
Especialistas são unânimes em apontar que a cobertura vacinal alta é a principal forma de evitar esse tipo de quadro. Os motivos por trás da perda de fôlego na cobertura são diversos e complexos, envolvendo o governo, que deve informar amplamente a população e garantir o fornecimento de vacinas; os profissionais de saúde, que precisam orientar os pacientes quanto à questão; e as famílias, que devem se engajar nessa batalha e estar atualizadas quanto às vacinas dos filhos.
Segundo o pediatra e epidemiologista José Geraldo Leite Ribeiro, secretário do departamento de vacinas da Sociedade Brasileira de Pediatria, é difícil a manutenção da porcentagem de cobertura, sendo raros os países que conseguem sustentá-la.
Na última quarta-feira (21 de agosto de 2019), o Ministério da Saúde anunciou uma dose extra da vacina contra o sarampo, que deve ser tomada por crianças que tenham mais que seis meses e menos que um ano de idade. Isso porque quase 1.700 casos da doença foram registrados entre 19 de maio e 10 de agosto somente em São Paulo.

Da parte das famílias, um dos comportamentos percebidos é que, ao não verem mais a ocorrência de algumas doenças, preocupam-se menos em se proteger contra elas. Contudo, segundo José Geraldo Leite Ribeiro, a proteção vacinal é justamente o motivo pelo qual esses patógenos não mais circulam. "Só temos uma doença erradicada no mundo, que é a varíola. Das outras, se não estamos vendo casos, é porque estamos vacinados contra elas", afirma.
Assim, é papel dos pais estar constantemente atentos ao calendário vacinal: tanto as crianças precisam ser imunizadas contra toda a gama de doenças para as quais a rede pública fornece vacinas quanto essa imunização deve ser feita no momento correto. Não é indicado que doses sejam dadas atrasadas, por desatenção dos responsáveis ou deliberadamente (por medo de reações em bebês muito pequenos, por exemplo). "É preciso conversar com o pediatra ou médico de família, que deve orientar os pais quanto ao momento da imunização", afirma José Geraldo. "As vacinas precisam ser dadas o mais cedo possível, dentro do recomendado, para que venham antes das doenças. Se o momento da vacinação é adiado, o risco de contato com o patógeno é maior. E em uma criança muito pequena, a infecção pode ser muito mais grave."

Quanto às vacinas disponíveis na rede privada e que não estão presentes no calendário nacional, Urbano orienta que as famílias conversem com seus pediatras para avaliarem a necessidade e, caso afirmativo, prescreverem. Nos postos de saúde, as vacinas do calendário são fornecidas o ano todo, independentemente de haver campanhas focadas em determinadas doenças. "A vacina é um direito e um dever. Mas acho que deveríamos focar, neste momento, na questão do dever, uma questão de cidadania", diz Urbano.
*Publicado originalmente em 23/10/2018