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Estado de Minas GULOSEIMA

Coxinha é coisa nossa

Em BH, o salgado mais amado do país ganha recheios inusitados como rabada e pequi com castanha de baru. Saiba onde encontrar algumas combinações de dar água na boca


postado em 01/04/2019 13:57

Carruagem da Coxinha da Realeza: algumas delícias feitas pelo chef Eloi Moreira (ao lado, como garçom Júlio Miranda Neto) recebem recheios inusitados, como a de pequi com baru(foto: Violeta Andrada)
Carruagem da Coxinha da Realeza: algumas delícias feitas pelo chef Eloi Moreira (ao lado, como garçom Júlio Miranda Neto) recebem recheios inusitados, como a de pequi com baru (foto: Violeta Andrada)
Para quem acha que coxinha é coisa de balcão, saiba que o salgado mais famoso – e querido – do Brasil nasceu para frequentar nobres salões. Reza a lenda que nasceu no interior de São Paulo, em Limeira. No livro História, Lendas e Curiosidades da Gastronomia, a autora Roberta Malta Saldanha narra que, na Fazenda Morro Azul, vivia um filho deficiente da princesa Isabel e conde d’Eu. Era um menino difícil de alimentar, chato para comer. Sua paixão, no entanto, eram as coxas de galinha. Certa vez, a cozinheira da fazenda não tendo número de coxas suficientes para servir, resolveu transformar toda a ave em coxinhas. Para isso, teria desfiado os outros pedaços do frango e moldado em uma massa à base de farinha e batata. O menino adorou. Tempos depois, durante uma visita à fazenda, a imperatriz Tereza Cristina, vendo a felicidade do neto ao se deliciar com o quitute, resolveu experimentá-lo. Assim, a humilde coxinha virou comida de rei. 

Sem carne: o salgado mais pedido da loja A Vegana Empório, do casal Marcelo Antunes e Christiane Oliveira, é a de jaca, muito parecida com a textura da carne de frango desfiada(foto: Violeta Andrada)
Sem carne: o salgado mais pedido da loja A Vegana Empório, do casal Marcelo Antunes e Christiane Oliveira, é a de jaca, muito parecida com a textura da carne de frango desfiada (foto: Violeta Andrada)
Hoje, é comida de rei e plebeu. Está nas estufas dos botecos e também nos cardápios de restaurantes badalados. Nós, mineiros, podemos ter orgulho de dizer que a famosa coxinha de frango com catupiry nasceu em Belo Horizonte, na década de 1970, pelas mãos de dona Theresa Cristina Pinto Coelho, fundadora da Doce Docê. Casquinha dourada e crocante por fora, recheio farto e cremoso por dentro. Essa é a melhor descrição para uma coxinha perfeita. Com o passar dos anos, a receita vem sofrendo adaptações. Cozinheiros capricham nas invenções e criam recheios diferentes, capazes de conquistar os fãs do quitute. Tem até chef investindo pesado no salgado. 

É o caso de Eloi Moreira, do Eloi Bistrô, no Santo Antônio. Apesar de funcionar apenas sob demanda, o restaurante abre suas portas uma vez por mês para uma noite dedicada exclusivamente à coxinha. O cliente paga 49,90 reais e tem direito a comer o quanto quiser. São oito sabores, entre os tradicionais e ousados, como o de gorgonzola com molho de tangerina e pequi com baru e requeijão de raspa. “Há cinco anos, resolvi colocar no menu coxinhas que fugiam do convencional e a aceitação foi absurda”, diz Eloi. O negócio fez tanto sucesso que, em novembro, ele lançou a empresa Coxinha da Realeza. Em uma carruagem estilizada, o chef serve o salgado com diversos recheios em eventos fechados. Os garçons, inclusive, vestem trajes que lembram os de cocheiros reais. “As pessoas sempre me diziam que queriam servir coxinhas nas festas e não sabiam como. Resolvi esse problema”, brinca Eloi. Para completar, ele prepara chutneys de tangerina, limão e ketchup artesanal de goiabada para acompanhar o salgado. 

