Saiba quais são as causas e os tratamentos do bruxismo

O bancário Matheus Alves de Macedo sai por volta das 8 da manhã e muitas vezes só chega depois das 23h. Ele trabalha oito horas por dia e faz um curso de MBA à noite. Em sua rotina atribulada, não sobra muito tempo para outras atividades, como a prática de exercícios físicos. "Estou precisando, mas não tenho horário", diz. Há um ano, ele descobriu ter bruxismo. Foi sua noiva quem deu o alerta, por causa do ranger dos dentes durante a noite. E Matheus não é o único a sofrer com o problema. Aliás, longe disso. Caracterizado pelo hábito de apertar muito os dentes, o bruxismo acomete bilhões de pessoas em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 30% da população tem essa condição. No Brasil, esse número pode chegar a 40%.

O stress e a ansiedade estão entre suas principais causas. Eles levam o sistema nervoso a acionar uma atividade intensa involuntária (à noite ou durante o dia) dos músculos mastigatórios, ocasionado o ranger dos dentes. "É uma forma de extravasar a tensão", afirma Adriano Rafael Oliveira Santos, cirurgião dentista e técnico em prótese. Alguns estudos ainda relatam a predisposição genética como um dos fatores de risco. O bruxismo faz com que os dentes fiquem doloridos e, na maioria das vezes, desgastados. Se não tratado, pode destruir o tecido da gengiva e levar a problemas como a síndrome da articulação temporomandibular (ATM), a conexão entre a mandíbula e o osso temporal. "Além disso, pode afetar a mastigação, a estética facial e a fonética", explica Adriano.

O tratamento costuma envolver não só dentistas, mas também profissionais como psicólogos e fisioterapeutas. O problema atinge homens e mulheres e costuma ter maior incidência em adultos, mais propícios ao estresse e a ter dentes desalinhados. Pode ocorrer ainda em crianças que costumam sofrer dores de ouvido. Buscar controlar os fatores que desencadeiam o bruxismo é essencial. "É importante controlar o estresse e mudar o estilo de vida, para conduzir a melhora do quadro clínico", afirma Adriano. O uso de uma placa feita sob medida pelo dentista e ajustada aos dentes superiores, impede o impacto com os inferiores durante a noite.

O ranger dos dentes pode acontecer durante o dia ou à noite. "Mas, o período em que mais acontece é o da noite e costuma estar relacionado ao estresse que o paciente sofreu durante o dia ou a problemas na mordida", diz Adriano. Nesses casos, ele recomenda fazer uma espécie de "higiene do sono", respeitando a hora certa para dormir e acordar, com técnicas de relaxamento para obter o real descanso físico e mental.

Para tratar do problema, Matheus Macedo consultou Adriano e passou a usar a placa dentária. "Meu bruxismo estava tão intenso que rachei a placa com a mordida", diz o bancário. Foi providenciada outra, mais reforçada, que ajuda a aliviar a tensão na região maxilar. Ele conta que o ranger dos dentes continua, mas não mais todos os dias. "Quando estou mais estressado ou consumo bebida alcoólica fica mais forte", diz. Assim como a prática de atividade física, ele sabe que um acompanhamento psicológico ajudaria no tratamento, mas sua rotina corrida não permite.

No consultório da dentista Riane de Aguiar Paiva, especializada em estética dental e harmonização orofacial, mais da metade dos pacientes têm bruxismo. "Mas muitos não sabem nem percebem", afirma. O problema, diz, vem crescendo em função da rotina acelerada da população. A aplicação da toxina botulínica (botox) também é usada no tratamento do bruxismo. Essa foi a opção que a dentista Riane fez no tratamento da fisioterapeuta Patrícia Bonetti, que aplicou botox no masseter, o músculo que faz a mastigação. Ela teve o bruxismo diagnosticado há oito meses, quando começou a acordar com dores de cabeça e depois também nas bochechas. Inicialmente, uma placa foi indicada, mas ela quebrou. "Estou satisfeita com o botox, os sintomas melhoraram", diz Patrícia.

O diagnóstico do bruxismo é clínico, e não através de exame, explica Juliana Torres, fisioterapeuta e especialista em ATM (articulação temporomandibular). O padrão ouro para o tratamento do bruxismo, diz, é o restabelecimento da saúde dos músculos da mastigação, que são o maior problema no quadro. É a chamada propriocepção, a comunicação entre o cérebro e os músculos. "A terapia manual recupera  essa comunicação e ajuda o tecido muscular a se restabelecer", diz Juliana. Ela é defensora voraz do combate à causa do problema, que é o adoecimento muscular relacionado ao estresse emocional. "O suporte emocional é de muita importância", diz. O avanço nos seus tratamentos se deu depois que passou a aplicar as técnicas terapêuticas de programação neurolinguística. "O melhor remédio é caseiro: a paz e a harmonia no lar", afirma Juliana. Se a qualidade de vida é primordial no combate de muitas doenças, no caso do bruxismo ela é a chave da cura.

 

• Banho relaxante antes de ir para a cama
  
  
• Aplicar em ambos os lados da face uma toalha com água morna, para relaxar os músculos da mandíbula antes de dormir
  
  
• Técnicas de relaxamento e meditação
  
  
• Evitar o uso de celulares no momento que antecede o sono
  
  
• Não beber café ou qualquer bebida estimulante, como energético e chá preto, durante a noite

*Leia também na edição impressa (nº 217) de Encontro