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Estado de Minas

O engenheiro belo-horizontino à frente da maior empresa de telecomunicação do Brasil

Eduardo Navarro comanda a Vivo desde 2016


postado em 22/11/2018 16:58

(foto: Carlos Della Rocca/Divulgação)
(foto: Carlos Della Rocca/Divulgação)
O ano era 1997. Recém-mudado para a Europa a trabalho, o belo-horizontino Eduardo Navarro estava em Portugal quando ligou para a mãe, Rita de Cássia Navarro Carvalho, que mora em BH. "Mãe, você não vai acreditar. Acabei de sair do shopping, onde comprei este celular do qual estou te telefonando. Saí de lá com ele falando!" Era mesmo inacreditável, pois, no Brasil, a situação era outra. Aqui, a telefonia estava a um ano da primeira privatização nesse setor. Isso significa que ainda era preciso entrar em fila de espera, com duração de dois a cinco anos, para se comprar uma linha telefônica fixa, pagando antecipadamente. Quem não tinha uma podia alugar de particulares. Adquirir linhas era até considerado investimento e fonte de renda para quem oferecia o aluguel. Os celulares eram caros e para poucos (lançado aqui em 1996, o aparelho Startac, da Motorola, por exemplo, custava até 2 mil reais na época, 20% de um Fiat Uno zero-quilômetro).

Eduardo estava na Europa justamente para compreender melhor como tinha funcionado o processo de desestatização por lá, no intuito de aconselhar empresas sobre como navegar nesse novo caminho no Brasil. Mas sua entrada no mundo das telecomunicações foi quase por acaso. O mineiro se formou em engenharia metalúrgica na UFMG e trabalhou por nove anos na Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira. Estava lá no início da década de 1990, quando a siderurgia foi o setor que inaugurou a privatização de empresas de grande porte no Brasil. Na ocasião, a consultora norte-americana McKinsey estava precisando de profissionais com experiência na área e o convidou para ajudar na reestruturação do setor no pós-privatização.

Na posse da irmã, Cláudia Navarro (ao centro), como presidente do Conselho Regional de Medicina, em outubro passado, com o cunhado, José Carlos Duarte, o sobrinho, José Carlos Lemos, e a mãe, Rita de Cassia Navarro Carvalho: ele vem a BH mensalmente para rever amigos e família(foto: Arquivo pessoal)
Na posse da irmã, Cláudia Navarro (ao centro), como presidente do Conselho Regional de Medicina, em outubro passado, com o cunhado, José Carlos Duarte, o sobrinho, José Carlos Lemos, e a mãe, Rita de Cassia Navarro Carvalho: ele vem a BH mensalmente para rever amigos e família (foto: Arquivo pessoal)
Eduardo percebeu que a próxima onda de desestatização no país seria ainda maior do que aquela pela qual haviam passado e seria em uma de duas frentes: energia ou telecomunicações. Apostando na segunda, pesquisou países do mundo que haviam passado recentemente pelo processo e um deles tinha sido a Espanha. Em 1997, arrumou as malas e foi para lá. Como sua previsão estava certa - em 1998, a Telebrás foi privatizada -, na McKinsey, pediram que o mineiro liderasse o projeto para entrada da Portugal Telecom e da Telefonica no Brasil (aliás, as duas grandes vencedoras nesse processo). Foi um pulo, então, para que fosse convidado para entrar na própria Telefonica. No grupo, trabalhou no Brasil de 1999 até 2005 e depois foi para a Espanha, onde ocupou diversas funções, primeiro no âmbito da América Latina, depois internacional. Foi responsável global de estratégia da companhia e depois responsável comercial digital. A familiaridade com a Vivo, que havia visto nascer, 20 anos antes, fez com que fosse convidado para voltar ao Brasil e assumir a presidência da companhia no país no final de 2016. Ele integrou, ainda, o conselho mundial da Telefonica, para cujas reuniões viaja à Espanha ao menos uma vez por mês. "Durmo melhor em avião do que na minha própria cama", brinca o mineiro, que obteve cidadania espanhola em 2010 e tem uma residência em Barcelona, onde adora velejar. "A Espanha é minha terceira casa, depois de São Paulo, onde moro, e, claro, BH", diz. A mãe confirma: "Ele saiu do Brasil, mas o Brasil nunca saiu dele. Ele gosta da nossa comida, desse jeito mineiro."

A ascensão profissional de Eduardo não teria sido tão certeira se tivesse sido meticulosamente planejada. O segredo, diz o engenheiro, não é traçar metas, mas sim estar atento aos movimentos do mercado. Como bom velejador, mantém as velas sempre prontas para serem içadas quando o vento está soprando a favor. A irmã, Cláudia Navarro, atual presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, diz que o cenário das telecomunicações era até impensável na época em que Eduardo estava começando a trilhar a carreira, pois o setor era outro. "Acho que isso nem era uma opção para ele. Foi um caminho mesmo natural", afirma.