Dezesseis sabores do salgado: a de massa de abóbora com recheio de carne seca faz sucesso com a clientela de Sérgio Moreira e Cláudio Lazarini, sócios do Apaixonados por Coxinha(foto: Violeta Andrada)
Dezesseis sabores do salgado: a de massa de abóbora com recheio de carne seca faz sucesso com a clientela de Sérgio Moreira e Cláudio Lazarini, sócios do Apaixonados por Coxinha (foto: Violeta Andrada)
Com quase duas décadas de experiência, o chef Fred Trindade ficou ainda mais famoso entre os apaixonados por gastronomia ao criar sua famosa coxinha de rabada, em 2013. “Eu me inspirei no Twelve Bistrô, de São Paulo (hoje 12 Burger and Beer)”, explica Fred, que desenvolveu uma receita própria, onde a carne retirada no rabo do boi fica suculenta e extremamente macia. A porção do salgado sempre foi a mais vendida do restaurante Trindade, que fechou suas portas em dezembro. Mas os clientes não ficaram órfãos. O chef oferece os salgados (R$ 33, com 10 unidades) no Zé Trindade, no Mercado da Boca. 

Os veganos também têm vez. No A Vegana Empório, na Savassi, a coxinha também é o lanche mais pedido entre os frequentadores. Na loja, que tem um mix de mais de 200 produtos de origem vegetal como massas, molhos, cosméticos e até materiais de limpeza, o quitute é preparado com jaca desfiada e pode ser consumido no balcão ou ainda, levado para viagem, congelado (R$ 6). “Pelo menos duas vezes por mês fazemos um festival de coxinhas”, explica Marcelo Antunes, que é sócio da namorada, Christiane Oliveira. Durante o sábado, das 11h às 15h, a casa serve três sabores: jaca, brócolis com tofu e shimeji com barbecue. “No último evento tivemos de encerrar antes, porque não demos conta da demanda”, diz Marcelo. 

Hors-concours:desde que lançou a coxinha de rabada, em 2013, é o item mais pedido do cardápio do Zé Trindade do Mercado da Boca, do chef Fred Trindade(foto: Ingrid Cavalcanti)
Hors-concours:desde que lançou a coxinha de rabada, em 2013, é o item mais pedido do cardápio do Zé Trindade do Mercado da Boca, do chef Fred Trindade (foto: Ingrid Cavalcanti)
A versão vegana também aparece no cardápio do restaurante Patuscada, no Funcionários. O chef Diego Viana, que é vegano, tem investido cada vez mais em receitas que não levam nada de origem animal. Desde agosto, entre os petiscos, estão lá as coxinhas de jaca, brócolis com linguiça vegetal e cogumelos (R$ 28, a porção com seis). Elas são servidas com ketchup de goiabada e maionese de ervas. “Às vezes, em um grupo,  apenas um é vegano. Essas coxinhas atendem a todos”, explica Diego. Ele diz que alguns clientes não veganos ficam surpresos ao descobrir que aquelas receitas não levam carne. “A jaca é muito versátil e a pessoa jura que é frango”. No caso da linguiça, o chef usa como base tofu e aveia. 

Formado em marketing, Cláudio Lazarini resolveu ganhar dinheiro com a tal paixão nacional. Há três anos, ele inaugurou a lanchonete Apaixonados por Coxinha, na Afonso Pena, no Cruzeiro. “Na época, surgiam várias lojas especializadas em empadas. E, na hora, eu percebi que devia existir uma assim de coxinha, que todo mundo gosta. Não existe exceção. É todo mundo mesmo”, diz Cláudio, que mantém o negócio junto com o sócio, Sérgio Moreira. A produção diária é de 3 mil coxinhas, divididas em 16 sabores. As mais diferentes são a de carne seca preparada na massa de abóbora (R$ 7,50) e a de bobó de camarão (R$ 5,50). Entre as vegetarianas, fazem sucesso a de alho-poró (R$ 4) e de milho com requeijão (R$ 4). E tem também a esquisitona de filé com gorgonzola (R$ 4,90). A ideia do empresário é abrir outros pontos pela cidade. “Estou só pegando experiência, para depois franquear a marca.” 
Opção para todos: o trio de coxinhas veganas de jaca; linguiça vegetal; e cogumelos agrada mesmo os carnívoros, segundo o chef Diego Viana, do Patuscada(foto: Ronaldo Dolabella)
Opção para todos: o trio de coxinhas veganas de jaca; linguiça vegetal; e cogumelos agrada mesmo os carnívoros, segundo o chef Diego Viana, do Patuscada (foto: Ronaldo Dolabella)
Se depender do apetite dos brasileiros, o negócio tem tudo para ir longe. Um salgado que nasceu com a bênção de avó – mesmo que essa avó fosse a imperatriz do Brasil – não poderia dar errado. Coisa de avó não tem erro. É sempre coisa boa, seja dentro de um palácio ou na roça, à beira de um fogão de lenha.

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