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Estado de Minas ENTREVISTA

Filme da Turma da Mônica foi inspirado em trabalho de ilustrador mineiro

Vitor Cafaggi conta como criou os quadrinhos que se transformaram em live action


postado em 25/07/2019 14:16 / atualizado em 25/07/2019 14:46

(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Quando era criança no bairro Sion, Vitor Cafaggi, de 41 anos, adorava desenhar. Essa era, de longe, sua melhor brincadeira. Em todos os seus desenhos ele imitava histórias em quadrinhos. Fã da Turma da Mônica, Vitor transformou a paixão pelo lápis e pelas historinhas com balões em profissão e se tornou quadrinista. Uma de suas graphic novels, Turma da Mônica - Laços, feita em parceria com a irmã Lu Cafaggi, levou quatro troféus HQ MiX e inspirou o primeiro filme dos personagens de Maurício de Sousa com atores de carne e osso, lançado, em junho, nas salas de todo o Brasil. A aventura com Mônica, Magali, Cebolinha e Cascão rendeu e o que era só uma revistinha virou uma trilogia. Laços foi seguida por Lições e encerrada com a edição Lembranças. Para os leitores que esperam uma próxima aventura, Vitor faz um comunicado que pode deixar alguns com o coração apertado: ele não pretende mais escrever quadrinhos sobre a Turma da Mônica. “Toda história precisa ter um fim”, diz o autor. Mas nem tudo é despedida. O artista está com vários novos projetos ganhando forma... Alguns deles, ele conta nesta entrevista.

1) ENCONTRO - Sua graphic novel inspira o primeiro filme da Turma da Mônica. Você gostou do resultado?

Vitor Cafaggi - O filme foi muito além das nossas expectativas. Aliás, nem esperávamos que Laços se tornasse um filme. Fiquei maravilhado. Claro que sou suspeito para falar. A história é a trama básica de Laços, com muita coisa também da turma clássica do Maurício. As cenas acrescentadas ficaram excelentes, complementam muito bem a mensagem que queremos passar. Eu me apaixonei pelas crianças e por todo o roteiro. Minha irmã, Lu, e eu (os dois assinam juntos a graphic novel), acompanhamos um pouco do processo, fomos às filmagens e vimos o carinho e o cuidado com que tudo foi tratado. Cada nova cena acrescentada ao enredo só fez o filme ficar melhor.

2) E como surgiu o convite para escrever para o Maurício de Sousa?

Apesar de eu ter crescido com forte influência da Turma da Mônica - sou o filho do meio e os meus dois irmãos, o Enzo, que é o mais velho, e a Lu, a mais nova, amavam as revistinhas -, meu personagem preferido é o homem-aranha. Há algum tempo, eu criei uma história sobre a infância dele e postei na internet. Foi a partir dessa tirinha que o editor do Maurício de Sousa,  o Sidney Gusman, conheceu o meu trabalho. Primeiro surgiu o convite para participar de uma edição de 50 anos da Turma da Mônica (MSP 50), em 2009, quando escrevi uma história curta para o Chico Bento. Depois veio o convite para fazer a graphic novel, onde tivemos total liberdade para criar inclusive nosso plano infalível.

3) O processo de criação da trilogia foi tranquilo para você?

Não, para mim foi bem sofrido fazer a primeira continuação de Laços. Durante o processo de criação de Lições eu cheguei a me sentir bem mal. Como não tinha tanta maturidade, queria ser perfeito... Já em Lembranças, até por ser a última da trilogia, tanto eu como a Lu estávamos bem tranquilos.

4) E o resultado te agradou?

Sim, gostei bastante. Em Laços, as críticas negativas foram a minoria, mas me abalaram. Quando comecei a escrever a continuação, sofri muito porque não queria decepcionar as expectativas dos fãs e ainda queria agradar àqueles leitores que não gostaram tanto. Com Lições queria agradar a todos... Hoje, sei que isso não é possível. Cada um vai se identificar mais com uma das três histórias. Talvez, por todo o processo intenso da criação, a minha preferida é Lições.

5) Você é casado, mas ainda não tem filhos. Em quem se inspira para compor os  personagens?

Eu me inspiro muito em minha infância. Tenho muitas lembranças, muitas mesmo.  Não só de situações, mas dos meus sentimentos, de como eu reagia diante de várias situações e os desafios que eu tinha de transpor. Lições, por exemplo, se passa no ambiente escolar, que é o mundo das crianças, era o meu mundo. Sempre que eu não estava na escola, estava envolvido com algum trabalho relacionado às atividades. Já no caso de Laços, também me inspirei no Vitor criança. Tem uma passagem na história que é uma fantasia da minha infância. Como não entendia nada sobre direitos autorais, tinha o sonho de que um dia a Turma da Luluzinha se encontrasse com a Turma da Mônica. Em Laços fizemos isso. Com outros nomes, a Turma da Luluzinha está lá. O Bolão é uma homenagem ao Bolinha.

6) Como foi fazer uma dupla com sua irmã, Lu Cafaggi, nessa trilogia?

Foi muito bom.  A Lu tem um traço diferente do meu, bem bonito e delicado. Em Laços ela desenhou as cenas de flashback e nós dois criamos a história.

7) E quando você descobriu que levava jeito, que tinha talento?

Na minha infância, fui uma criança tímida, gostava de me expressar desenhando e sempre no formato dos quadrinhos, com a folha dobrada. Passava horas do meu dia criando histórias. Gostava de ler também as revistinhas. Na minha casa, elas eram a recompensa para animar qualquer coisa, como o dia de vacina, por exemplo. Os personagens do Maurício de Sousa estavam em tudo, na roupa de cama, no moletom, nos cadernos. Eu me lembro que vovó morava conosco e ela lia e desenhava muito comigo. Cresci nesse ambiente. Sem jogar futebol, eu desenhava. Na Uemg, eu me formei em design gráfico e segui a profissão. Quando recebi o convite da agência onde trabalhava para ser diretor de comunicação, eu pensei: ‘Se não fizer quadrinhos agora, não farei mais e vou levar esse sentimento de nunca ter tentado’. Agradeci a proposta, pedi demissão e depois dos 30 anos comecei a criar tirinhas.

8) E o que você diria para a turma que quer dedicar-se aos quadrinhos profissionalmente?

Diria que não é fácil, mas é possível. Sou professor da Casa dos Quadrinhos e vejo que, em primeiro lugar, é preciso gostar muito. Desenhar é um trabalho solitário e de persistência. É uma prática diária, quanto mais treino e disciplina, mais talento você terá. Quanto ao mercado, ele não é simples, o segredo está em diversificar porque viver apenas dos quadrinhos é complicado. Existem outros trabalhos, ilustrações, por exemplo.

9) E o Homem-Aranha? Ele continua nos seus planos?

Sim (um pouco enigmático). Tenho planos de trabalhar com a Marvel.

10) Lembranças foi mesmo seu último trabalho com a Turma da Mônica? Nas primeiras páginas, o editor do Maurício de Sousa, Sidney Gusman, diz torcer para que a decisão seja revista...

Gostei demais de fazer a Turma da Mônica e fico muito feliz com as palavras do Sidney Gusman, mas agora preciso fazer outras coisas e o tempo passa rápido. Também não vou mais fazer o Valente, o cachorro humanizado que criei em 2010, inspirado na minha adolescência. Ele vai ser substituído por outro personagem. Toda história precisa ter um fim para que novidades aconteçam. 

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