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Estado de Minas CIDADE | CARNAVAL

Como o Carnaval tornou-se o principal evento de BH

Há 10 anos, a capital mineira via surgir os primeiros batuques de rua. Hoje, são milhões de foliões e concorridas baladas privadas. A economia local agradece


postado em 19/02/2019 14:38 / atualizado em 19/02/2019 15:56

Michelle Andreazzi (Então, Brilha!), Geo Cardoso (Baianas Ozadas) e Aline Calixto (Bloco da Calixto): representantes de alguns dos principais blocos de BH esperam arrastar milhares de foliões(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Michelle Andreazzi (Então, Brilha!), Geo Cardoso (Baianas Ozadas) e Aline Calixto (Bloco da Calixto): representantes de alguns dos principais blocos de BH esperam arrastar milhares de foliões (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
De território fantasma no carnaval a capital de uma das maiores folias do país. É um case de sucesso, diriam alguns especialistas de negócios. Há 10 anos, bloquinhos de rua começaram a desfilar de maneira despretensiosa pelas ruas e avenidas ociosas da cidade - nem chegavam a atrapalhar o trânsito. Em alguns, caminhonetes faziam as vezes de trios elétricos. Já outros nem isso tinham. Apenas um tambor e marchinhas antigas na ponta da língua eram o bastante para angariar foliões. Foi em 2010, no entanto, que a coisa começou a pegar. O motivo foi o decreto do então prefeito Marcio Lacerda que proibiu a realização de eventos culturais na praça da Estação, na área central. Como resposta, um grupo de pessoas resolveu protestar de maneira, no mínimo, inusitada: homens de sunga e mulheres de maiô transformaram a praça da Estação em praia. O desejo de ocupar espaços públicos contagiou outros cantos e os bloquinhos começaram a brotar com mais força. Resultado: viraram "blocões". Hoje, os números da festa impressionam. Pelo menos 4 milhões de pessoas se divertiram nas ruas e avenidas em 2018 e a Belotur estima que, neste ano, esse número deve crescer 20%. Quase 600 blocos estão programando cortejos, e a festa deve movimentar mais de 640 milhões de reais (confira no box outros números da festa). Conforme pesquisa do Google realizada no ano passado, BH tem a segunda melhor folia do Brasil, perdendo para Salvador, mas à frente de São Paulo e Rio de Janeiro. Resumindo: todo ano é o maior carnaval que BH já viu - e agora virou um grande negócio.

O crescimento vertiginoso da festa vem obrigando a administração municipal a correr contra o tempo para organizá-la. "Não é a prefeitura que faz o carnaval. Ela apenas atende a uma grande demanda da população", diz Gilberto Castro, presidente interino da Belotur. Desde dezembro, cerca de 80 reuniões semanais estão sendo realizadas com representantes dos blocos para tornar a cidade viável tanto para quem curte a folia quanto para quem a despreza. Por isso, alguns blocos como o Chama o Síndico sofreram mudanças no percurso. A turma que celebra os compositores Tim Maia e Jorge Ben Jor vai desfilar neste ano na Pampulha, no domingo de carnaval. Em outros anos, o bloco desfilava na quarta-feira anterior ao feriado, na avenida Afonso Pena.  O grande diferencial do carnaval de BH, ressalta o representante da Belotur, é a descentralização. Os quase 600 blocos serão distribuídos nas nove regionais da cidade. "Não é interesse nosso criar blocódromos", afirma Gilberto.

Baianas Ozadas: clássicos do carnaval baiano e sucessos do tradicional Olodum vão marcar o cortejo(foto: Netun Lima/Divulgação)
Baianas Ozadas: clássicos do carnaval baiano e sucessos do tradicional Olodum vão marcar o cortejo (foto: Netun Lima/Divulgação)
Assim como o Chama o Síndico, o Baianas Ozadas, um dos maiores blocos da cidade, já teve de alterar, ainda em 2017, seus planos devido ao crescimento e profissionalização da folia. O bloco que homenageia ritmos baianos desfilou com um trio elétrico medindo seis metros de altura e 22 metros de comprimento, bem diferente do triciclo com caixas de som improvisadas seguido por cerca de 10 mil pessoas em 2013. A concentração, que vinha sendo realizada na praça da Liberdade, teve de ser transferida para a avenida Afonso Pena. Em 2015, vestidos de saias e com turbantes brancos, os foliões foram os primeiros a romper a barreira dos 100 mil. Em 2017, o bloco chegou a arrastar 500 mil pessoas.

