Publicidade

Estado de Minas MINEIROS DE 2018

Dra. Filó

Palestra da doutora Filó sobre educação na era do smartphone viralizou, foi ouvida no Brasil e no mundo - e transformou a médica em referência na relação entre pais e filhos


postado em 02/01/2019 14:28 / atualizado em 02/01/2019 16:56

Doutora Filó em seu consultório:
Doutora Filó em seu consultório: "Vivemos numa era em que a tecnologia entrou na nossa casa. Ela é maravilhosa, mas tem o outro lado" (foto: Samuel Gê/Encontro)
Quem ouve a voz suave da pediatra Filomena Camilo do Vale, ou doutora Filó, como é carinhosamente chamada por pacientes, não imagina que alertas tão graves quanto risco de síndrome do pânico, depressão e suicídio em crianças e adolescentes tenham sido sua principal pauta atualmente. Na verdade, não seria o caso - ninguém gostaria que esse fosse um assunto a ser tratado - não fossem tão gritantes as evidências de que os pais estavam precisando de ajuda nessa seara. No início de 2018, em sua palestra de abertura de ano letivo para pais de alunos de um colégio particular de BH, escolheu falar sobre os efeitos do uso de tecnologia de forma excessiva em crianças e jovens, a partir do que tem visto em seu consultório, em que atua há mais de 25 anos. E o que tem visto não é brincadeira.

Papo reto, sem melindres, ela contou casos de pacientes de 13, 12, até 8 anos que chegaram a seu consultório passando por situações como ansiedade e obesidade, crise de abstinência por drogas ou por smartphone e até tentativa de autoextermínio (nesse caso, uma criança de 10 anos). Filó identificou nesses meninos e meninas uma característica comum: a falta de autoestima. "Se a gente não cuidar da autoestima que a criança tem, da imagem que tem de si, ela, quando crescer, vai viver relacionamentos de migalha, vai viver mendigando amor", afirma. Ao bater o pé na importância de os pais darem limites aos filhos  - "rio só existe porque tem margem", diz sempre -, enfatiza como isso não pode excluir o acesso das crianças à internet e às redes sociais. "Vivemos numa era em que a tecnologia entrou na nossa casa. Ela é maravilhosa, mas tem o outro lado", alerta. E o outro lado que ela descreve é pesado: passa por cyberbullying, nudes, pornografia infantil e pedofilia. Com a voz suave, mas jeito firme, ela fala, sem rodeios, que criança não pode ter senha, que pais devem saber por onde os filhos andam e com quem, esperar os adolescentes acordados quando chegam de festas, e acompanhar o que acessam nas redes. Precisam estar sempre ligados.

O alerta ressoou nos pais. O áudio de 45 minutos gravado durante a palestra viralizou nas redes, especialmente pelo WhatsApp. Em BH - onde Filó é conhecida não só pela prática em consultório e no CTI pediátrico na Santa Casa, mas também pelo grupo de oração que conduz há 15 anos, atualmente realizado na igreja Bom Jesus do Vale (Vale do Sereno) -, virou o assunto do momento. Até em outras cidades e fora do Brasil pais receberam o arquivo. Como ela mesma diz, foi uma realidade rasgada. Mas necessária. Tanto que, desde que o áudio viralizou, ela já foi chamada para realizar palestras em diversas outras escolas - e os pedidos só aumentam, não apenas em ambientes educacionais. No último dia 21 de novembro, uma empresa de telecomunicações a convidou para palestrar sobre o tema também, e o auditório lotou.

"Ser pai é ser eternamente responsável por um filho, pois nem com a morte essa responsabilidade acaba, já que ele continua te chamando depois que você morre", diz Filó, com seu discreto sorriso de canto de rosto. "E não tem fórmula, se vai aprendendo ao longo da vida. Como eu e meu marido estamos aprendendo a ser avós", conta ela, que tem um netinho de quase 2 anos. "Na minha casa, meu marido é mais mole", afirma ela. "Eu, contudo, sou linha-dura."

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade