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Estado de Minas EDUCAÇÃO

UniBH quer se tornar a principal instituição de ensino superior particular do estado

Só nos últimos dois anos o tíquete médio dos alunos cresceu 40%; centro universitário foi inaugurado há 55 anos


postado em 27/09/2019 16:45 / atualizado em 27/09/2019 17:22

O campus do Buritis: 130.000 metros quadrados que antes pertenciam à construtora Mendes Júnior(foto: Violeta Andrada/Encontro)
O campus do Buritis: 130.000 metros quadrados que antes pertenciam à construtora Mendes Júnior (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Com fones de ouvidos e uma lata de Coca-Cola sobre a mesa, o reitor do UniBH, Rafael Ciccarini, recebeu a reportagem de Encontro pela primeira vez em uma tarde de julho. "Pode chegar", disse ele, depois de perceber a equipe de jornalistas. "Não sou chegado a formalidades." Fã de Beatles, ele tem 39 anos, é formado em história e tem mestrado em arte e doutorado em cinema. Seu jeitão mais despojado e sua trajetória fogem do clichê imaginário dos reitores, geralmente sisudos e oriundos de áreas como engenharia, direito e administração. Terno e gravata, apenas em solenidades. Seu modelo não muda muito no dia a dia: calça jeans, tênis (ou sapatênis), camiseta ou camisa social. Mantém sempre um blazer a postos para qualquer eventualidade - como a foto de capa desta edição. "Gosto de andar pelo campus e conversar com alunos e professores", afirma. "A universidade deve ser aberta."

Este é o mantra de Rafael Ciccarini, há dois anos à frente do Centro Universitário Belo Horizonte (UniBH). "Quero quebrar os muros da universidade e integrá-la de vez à cidade", diz. "Estamos fazendo jus à importância desta instituição, mas é hora de a levarmos para outro patamar." Seu objetivo e do grupo de educação Ânima - que no estado, além do Uni, abriga também o Centro Universitário UNA - é transformar a faculdade com cerca de 15 mil alunos na melhor instituição de ensino superior privada de Belo Horizonte. A meta é ousada, mas o caminho até ela já começou a ser trilhado e passa pela reformulação e gestão de cursos de graduação e pós-graduação, mais modernos e antenados como que se exige fora das salas de aula. "Quem ficar abraçado ao antigo modelo de educação perderá o sentido de existir. Nossa meta é fazer com que um aluno de engenharia, por exemplo, passe um semestre inteiro em um canteiro de obras", afirma. "Quem confere valor ao diploma é o mercado."

O reitor Rafael Ciccarini:
O reitor Rafael Ciccarini: "Temos o campus mais bonito da cidade. Por que não, além de oferecer laboratórios modernos e ótimo corpo docente, proporcionar arte e cultura aos estudantes e moradores?" (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Os números do Uni-BH mostram que a instituição está no caminho certo. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), o último Índice Geral de Cursos (IGC) do centro universitário, registrado em 2017, foi nota 4 (em 5), mesma pontuação da PUC Minas, hoje considerada a principal escola privada de ensino superior do estado. E essa qualidade vem sendo reconhecida pelos estudantes. Prova disso é que o tíquete médio, nos últimos anos, aumentou 40%, de acordo com Rafael Ciccarini, sem que o número total de alunos diminuísse. "Nossa meta é ser a principal escola superior particular do estado", afirma. Marcelo Bueno, CEO do Grupo Ânima (que reúne 114 mil estudantes, em cinco estados do país), está otimista. Ele afirma que, atualmente, não basta ter um diploma para se dar bem no mercado de trabalho. "O que importa é mostrar as competências que você tem a oferecer. É a qualidade que conta. É aí que o UniBH está saindo na frente", diz.

Além de estar mais antenado com o mercado, a ideia é escancarar os portões do centro universitário para os moradores da capital mineira. Em outras palavras, abolir a distância entre academia e sociedade, aproximando a universidade dos problemas cotidianos a sua volta. "Entendemos este espaço como uma cidade. Em um mesmo lugar, os estudantes podem aprender, refletir e se divertir. E, agora, convidamos Belo Horizonte a também participar desse processo", diz o reitor Ciccarini.

