
Aliás, no início do século passado, a região dos bairros Cruzeiro e Anchieta era pura terra. Nessa época, predominavam por lá fazendas e chácaras, que faziam parte da grande Colônia Agrícola Adalberto Ferraz, batizada com o nome do primeiro prefeito de Belo Horizonte. O núcleo, criado em 1899, dois anos após a inauguração da capital mineira, abastecia a cidade de alimentos. Mas não eram apenas frutas, carnes e legumes que partiam da região. Em 1897, foi construído o primeiro reservatório de água da cidade, hoje, integrado ao Parque Municipal Amílcar Vianna Martins, ao lado da Fumec. Até hoje o reservatório abastece os bairros Serra, Anchieta, São Lucas, Funcionários e parte do Cruzeiro.

Ieda Rodrigues, de 73 anos, mantém um bar/mercearia há quase quatro décadas na rua Itapema, no Anchieta. "Quando cheguei aqui era só matagal. Havia um brejo onde hoje é a avenida Francisco Deslandes", diz a simpática senhora, uma das comerciantes mais antigas da região, por isso, uma referência entre os moradores. Seu estabelecimento lembra aqueles do interior mineiro que vendem de tudo um pouco, de balas, chocolates, a cervejas e vassouras.
E o Cruzeiro? Os torcedores azuis podem até brincar dizendo que o nome do bairro é uma homenagem ao clube do coração, mas não é verdade. O nome surgiu depois que uma cruz foi colocada no alto da avenida Afonso Pena, onde hoje é a praça Milton Campos. O lugar aparece nas memórias do escritor Pedro Nava em sua obra Beira-mar: "Do pé da torre de alta voltagem e da cruz de madeira de que vinha o apelido do logradouro - olhávamos a cidade. Víamos a Afonso Pena como a Campo Elíseos de cima dum Arco do Triunfo". Foi ali também que foi planejada a construção da Catedral de Nossa Senhora da Boa Viagem, hoje localizada no Funcionários, na rua Alagoas. O plano de construção do que seria a nova catedral na Afonso Pena não foi para frente. Por outro lado, outra está sendo erguida no bairro Juliana, na região Norte de BH.

Essas intervenções possibilitaram a aberturas de novas ruas em bairros vizinhos e, sobretudo, no Cruzeiro. Foi nessa época, em 1974, que o mercado distrital foi inaugurado. O período foi marcado também por um salto populacional na capital. Entre as décadas de 1950 e 1970, de 352 mil habitantes, a cidade passou a contabilizar 1,25 milhão. O centro não mais comportava tanta gente, que passou a buscar outras áreas para viver. Assim, a dupla Anchieta e Cruzeiro estava pronta - e com espaço - para receber novos moradores.
