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Estado de Minas PATRIMÔNIO

Casarão centenário da rua Sapucaí, em BH, passa por reformas

Imóvel, que fica no bairro Floresta, foi a sede da Rede Ferroviária Federal ficou mais de 10 anos fechado


postado em 17/10/2019 23:23 / atualizado em 23/10/2019 15:28

A fachada com a pintura restaurada: arquitetura eclética mistura o clássico, barroco, medieval e renascentista(foto: Geraldo Goulart/Encontro)
A fachada com a pintura restaurada: arquitetura eclética mistura o clássico, barroco, medieval e renascentista (foto: Geraldo Goulart/Encontro)
No número 383 da rua Sapucaí um casarão antigo surge imponente entre os prédios. As janelas da construção, protegidas pela locomotiva do século XXX, estacionada no jardim, testemunharam os trens que chegavam à Praça da Estação, trazendo materiais e empregados que ajudaram a construir a nova capital mineira. Hoje, do mesmo lugar é possível ver algumas das obras que compõem o Mirante da Arte Urbana, pintadas em muros e empenas cegas do centro. Aqui, a BH contemporânea convive em harmonia com a memória do seu passado.

O casarão ficou conhecido por ter sido a sede da Rede Ferroviária Federal, empresa estatal que administrava estradas de ferro brasileiras. Embora a sua construção tenha começado no início do século XX, foi só na década de 1930 que o prédio de estilo eclético chegou ao formato visto hoje. Marcada pela mistura entre o clássico, barroco, medieval e renascentista, a arquitetura eclética é facilmente encontrada nas construções erguidas nos primeiros anos de Belo Horizonte, como o Palácio da Liberdade e a Serraria Souza Pinto.

A locomotiva do começo do século XX (acima) pode ser observada por quem passa em frente ao local(foto: Geraldo Goulart/Encontro)
A locomotiva do começo do século XX (acima) pode ser observada por quem passa em frente ao local (foto: Geraldo Goulart/Encontro)
Para a superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Célia Corsino, o patrimônio ferroviário está no DNA dos mineiros. "Não é à toa que tudo aqui é trem", diz. "As ferrovias trouxeram uma ideia de desenvolvimento e integração ao nosso estado." Mas, quando a Rede Ferroviária Federal foi privatizada, no fim da década de 1990, as 50 salas espalhadas pelos 3 mil metros quadrados do casarão se tornaram depósitos de sinos, placas, maquinários, plantas e documentos da história das estradas de ferro. A vida voltou à casa, graças a uma parceria entre o Iphan e a Multicult, empresa organizadora da CasaCor Minas. O casarão estava fechado há 10 anos, quando Célia Corsino teve uma ideia: sediar a mostra de decoração. "Só precisaríamos fazer algumas reformas", diz Juliana Grillo, diretora da Multicult. Por meio de um projeto inscrito na Lei de Incentivo à Cultura, Juliana conseguiu angariar 1,7 milhão de reais para iniciar a obra. A restauração começou e o casarão da Sapucaí foi a sede da CasaCor em 2017 e 2018.

Uma das áreas que mais deu trabalho na restauração foi a fachada camurça do imóvel. Maria Caldeira, restauradora com mais de 30 anos de experiência, usou seis tipos diferentes de massa para tentar recuperar a parede. Sem sucesso. Ao analisar o material original, descobriu o porquê. "Antigamente, as pessoas usavam terra de formigueiro ou cupinzeiro para fazer o reboco", diz. "Ela deixa a parede respirar, é leve e firme ao mesmo tempo." Maria conseguiu a terra de formigueiro por meio de doações. Encontrar as cores originais da construção também foi um trabalho e tanto. O cuidadoso bisturi de Maria Caldeira retirou sete camadas de tintas até chegar aos tons usados no começo do século passado. E a pequena escavação encontrou algo além das cores: as paredes do casarão possuem várias pinturas que simulavam revestimentos nobres, como pedras de mármore e painéis de madeira, materiais caros e que teriam de ser importados.

Dentro do casarão de 3 mil metros quadrados técnicos revitalizam detalhes, como os arcos das paredes, escada em peroba e lustres(foto: Geraldo Goulart/Encontro)
Dentro do casarão de 3 mil metros quadrados técnicos revitalizam detalhes, como os arcos das paredes, escada em peroba e lustres (foto: Geraldo Goulart/Encontro)
Mas as belezas da casa não estão apenas nas paredes e na fachada. Poucos passos depois de entrar no casarão, o olhar do visitante é capturado por uma bela escada feita com madeira de peroba. Quem olha para o chão pode reparar no material que também foi usado no piso, junto com alguns filetes de jacarandá. As obras de restauração devem ser concluídas até o fim do ano que vem, quando o casarão passará a abrigar o Centro de Memória Ferroviária, com uma exposição permanente sobre a história dos trens e das estradas de ferro do Brasil. "Quando estou na Praça da Estação e olho para ele, eu me emociono com a beleza original do casarão", diz Maria Caldeira. "Restaurar é uma arte."

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