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Estado de Minas TENDÊNCIA

Moda sustentável ganha cada vez mais espaço entre consumidores e marcas

Para evitar o desperdício e os danos provocados pela indústria, surgem novas formas de criar, distribuir e produzir roupas


postado em 26/08/2019 13:51 / atualizado em 26/08/2019 14:21

A digital influencer Isadora Domingues, 29 anos, criou o projeto Sofisticada Sem Ser Cara, que incentiva mulheres a criar vários looks usando uma peça curinga.
A digital influencer Isadora Domingues, 29 anos, criou o projeto Sofisticada Sem Ser Cara, que incentiva mulheres a criar vários looks usando uma peça curinga. "Compreendi que não precisava gastar muito ou descartar uma peça só porque já não era nova" (foto: Leca Novo/Divulgação)
Pensar em moda sem pensar em sustentabilidade é mesmo algo démodé. O assunto extrapolou os limites da vaidade e chegou ao questionamento do excesso de consumo e suas consequências para o planeta. Em se tratando da indústria da moda, toda uma cadeia sustentável é diretamente afetada. Da agricultura vêm o algodão e o linho. Da pecuária, o couro, a pele e a lã. Do petróleo, o poliéster e outros sintéticos. Da floresta, a viscose. Da mineração, metal e pedras. Da linha de produção, mão de obra muitas vezes mal remunerada. Das passarelas, a obsessão por corpos perfeitos a qualquer custo, mesmo que o preço seja a saúde de várias adolescentes.

No livro Moda e Sustentabilidade: Design para a Mudança, os autores Kate Fletcher e Grose Lynda lembram que o universo dos estilos, tecidos e cores não inclui "o mundo por trás dos cabideiros, a tecnologia por trás do corte, a fibra por trás do tecido, a terra por trás da fibra ou a pessoa na terra". Considerando que o crescimento da indústria não é proporcional ao desenvolvimento de práticas sustentáveis, marcas famosas passaram a reconhecer os efeitos nocivos da cultura do algodão. Entre elas a C&A que, a partir de 2020, comprometeu-se a utilizar o insumo apenas na versão orgânica. Outras marcas assumiram que a prática do desperdício está entranhada na produção de roupas, chegando a 15% do material utilizado. Diante de tal constatação, reciclar se tornou uma palavra-chave. Celebridades como a duquesa Kate Middleton dão o exemplo, superando o preconceito de reutilizar roupas. Tanto que, em várias ocasiões, é vista repetindo looks, alternando apenas os acessórios.

Aos 22 anos, a administradora Joice Eliete de Freitas se considera uma mulher vaidosa. Busca, contudo, alternativas para não cair na cilada do consumo desenfreado.
Aos 22 anos, a administradora Joice Eliete de Freitas se considera uma mulher vaidosa. Busca, contudo, alternativas para não cair na cilada do consumo desenfreado. "Mantenho no meu armário apenas peças que combinam entre si e, principalmente, com o meu estilo de vida atual". Para ela, a ideia de multiplicar looks reduz os gastos e aumenta a criatividade (foto: Violeta Andrada/Encontro)
A escolha da duquesa reforça a necessidade da mudança de comportamento, especialmente após a tragédia de Rana Plaza, ocorrida em 2013, em Bangladesh. Na ocasião, um desabamento escancarou o que muitos já sabiam, mas fingiam não ver, deixando claro o lado obscuro da moda. Mais de 1 mil trabalhadores de confecções foram mortos e outros 2.200 ficaram feridos. A partir daí, consumidores em todo o mundo passaram a questionar em que tipo de condições vivem as pessoas por trás das máquinas de costura. O documentário The True Cost trouxe à tona como a indústria das fast fashions explora a mão de obra barata e esgota os recursos naturais. A boa notícia é que segundo o relatório The State of Fashion, da McKinsey, feito em 2017, 65% dos consumidores dos mercados emergentes consideram o respeito pela sustentabilidade um fator primordial na hora da compra.

Jovens antenadas como a mineira Isadora Domingues, de 29 anos, descobriram um novo nicho de mercado. A partir de suas próprias experiências, a digital influencer, natural de São Domingos da Prata, criou o projeto Sofisticada Sem Ser Cara, que incentiva mulheres a criar vários looks usando uma peça curinga. A proposta é vestir o que se tem no armário, mas de forma criativa. Cansada de ouvir comentários do tipo: "Você vai com esse all star velho de novo à balada?", Isa inteirou-se de algumas referências de moda e criou o seu próprio estilo. "Autenticidade é tudo. Não precisamos seguir nenhum padrão", diz. Para ela, a primeira mudança é de consciência, afinal roupa foi feita para durar. "Compreendi que não precisava gastar muito ou descartar uma peça só porque já não era nova. Também parei de comprar por impulso." Na hora da compra, a dica é visualizar o que se tem no guarda-roupas e pensar quais peças poderiam render boas combinações.

A princípio sem entender muito de peças básicas e combinação de roupas, a advogada Mariana Barroso Grossi, de 25 anos, descobriu que qualquer pessoa pode aprender a se vestir melhor.
A princípio sem entender muito de peças básicas e combinação de roupas, a advogada Mariana Barroso Grossi, de 25 anos, descobriu que qualquer pessoa pode aprender a se vestir melhor. "Percebi a importância de trabalhar, de forma consciente, a nossa imagem." E saber como reaproveitar as roupas e harmonizar os acessórios, foi fundamental. "Aprendi a valorizar o que eu sou e o que eu tenho" (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Mesmo que a duras penas, descobriu-se que chique é ser sustentável. E que é possível, sim, produzir e adquirir produtos sem pesar a consciência. Inspirado no movimento slow food, surgiu, então, o slow fashion, com o intuito de promover a conscientização sobre o consumo de moda. A ideia germinou e contagiou várias marcas que passaram a trabalhar com matérias primas menos poluentes, reduziram o desperdício e ampliaram o consumo sustentável de recursos de água e energia elétrica. Em 2018, a segunda edição do Projeto Estufa, apresentado na São Paulo Fashion Week, veio para reforçar a tendência, trazendo novas formas de criar, distribuir e produzir moda.

A bancária Antonelle Clemente Silva, de 40 anos, aproximou-se do universo da moda influenciada pela mãe, costureira. Desde adolescente, aprendeu a ter estilo sem se ater a tendências e modismos.
A bancária Antonelle Clemente Silva, de 40 anos, aproximou-se do universo da moda influenciada pela mãe, costureira. Desde adolescente, aprendeu a ter estilo sem se ater a tendências e modismos. "É preciso ter consciência do próprio biotipo e buscar looks versáteis e confortáveis. Assim, evitamos o desperdício e não cometemos o erro de vestir algo inadequado" (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Sete mandamentos da Ecomoda
 
  • Produção com fibras naturais (algodão orgânico, linho, lã, cânhamo) ou com tecidos alternativos, como os feitos com garrafa pet ou de fibra de bambu

  • Reaproveitamento de rejeitos de tecidos, couro ou materiais sintéticos descartados pela indústria

  • Ecojoias e biojoias, acessórios produzidos com matérias-primas recicladas ou naturais

  • Ecobags, bolsas confeccionadas com materiais sustentáveis

  • Doar, trocar ou vender peças que não estão sendo utilizadas

  • Saber compor novos looks usando peças curingas

  • Ter a consciência de que roupa não é descartável. Foi feita para durar

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