
Eduardo estava na Europa justamente para compreender melhor como tinha funcionado o processo de desestatização por lá, no intuito de aconselhar empresas sobre como navegar nesse novo caminho no Brasil. Mas sua entrada no mundo das telecomunicações foi quase por acaso. O mineiro se formou em engenharia metalúrgica na UFMG e trabalhou por nove anos na Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira. Estava lá no início da década de 1990, quando a siderurgia foi o setor que inaugurou a privatização de empresas de grande porte no Brasil. Na ocasião, a consultora norte-americana McKinsey estava precisando de profissionais com experiência na área e o convidou para ajudar na reestruturação do setor no pós-privatização.

A ascensão profissional de Eduardo não teria sido tão certeira se tivesse sido meticulosamente planejada. O segredo, diz o engenheiro, não é traçar metas, mas sim estar atento aos movimentos do mercado. Como bom velejador, mantém as velas sempre prontas para serem içadas quando o vento está soprando a favor. A irmã, Cláudia Navarro, atual presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, diz que o cenário das telecomunicações era até impensável na época em que Eduardo estava começando a trilhar a carreira, pois o setor era outro. "Acho que isso nem era uma opção para ele. Foi um caminho mesmo natural", afirma.
Como presidente da Vivo, as responsabilidades do mineiro são imensas. A empresa, que presta serviços em telecomunicações fixa e móvel, banda larga, over fiber e TV por assinatura, é líder do setor no Brasil, com 97,8 milhões de linhas habilitadas entre celular e fixo, além da maior receita e a maior participação no mercado do segmento móvel (responde por 31,9% do market share). Em Minas, mais da metade das pessoas que têm celular pós-pago são clientes da Vivo, e a empresa está à frente também em termos de cobertura, com 98% da população contemplada. Se os serviços do setor no país não são mais desatualizados como eram na época em que Eduardo foi para a Espanha, a legislação ainda é - afinal, data de 1997. "A lei é absolutamente antiquada. Não há obrigação de colocar, por exemplo, celular na área rural, mas se exige que ninguém precise andar mais de 300 metros para chegar a um orelhão", afirma. "Acabamos gastando muito dinheiro para prestar serviços que não têm nenhum valor para a população."

Apesar de conhecer bem as redes sociais por causa do trabalho, como pessoa física não é ativo nelas, pois evita exposição. Quando vem a BH, além de matar a saudade da mãe, irmã e sobrinho, adora ir ao Mercado Central com os amigos de época de colégio Santo Antônio comer fígado com jiló e tomar uma cervejinha. É orgulhoso de ser mineiro e comenta que percebe, no mundo, como os profissionais do estado são respeitados. "Na época das empresas públicas, as referências sempre foram as mineiras, como a Telemig", diz. "Mineiro é sério, confiável, dedicado, sempre tem o respeito das pessoas, onde quer que seja."
Sob a batuta de Eduardo, os números da Vivo vêm crescendo. No primeiro trimestre de 2018, em comparação ao mesmo período do ano anterior, o lucro da empresa saltou 10,2%, chegando a 1,1 bilhão de reais. Mas o reconhecimento não é só interno. Neste ano, ele integrou a lista dos Melhores CEOs do Brasil da revista Forbes e foi eleito melhor líder empresarial no setor de telecomunicações pelo prêmio Executivo de Valor, do jornal Valor Econômico. Os ventos continuam soprando a favor.
A revolução digital por Eduardo Navarro
Dados na rede: "Dependendo do número de curtidas que você já deu no Facebook, sua máquina já sabe mais de você do que o seu colega de trabalho. Com outras centenas, ela já sabe mais de você do que seu próprio cônjuge."
Futuro: "Presenciei a revolução nas telecomunicações dos últimos 20 anos e estou convencido de que o que virá nos próximos 10 será muito mais rupturista."
Privacidade: "Hoje, pelo celular, já é possível saber quais lugares você frequenta, as pessoas com quem se comunica. E se sabe que adimplentes tendem a andar mais com adimplentes e inadimplentes com inadimplentes. Munido dessas nformações, um banco pode até avaliar se deve lhe dar um empréstimo, se você é bom pagador."
Ética: "Dados poderão ser usados de muitas formas, e é sobre essa conduta ética que queremos debater. Pois achamos que esses dados pertencem exclusivamente a quem os gerou. Mas esse código de conduta ética hoje não existe"
Trabalho: "Todo mundo fala da reforma da lei trabalhista, que tocou em questões do século passado, mas a revolução que virá é infinitamente maior do que isso. O que vai acontecer nos próximos oito ou até quatro anos, nas cidades, no campo, será totalmente transformador."