Coordenadora do curso de odontologia Carolina Dolabela Leal, entre os estudantes Ana Paulla Fernandes e Wanderson Ferreira da Silva, na mais nova clínica odontológica:
Coordenadora do curso de odontologia Carolina Dolabela Leal, entre os estudantes Ana Paulla Fernandes e Wanderson Ferreira da Silva, na mais nova clínica odontológica: "Em pouco tempo estarei pronta para o mercado", diz Ana (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Em julho, o Uni-BH inaugurou sua nova clínica de odontologia, no campus Buritis. O espaço oferece atendimento à população, com a previsão de receber cerca de 200 pacientes por semana. "Trata-se da clínica odontológica mais moderna da capital. Podemos realizar qualquer procedimento", afirma Carolina Dolabela Leal, coordenadora do curso de odontologia. A clínica tem, além dos equipamentos tradicionais, aparelho de raio X digital, laser e um bloco cirúrgico. Supervisionados por professores, os estudantes realizam atendimentos agendados e gratuitos. Seguindo a tônica de abrir o centro universitário à comunidade, dentistas em formação atenderam, ainda em julho, cerca de 40 crianças carentes que vivem em abrigos na capital. Ao longo do segundo semestre, a ideia é tratar da garotada de Brumadinho, afetada pelo rompimento da Barragem da Mina Córrego do Feijão. Essas ações sociais foram idealizadas pelos próprios alunos no projeto de ligas acadêmicas, entidades formadas por estudantes que têm a possibilidade de aprofundar-se em determinados assuntos em suas respectivas áreas.

Estudante de enfermagem Liziane Ribeiro de Melo:
Estudante de enfermagem Liziane Ribeiro de Melo: "É uma área que exige muita qualificação, por isso estou tranquila, apesar da apreensão natural de encarar o mercado" (foto: Violeta Andrada/Encontro)
É justamente essa liberdade que Wanderson Ferreira da Silva, de 19 anos, no quarto período da faculdade de odontologia, destaca. Ele, inclusive, é presidente de uma das sete ligas acadêmicas do curso. "A coordenadora não fica enclausurada atrás da mesa. Ela chama os alunos para gerirem o curso com ela. Isso faz toda a diferença", afirma. Ana Paulla Fernandes, de 21, é da primeira turma de odontologia do UniBH. Ela acredita que o curso tem tudo para firmar-se como o melhor do estado, sobretudo, devido à sua infraestrutura. "Em pouco tempo estarei pronta para o mercado", diz Ana, aluna do sexto período.

Liziane Ribeiro de Melo, de 39 anos, sente a ansiedade de quem está prestes a segurar o diploma, pois ela termina em dezembro o curso de enfermagem. "É uma área que exige muita qualificação, por isso estou tranquila, apesar da apreensão natural", diz ela, mãe da Giovanna, de 12, e Antonella, de 7. Liziane voltou a estudar depois de ter concluído o ensino médio, há 20 anos. Não se arrependeu da escolha, considerada por muitos tardia. "O campus do Uni e os professores nos acolhem. Ao final do curso, o sentimento é o de que estou conseguindo chegar lá", afirma.

Advogado Thales Catta Preta recém-convidado para ser o coordenador do curso de direito: intenção é transmitir a realidade da profissão aos alunos(foto: Mariana Prados/Divulgação)
Advogado Thales Catta Preta recém-convidado para ser o coordenador do curso de direito: intenção é transmitir a realidade da profissão aos alunos (foto: Mariana Prados/Divulgação)
O UniBH oferece cerca de 50 cursos de graduação e 25 de pós-graduação, distribuídos em três unidades: Buritis, Cristiano Machado e Lourdes. Mas, o coração do centro universitário é mesmo o campus Buritis, o maior da instituição. São mais de 130 mil metros quadrados de  área, adquirida no fim da década de 1990 da Construtora Mendes Júnior. A sinalização foi revitalizada recentemente e inspirada no buriti, árvore típica do cerrado. Por isso, seus espaços foram batizados de Raízes, Carandá, Palmas e Veredas.

O diálogo com o nome do bairro que o abriga não foi por acaso: revela a intenção de tornar ainda mais estreita a relação da escola com a vizinhança. "Platão, na Grécia antiga, pensou a universidade como algo separado da cidade, que era chamada de polis. Estamos fazendo diferente", diz Ciccarini. "Temos o campus mais bonito da cidade. Por que não, além de oferecer laboratórios modernos e ótimo corpo docente, proporcionar arte e cultura aos estudantes e moradores?"