O improviso já não é uma realidade para muitos blocos. Com isso, os gastos com a folia vêm crescendo. Para levar um som de qualidade a uma multidão, os grupos têm de recorrer a financiamentos coletivos, buscar patrocínios diretos ou concorrer ao edital de subvenção da prefeitura, que neste ano distribuiu 567 mil reais, divididos entre 84 blocos. "O carnaval só cresceu porque músicos da cidade investiram tempo e talento", afirma GeoCardoso, um dos fundadores do Baianas, que revela serem necessários cerca de 100 mil reais para botar o bloco na rua. Por isso, a batalha dele e de outros representantes de blocos é reivindicar à prefeitura apoio financeiro mais robusto.

Bloco da Calixto: sambista promete convidar o público para a uma viagem intergalática na Savassi(foto: Netun Lima/Divulgação)
Bloco da Calixto: sambista promete convidar o público para a uma viagem intergalática na Savassi (foto: Netun Lima/Divulgação)
A cantora Michelle Andreazzi, do Então, Brilha!, outro protagonista da festa da capital, afirma que o bloco a cada ano investe em novidades para tornar o cortejo inesquecível. Além do período carnavalesco, a banda do bloco - que sai junto com os primeiros raios de sol - realiza apresentações durante todo o ano. Essa, inclusive, é uma das fontes de financiamento para custear as despesas com o desfile. "A brincadeira virou trabalho", afirma Michelle, que, com o sucesso do Brilha, começou a receber demanda por aulas de canto, a exemplo de outros integrantes do bloco, que ensinam percussão. "O período do carnaval gera emprego e movimenta o comércio de toda a cidade", lembra a sambista Aline Calixto, que desde 2013 comanda o bloco que leva o seu nome, na avenida Getúlio Vargas, na Savassi. No primeiro desfile, 20 pessoas atuaram na produção, hoje, cerca de 120 trabalham em prol da festa da cantora. Neste ano, Aline vai estrear em outro bloco, o Filhas de Clara, que homenageia a cantora mineira Clara Nunes.

O público do carnaval, no entanto, não fica só seguindo blocos. Eles comem, fazem compras e se hospedam. A rede hoteleira da capital é um dos setores mais impactados. Conforme Erica Drumond, presidente da Associação Brasileira da Indústria dos Hoteis (ABIH-MG), a expectativa é de que hospedagens da região Centro-Sul registrem ocupação de até 100%. "Estamos recuperando um mercado que estava quebrado. E o carnaval por aqui não acontece apenas em uma semana", diz Erica, administradora do Hotel Ouro Minas e da VertHoteis. As redes, diz Erica, estão atentas à festa e já preparam atrativos para os hóspedes se divertirem.

Então, Brilha!: a concentração dos foliões começa ainda na madrugada de sábado de carnaval(foto: André Paiva/Divulgação)
Então, Brilha!: a concentração dos foliões começa ainda na madrugada de sábado de carnaval (foto: André Paiva/Divulgação)
Outro segmento que também está surfando na onda da folia é o de bares e restaurantes. "O período do carnaval já está se aproximando do natalino em termos de movimentação", diz Ricardo Rodrigues, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-MG). Sócio-proprietário do restaurante Maria das Tranças, Ricardo afirma que no ano passado seu estabelecimento, especializado em gastronomia mineira, abriu as portas na segunda de carnaval e o movimento foi semelhante ao do sábado, dia de maior movimento normalmente. "Sem dúvida, neste ano teremos um movimento ainda maior, o que contrasta com o passado, quando, inclusive, os donos de restaurantes viajavam", diz. Os comerciantes também têm optado por ficarem na cidade. A informação é de Marcelo de Souza e Silva, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-MG). "Alguns estão mudando o seu contrato social para vender no carnaval", diz. "Lojas que comercializam suvenires, perfumaria, fantasias têm impacto maior", diz. De acordo com Marcelo, o movimento no comércio da cidade vai começar a ser medido neste ano.

Se durante o dia a festa é por conta dos blocos, quando a noite cai, a folia continua a portas fechadas. O período já atrai a atenção de produtores culturais experientes da cidade, como é o caso de Tim Soier, que, ao lado dos sócios Cláudio Martins e Didio Mendes, vai promover a primeira edição do We Love Carnaval, no bairro Buritis. Durante quatro dias de festa, nomes famosos como Thiaguinho, Gusttavo Lima, Tuca Fernandes e a dupla Jorge e Mateus vão passar pelo palco. "BH é uma cidade conhecida pela qualidade dos eventos que faz. Além disso, os preços de hospedagem são mais acessíveis em relação a São Paulo ou Rio", diz Tim, que já foi sócio do Carnabelô e produtor de camarotes do festival Axé Brasil e de shows de Beyoncé, Elton John e Roberto Carlos.

