a criação da Rede de Vizinhos Protegidos, em parceria com a Polícia Militar, já a segunda continua sendo importante questão a ser tratada. "O Santo Antônio acabou virando um bairro de passagem. Muitos veículos cortam caminho por aqui", alerta Gege, hoje conselheiro da Amorsanto.

Vice-diretor administrativo do Colégio Marista Dom Silvério, Hélio Antônio da Silva:
Vice-diretor administrativo do Colégio Marista Dom Silvério, Hélio Antônio da Silva: "O bairro cresceu praticamente junto com o Marista" (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Se o Santo Antônio surgiu no entorno de uma caixa-d’água, o São Pedro começou a ser ocupado às margens do córrego do Acaba Mundo, aquele que hoje passa sob a avenida Nossa Senhora do Carmo. A exemplo também do bairro da Copasa, o São Pedro pertencia à parte suburbana da capital. Portanto, uma área, lá pelos idos de 1911, pouco habitada. Segundo a Coleção Histórias de Bairros de Belo Horizonte, da prefeitura da capital, o São Pedro, nessa época, contabilizava apenas 90 casas. O bairro experimentaria um processo mais avançado de ocupação a partir de 1920, mas foi na década de 1950, com a canalização do Acaba Mundo e a abertura da rodovia BR-3, atual Nossa Senhora do Carmo, que o lugar mostraria a que veio. Em 1955, o arremate final foi com a inauguração na rua Lavras, do Colégio Marista Dom Silvério.

Hélio Antônio da Silva conhece bem essa história. Ele é vice-diretor administrativo da escola, onde começou a trabalhar em 1976, como auxiliar de escritório. "O bairro cresceu praticamente junto com o Marista", diz Hélio, que se lembra da época em que a instituição oferecia um campo de futebol de terra para os alunos. E um dos ilustres estudantes foi o ex-goleiro do Atlético e da seleção João Leite, hoje deputado estadual.

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