Maria da Consolação Azevedo, professora dos cursos de pedagogia, psicologia e medicina:
Maria da Consolação Azevedo, professora dos cursos de pedagogia, psicologia e medicina: "Investimos nos trabalhos em equipe para aperfeiçoar competências socioemocionais" (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
A ideia de Ciccarini é inspirada em campi famosos pelo mundo, que costumam ser visitados também por turistas e moradores locais. É o caso de Harvard, no estado de Massachusetts, e Yale, em Connecticut, ambos nos Estados Unidos. "Mas há casos interessantes também na Austrália, Índia e Singapura", lembra. Na capital mineira, o campus Buritis já vem abrindo os seus portões para apresentações culturais que fazem parte do projeto Campus Aberto. Os cantores Criolo e Toni Garrido e as bandas mineiras Pato Fu e Chame o Síndico já se apresentaram por lá.

O clima descontraído e agradável do campus Buritis serve também para atenuar as pressões naturais da academia ou de quem está concluindo o curso. Para os católicos, há até uma capela dedicada a São Judas Tadeu, remanescente do terreno que pertencia à Mendes Júnior. O santo é padroeiro das causas impossíveis e há quem vá ali no período de exames pedir uma ajudinha nas notas. No entorno da igrejinha existe um convidativo jardim. É por lá que Maisa Braga Pereira, de 25 anos, gosta de estudar ou mesmo descansar entre uma aula e outra. Afinal, escolheu ser médica e o curso, como se sabe, é bem puxado. Ela vai  formar-se em dezembro próximo. O frio na barriga existe, confessa, mas Maisa se sente preparada para a profissão. Durante os internatos, período no qual os estudantes atuam em hospitais conveniados à instituição, a estudante revela que já ouviu a seguinte frase de médicos e enfermeiros dirigidas aos pacientes: "Pode ficar tranquilo. São os alunos do Uni". Para Maisa, a estrutura para os futuros médicos não deixa nada a desejar a nenhuma outra escola. "Temos todo o apoio necessário em laboratórios para treinar, por exemplo, procedimentos de emergência e urgência", diz ela, que vai  especializar-se em cirurgia.

A estudante de medicina Maisa Braga Pereira conta que já ouviu médicos e enfermeiras dizerem aos pacientes que seriam atendidos por ela e seus colegas:
A estudante de medicina Maisa Braga Pereira conta que já ouviu médicos e enfermeiras dizerem aos pacientes que seriam atendidos por ela e seus colegas: "Pode ficar tranquilo. São os alunos do Uni" (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Ainda como estudante, Maisa já teve a oportunidade de ministrar palestras para colegas e atuar em monitorias. E ela gostou muito de ensinar: "Quem sabe também não sigo a carreira acadêmica?" Se Maisa, de fato, quiser se enveredar para a linha da docência, poderá trocar algumas ideias com a pedagoga e psicóloga Maria da Consolação Azevedo, de 65 anos. Ela é uma das professoras mais antigas do UniBH. Começou a escrever a giz no tradicional e obsoleto quadro negro, em 1980, quando o Uni era Fafi-BH (veja a linha do tempo). O campus era na Lagoinha, região Noroeste da capital. Hoje, Maria da Conceição é professora dos cursos de pedagogia, psicologia e medicina. Nesses anos todos, ela vem percebendo a mudança do perfil dos alunos e afirma que a escola tem acompanhado essas transformações. "Hoje, os estudantes já chegam à sala de aula com muita informação, por causa da tecnologia", diz. "Por isso, investimos nos trabalhos em equipe para aperfeiçoar competências socioemocionais."

A graduação de pedagogia, um dos cursos que são ofertados na instituição desde a antiga Fafi-BH, fundada em 1964, está sendo reformulado e já a partir deste segundo semestre terá cara nova. "Será um curso disruptivo, completamente diferente do que temos por aí. Nele, o nosso aluno será o protagonista", afirma Carlos Donizeti da Silva, de 62 anos, coordenador da área. "Desde o primeiro período as aulas vão proporcionar o diálogo entre teoria e prática. Isso mostra que não estamos parados no tempo."