Multidão toma conta da Praça da Estação, no ano passado: onde tudo começou(foto: Bitar e Paiva Fotografia/Divulgação)
Multidão toma conta da Praça da Estação, no ano passado: onde tudo começou (foto: Bitar e Paiva Fotografia/Divulgação)
Pelo sexto ano seguido, os sócios Lucas Vereda, Carlos Magno, Guilherme Rabelo e Eduardo Brandão, vão promover também um festa fechada durante a folia. O Carnaval do Mirante 2019, no Olhos D’Água, vai reunir em seis dias nomes como Zé Neto e Cristiano, Jorge Ben Jor, Anitta e Saulo. "Da mesma forma que tem quem curta o de rua, tem quem queira uma festa privada, com facilidades, serviços, mais banheiros e sonorização", afirma Carlos Magno. O espaço pode receber até 8 mil pessoas por dia. No evento realizado em 2018, todos os ingressos se esgotaram. Neste ano, a expectativa é de que o feito se repita. É ou não um case de sucesso?

Confira quando e onde vão desfilar alguns dos principais blocos de rua

Baianas Ozadas
O bloco é marcado por ritmos do carnaval baiano e, neste ano, vai homenagear os 40 anos do bloco afro Olodum
Quando: 4/3 (segunda-feira), às 8h
Onde: Avenida Afonso Pena

Baianeiros
Outro bloco que homenageia o carnaval de Salvador e que vem ganhando, a cada edição, mais foliões
Quando: 5/3 (terça-feira), às 13h
Onde: Rua Fernandes Tourinho com avenida Getúlio Vargas, Savassi

Beiço do Wando
O bloco celebra as canções do cantor Wando, morto em 2012. Neste ano, o desfile vai contar com a presença da cantora Gretchen
Quando: 3/3 (domingo), às 9h
Onde: Avenida Brasil, com avenida Afonso Pena, Funcionários

Bloco da Calixto
O tema deste ano é "Bloco da Calixto nas Estrelas" e a sambista, além de seu repertório carnavalesco, vai relembrar canções como Astronauta de Mármore e Alô Alô Marciano
Quando: 2/3 (sábado), às 12h
Onde: Avenida Getúlio Vargas, Savassi

Chama o Síndico
Clássicos de Tim Maia e Jorge Ben Jor são relembrados durante o percurso, que neste ano será na Pampulha
Quando: 3/3 (domingo), às 9h
Onde: Avenida Abrahão Caram, Pampulha

Então, Brilha!
O repertório é influenciado pelos clássicos baianos de bandas como Eva, Olodum e Timbalada
Quando: 2/3 (sábado), madrugada
Onde: Avenida do Contorno, com rua Curitiba, Centro

Funk You
Toca os sucessos do funk em ritmos carnavalescos, desde os clássicos aos mais atuais
Quando: 4/3 (segunda-feira), às 12h
Onde: Avenida Brasil, Funcionários

Havayanas Usadas
O cortejo vai homenagear a cultura latino-americana, por isso, neste ano, o repertório do bloco, além do axé music, terá lambadas, salsas e rumbas
Quando: 4/3 (segunda-feira), às 13h
Onde: Avenida dos Andradas, Pompeia

Acompanhe a programação dos blocos em nossas redes sociais.

Baladas na folia

Baile do Magal
Sidney Magal vai comemorar os seus 50 anos de carreira no carnaval de BH e vai relembrar sucessos como Sandra Rosa Madalena e Meu
Sangue Ferve por você
Quando: 5/3 (terça-feira)
Onde: Serraria Souza Pinto

CarnaRock
O tradicional evento para os roqueiros será realizado na Serraria Souza Pinto, com bandas como Tianastácia, Velotrol e Hard And Heavy
Quando: 2/3 (sábado)
Onde: Serraria Souza Pinto, Centro

Carnaval do Mirante
Com mais de 20 atrações que passeiam pela música eletrônica, funk, sertanejo, axé e samba. Entre elas: Zé Neto e Cristiano, Anitta, Jorge Ben Jor e VintageCulture
Quando: 1/3 a 9/3
Onde: Mirante Beagá, Olhos D’Água

Vila do Carnaval
Será montada estrutura para atender quem deseja fugir dos bloquinhos de rua, com restaurantes, espaço baby e atrações
como Pacato Cidadão, DJ Lauro Malloy e Rick e Ricardo
Quando: 2/3 a 5/3
Onde: Vila da Serra

We Love Carnaval
A primeira edição da festa vai reunir artistas como Thiaguinho, Gusttavo Lima, Tuca Fernandes, Jorge e Mateus e Alok
Quando: 2/3 a 5/3
Onde: Cidade do Carnaval, Buritis



Colaborou Marina Dias

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