
Papo reto, sem melindres, ela contou casos de pacientes de 13, 12, até 8 anos que chegaram a seu consultório passando por situações como ansiedade e obesidade, crise de abstinência por drogas ou por smartphone e até tentativa de autoextermínio (nesse caso, uma criança de 10 anos). Filó identificou nesses meninos e meninas uma característica comum: a falta de autoestima. "Se a gente não cuidar da autoestima que a criança tem, da imagem que tem de si, ela, quando crescer, vai viver relacionamentos de migalha, vai viver mendigando amor", afirma. Ao bater o pé na importância de os pais darem limites aos filhos - "rio só existe porque tem margem", diz sempre -, enfatiza como isso não pode excluir o acesso das crianças à internet e às redes sociais. "Vivemos numa era em que a tecnologia entrou na nossa casa. Ela é maravilhosa, mas tem o outro lado", alerta. E o outro lado que ela descreve é pesado: passa por cyberbullying, nudes, pornografia infantil e pedofilia. Com a voz suave, mas jeito firme, ela fala, sem rodeios, que criança não pode ter senha, que pais devem saber por onde os filhos andam e com quem, esperar os adolescentes acordados quando chegam de festas, e acompanhar o que acessam nas redes. Precisam estar sempre ligados.

"Ser pai é ser eternamente responsável por um filho, pois nem com a morte essa responsabilidade acaba, já que ele continua te chamando depois que você morre", diz Filó, com seu discreto sorriso de canto de rosto. "E não tem fórmula, se vai aprendendo ao longo da vida. Como eu e meu marido estamos aprendendo a ser avós", conta ela, que tem um netinho de quase 2 anos. "Na minha casa, meu marido é mais mole", afirma ela. "Eu, contudo, sou linha-dura."