
Nascido na pequena cidade de Pedra do Indaiá, localizada no Centro-Oeste de Minas, Ramiro cresceu na roça, ajudando a mãe e os irmãos é o quarto de seis filhos a buscar lenha no mato e água no rio. Nessas pequenas andanças, teve o seu primeiro contato com o barro branco, também chamado de tabatinga, o que anos depois viria a influenciá-lo em suas esculturas. Era com ele que, periodicamente, o reboco da morada da família era revitalizado. Quitandeira de mão cheia, a matriarca fazia biscoitos e doces para as crianças maiores venderem e ajudar nas despesas domésticas. "Vendíamos até alface. Para nós, era uma diversão e não uma obrigação. Aprendi muito com isso." Supersticioso, Ramiro diz que sua estrela brilhou logo ao nascer, quando a parteira percebeu que tinha vindo empelicado, o que ocorre em um de cada 80 mil partos. Nesses casos, o bebê nasce envolvido pelo saco amniótico. "Reza a lenda que é um sinal de boa sorte", diz.

Apesar do sucesso alcançado, a sorte só veio após muitos anos de trabalho e sofrimento. O gosto pelo desenho teve de ser deixado de lado porque o pai acreditava que aquilo era perda de tempo e "não dava futuro para ninguém". As brincadeiras de criança também foram sendo largadas para trás. Com o tempo, a bica d’água e o monjolo de milho, que tanto o inspiravam, foram sendo esquecidos.
Aos 10 anos, ele se mudou com a família para a cidade de Formiga. Aposentado por invalidez, o pai tinha o costume de acompanhar os filhos onde fossem morar. Assim, se mudaram para Divinópolis. Ao 18 anos, Ramiro começou a trabalhar como bancário e assumiu o seu primeiro relacionamento homossexual. Foi nessa época que foi apresentado a um artista plástico e começou a realizar trabalhos como modelo vivo. "Eu me encantava com aquele ambiente e com os cheiros da tintas." Com pouco dinheiro, conseguiu comprar uma tela e três tubos de tintas: preta, branca e amarela. Ali nasceu a sua primeira obra, que acabou sendo escondida debaixo de várias camadas de tinta. "Como eu não tinha condições de comprar outra tela, pintava sempre na mesma."

Pouco tempo depois Ramiro mudou-se para a capital mineira onde, após ganhar um curso de cabelereiro, iniciou sua carreira. Foi aí que se encontrou. "Eu sentia muita angústia por trabalhar em áreas que não diziam nada do que sou ou sinto, somente para agradar aos outros. Como cabeleireiro voltei a criar e consequentemente a pintar." A relação com o pai influenciou diretamente em seu desenvolvimento artístico. Aos 27 anos, o pai descobriu que o filho era gay e, pela primeira vez, conseguiu dizer o quanto o amava. "Eu me lembro de ele olhar nos meus olhos e perguntar o que podia fazer para compensar toda a ausência do passado", afirma. "Um ano depois, ele partiu. Isso mudou tudo em minha vida." Em suas telas e esculturas, o artista diz unir o olhar masculino ao feminino, já que “todos carregam essa dualidade dentro de si". Sem cultuar a perfeição, gosta de modelar corpos definidos, mas sem exageros. As pinturas passam pelo realismo, lúdico e o abstrato. Em 2018, sua primeira escultura feminina, chamada Eva, nasceu em homenagem à mãe – e por consequência, a todas as mulheres. Para Ramiro, elas são sinônimo de força e sustentação.