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Estado de Minas ARTIGO

A velocidade do tempo, por Paula Pimenta

Em seu artigo de junho para Encontro, escritora fala sobre como a vida passa rápido


postado em 07/06/2019 09:49 / atualizado em 10/06/2019 16:10

Em um fim de semana de maio estive no aniversário de uma amiga, que quis comemorar a entrada dos 45 em grande estilo... Uma festa como eu não ia há tempos, com muita gente, muita comida, muita música, muita animação! Lá estavam algumas das minhas amigas de infância e, talvez por vê-las com frequência, não consigo detectar sinais de envelhecimento, é como se ainda fôssemos as mesmas garotas de quando estudávamos juntas, como se o tempo não tivesse passado para nós. 

E era assim mesmo que estávamos nos sentindo. Jovens, animadas, com vitalidade de sobra. Até que a filha da minha amiga aniversariante, de 15 anos, veio nos cumprimentar, toda linda, sorridente e com aquele olhar de esperança que os adolescentes têm. Ela logo se afastou e nós comentamos como estava crescida e bonita. A aniversariante contou que ela já estava até namorando, e foi então que uma outra amiga minha fez a seguinte observação: “É assustador que nem há tanto tempo assim, nós éramos ela”.

Aquilo nos deixou meio pensativas e melancólicas. Realmente ainda “ontem” estávamos em festas de debutantes, com os primeiros namorados, muito sonhadoras, pensando que demoraríamos uma eternidade para ficar adultas... Mas não demorou tanto assim. 

Olhando de onde estou agora, parece que foram poucos dias, que em um momento eu estava na minha festa de 15 anos e que, ao acordar pela manhã, me deparei comigo no espelho, décadas mais velha. Talvez por isso eu goste tanto do filme De Repente 30, que tem exatamente essa temática, me identifico... A diferença é que, ao contrário da mocinha do filme, eu me lembro perfeitamente dos dias que separam a Paula adolescente da que hoje eu sou. 

Aos 15 anos eu tinha de dar satisfação de todos os meus passos. Havia um horário para chegar em casa. Eu não podia viajar sozinha. Para comprar o que quer que fosse, precisava pedir dinheiro para os meus pais. Eu me preocupava muito com o que os outros estavam pensando. Apesar de toda intensidade de sentimentos e força de vontade de sobra, naquela época eu só podia sonhar... 

Mas eu recordo também de tudo que veio depois. Eu me lembro da sensação maravilhosa de passar no vestibular, dos anos na faculdade, do dia em que tirei carteira de motorista, do primeiro estágio, dos primeiros empregos, das inúmeras festas, de todas as viagens, de todos os amigos que fiz, do lançamento do meu primeiro livro e todos que vieram depois, do dia que conheci o amor da minha vida, do nosso casamento, do nascimento da minha filha. Lembro de cada momento marcante que me fez ser quem hoje eu sou e, olhando daqui agora, eu não gostaria de trocar de lugar com a Paula de 15 anos. Sou feliz com a idade que tenho, e, especialmente, com tudo que vivi para chegar até aqui.

Depois daquele choque de realidade, quando notamos que já passamos dos 15 há muito tempo, eu e minhas amigas voltamos a nos divertir. As músicas da festa eram todas da “nossa época” (como minha mãe costuma dizer) e dançamos e cantamos com aquela euforia típica dos adolescentes, tão leves, soltos e livres, como se só aquela noite importasse. Notamos que, ao nosso lado, umas senhoras bem mais velhas do que nós estavam dançando também superanimadas, certamente nos olhando e pensando como o tempo tinha passado depressa desde que tinham a nossa idade... Sorri para elas sabendo que num piscar de olhos eu estarei ali. 

O tempo na festa passou rápido também. Quando dei por mim, já era madrugada, hora de ir embora, porque as obrigações do dia seguinte estavam me esperando. Mas dormi feliz, certa de que os anos que carregamos na carteira de identidade não querem dizer nada, é na alma que reside nossa verdadeira idade. Isso até abrir o WhatsApp na manhã seguinte e ver todas as minhas amigas reclamando dos pés doendo por causa do salto alto e da ressaca por causa dos (muitos) espumantes... 

Nesse aspecto, até que eu gostaria de voltar a ser a Paula adolescente. Junto com toda a experiência, bem que podia ter vindo de brinde aqueles pés que não sentiam dor e a resistência para noitadas... Porque hoje eu troco qualquer evento por ficar em casa. E qualquer salto por um bom par de havaianas! 

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