Como presidente da Vivo, as responsabilidades do mineiro são imensas. A empresa, que presta serviços em telecomunicações fixa e móvel, banda larga, over fiber e TV por assinatura, é líder do setor no Brasil, com 97,8 milhões de linhas habilitadas entre celular e fixo, além da maior receita e a maior participação no mercado do segmento móvel (responde por 31,9% do market share). Em Minas, mais da metade das pessoas que têm celular pós-pago são clientes da Vivo, e a empresa está à frente também em termos de cobertura, com 98% da população contemplada. Se os serviços do setor no país não são mais desatualizados como eram na época em que Eduardo foi para a Espanha, a legislação ainda é - afinal, data de 1997. "A lei é absolutamente antiquada. Não há obrigação de colocar, por exemplo, celular na área rural, mas se exige que ninguém precise andar mais de 300 metros para chegar a um orelhão", afirma. "Acabamos gastando muito dinheiro para prestar serviços que não têm nenhum valor para a população."

Eduardo Navarro (de capacete laranja), com amigos, em 1990: na fábrica da Belgo Mineira, onde trabalhou por nove anos(foto: Arquivo pessoal)
Eduardo Navarro (de capacete laranja), com amigos, em 1990: na fábrica da Belgo Mineira, onde trabalhou por nove anos (foto: Arquivo pessoal)
As barreiras dos altos impostos e da legislação ultrapassada se somam aos cada vez maiores desafios da tecnologia digital, que é, inclusive, a principal alavanca de crescimento de receita da companhia. "Presenciei a revolução nas telecomunicações dos últimos 20 anos e estou convencido de que o que virá nos próximos 10 será muito mais rupturista", diz Eduardo. Fluxo de dados incessante, geração de informações sobre hábitos das pessoas a partir da tecnologia das coisas, inteligência artificial... Esse novo mundo exige novas práticas, novas regras e conduta ética. Atento a tudo isso, Eduardo encabeçou o lançamento pela empresa, em outubro passado, do manifesto Por um Novo Pacto Digital. "Há uma série de questões a serem debatidas, inclusive a quem vão pertencer essas informações - e estamos convencidos de que os dados pertencem a quem os gerou", diz. "Isso tem de gerar um código de conduta ética."

Apesar de conhecer bem as redes sociais por causa do trabalho, como pessoa física não é ativo nelas, pois evita exposição. Quando vem a BH, além de matar a saudade da mãe, irmã e sobrinho, adora ir ao Mercado Central com os amigos de época de colégio Santo Antônio comer fígado com jiló e tomar uma cervejinha. É orgulhoso de ser mineiro e comenta que percebe, no mundo, como os profissionais do estado são respeitados. "Na época das empresas públicas, as referências sempre foram as mineiras, como a Telemig", diz. "Mineiro é sério, confiável, dedicado, sempre tem o respeito das pessoas, onde quer que seja."

Sob a batuta de Eduardo, os números da Vivo vêm crescendo. No primeiro trimestre de 2018, em comparação ao mesmo período do ano anterior, o lucro da empresa saltou 10,2%, chegando a 1,1 bilhão de reais. Mas o reconhecimento não é só interno. Neste ano, ele integrou a lista dos Melhores CEOs do Brasil da revista Forbes e foi eleito melhor líder empresarial no setor de telecomunicações pelo prêmio Executivo de Valor, do jornal Valor Econômico. Os ventos continuam soprando a favor.

A revolução digital por Eduardo Navarro

Dados na rede: "Dependendo do número de curtidas que você já deu no Facebook, sua máquina já sabe mais de você do que o seu colega de trabalho. Com outras centenas, ela já sabe mais de você do que seu próprio cônjuge."

Futuro: "Presenciei a revolução nas telecomunicações dos últimos 20 anos e estou convencido de que o que virá nos próximos 10 será muito mais rupturista."

Privacidade: "Hoje, pelo celular, já é possível saber quais lugares você frequenta, as pessoas com quem se comunica. E se sabe que adimplentes tendem a andar mais com adimplentes e inadimplentes com inadimplentes. Munido dessas nformações, um banco pode até avaliar se deve lhe dar um empréstimo, se você é bom pagador."

Ética: "Dados poderão ser usados de muitas formas, e é sobre essa conduta ética que queremos debater. Pois achamos que esses dados pertencem exclusivamente a quem os gerou. Mas esse código de conduta ética hoje não existe"

Trabalho: "Todo mundo fala da reforma da lei trabalhista, que tocou em questões do século passado, mas a revolução que virá é infinitamente maior do que isso. O que vai acontecer nos próximos oito ou até quatro anos, nas cidades, no campo, será totalmente transformador."

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