Festa junina, bate-papo com o cantor Toni Garrido e show da banda Pato Fu: Projeto Campus Aberto escancara os portões do ambiente universitário, no Buritis, para a comunidade(foto: UniBH/Divulgação)
Festa junina, bate-papo com o cantor Toni Garrido e show da banda Pato Fu: Projeto Campus Aberto escancara os portões do ambiente universitário, no Buritis, para a comunidade (foto: UniBH/Divulgação)
A aproximação de teoria e prática foi também o que motivou Marcos Roberto de Araújo, de 25 anos, a ingressar no curso de engenharia civil. Não se arrependeu. "O nome do Uni pesa, por isso, não tive dúvida em estudar aqui", diz ele, que está no oitavo período. "No curso, criamos um projeto que pode melhorar o trânsito em determinados lugares, substituindo parte do canteiro central de uma avenida por uma estrutura móvel", afirma. Assim, dependendo do fluxo de veículos, mais faixas poderão ser abertas ao trânsito. Marcos já atua na área e colhe os frutos de quem pode aprender algo em sala de aula, hoje, e aplicar no dia seguinte. Thaís Paula de Moura, de 22 anos, também já se vê na profissão. No 10º período do curso de engenharia ambiental, ela abriu uma empresa júnior e presta consultoria em projetos. "Além de compreender como são as demandas reais, estou fazendo um bom networking, o que não me deixa tão preocupada quando chegar a hora de pegar o diploma", afirma.

Colocar em prática o aprendizado dentro de sala de aula também é a tônica do curso de veterinária do Uni-BH, o maior do Brasil em número de alunos: cerca de 1.400. Em julho, durante 24 horas, estudantes da instituição e de outras escolas do estado puderam participar de uma imersão no hospital veterinário, também no Campus Buritis. Estudantes participaram de cirurgias, entre outros procedimentos em pequenos e grandes animais. "Já me sinto realizado. É isso o que desejo fazer na minha vida inteira", diz Lázaro de Faria Santos, de 31 anos, que no segundo período teve a oportunidade de conhecer de perto a labuta diária do médico veterinário. "A abertura que temos aqui é fora do comum. Desde o primeiro período, os alunos podem participar de atividades supervisionadas no hospital veterinário", afirma Karen Maria de Almeida, de 27 anos, estudante do 10º período.

Futura médica veterinária, Karen Maria de Almeida:
Futura médica veterinária, Karen Maria de Almeida: "A abertura que temos aqui é fora do comum. Desde o primeiro período, os alunos podem participar de atividades supervisionadas no hospital veterinário" (foto: Violeta Andrada/Encontro)
O hospital também atua em parceria com instituições de fora, como a Polícia Militar, que demanda radiografias de cavalos, e o Centro de Zoonoses da prefeitura, ao tratar de cães que receberam maus tratos. No segundo semestre de 2018, foram realizados cerca de 3,2 mil atendimentos de pequenos animais e mais de 1,5 mil cirurgias, de pequenos e grandes animais, como cavalos e ruminantes. "Temos uma estrutura completa que permite a formação do aluno em todas a áreas do médico veterinário", diz Bruno Antunes Soares, coordenador do curso. O hospital também realiza atendimentos ao público externo. Em sua maioria recebem cães, gatos, cavalos e animais exóticos.

A intenção de se aproximar mais do mercado levou o grupo Ânima a contratar profissionais considerados referências em suas áreas para atuarem como patronos dos cursos: Ronaldo Fraga (moda), Thales Catta Preta (direito), Gustavo Penna (arquitetura e urbanismo), Gustavo Greco (design) e Ozires Silva (engenharia aeronáutica). "A intenção é que esses profissionais passem suas experiências reais para os alunos", afirma Thales.

Estudante de engenharia civil Marcos Roberto de Araújo e Thaís Paula de Moura, que cursa engenharia ambiental:
Estudante de engenharia civil Marcos Roberto de Araújo e Thaís Paula de Moura, que cursa engenharia ambiental: "O nome do Uni pesa, por isso, não tive dúvida em estudar aqui", diz Marcos (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Assim, o UniBH caminha para atingir a ousada meta de tornar-se a principal universidade privada do estado. Caberá apenas ao tempo responder se, de fato, a instituição conseguirá alcançar o objetivo. Enquanto escuta Hey Jude, Yesterday ou Helter Skelter nos fones de ouvido e beberica sua Coca-Cola, Ciccarini continua sonhando em ver os muros da universidade no chão. Com o olhar absorto no jardim de frente à sua sala, ele parece conseguir ouvir as marteladas que quebram, um a um, os tijolos que ainda separam o campus de Belo Horizonte.

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