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Estado de Minas EDUCAÇÃO

Conheça as principais metodologias de colégios de BH

São diversas as teorias por trás das práticas pedagógicas


postado em 04/10/2019 16:26 / atualizado em 04/10/2019 17:14

(foto: Violeta Andrada/Encontro)
(foto: Violeta Andrada/Encontro)
Como a escola deve ensinar? Prova é a melhor forma de avaliar um aluno? Dever de casa é essencial? Pais que estão à procura de escola para os filhos podem ficar perdidos em meio a diferentes linhas pedagógicas existentes, o que elas significam exatamente e como são adotadas nas instituições. Apesar de não ser o único fator na fórmula da escolha do colégio, é um dos mais sensíveis. Essas linhas partem de teorias sobre o processo de aprendizagem do ser humano e orientam as práticas da escola. "Não existe o melhor jeito de ensinar, mas o melhor jeito para cada estudante", diz o doutor em educação e professor de ciências do Centro Pedagógico da UFMG, Santer Álvares. Baseados nas linhas que desejam seguir, os educadores decidem como será o espaço físico, divisão de turmas, grade curricular, dinâmica de aulas e meios de avaliar o aprendizado. "É preciso ficar atento, porque muitas vezes as linhas se misturam", diz Santer. Mesmo assim, as escolas costumam divulgar qual teoria é a mais presente em sala de aula. A seguir, apresentamos - em linhas gerais, é claro - as principais propostas adotadas em BH. Ninguém mais pode alegar desconhecimento ao escutar conceitos como construtivismo, Montessori, Waldorf...

Construtivismo

(foto: Violeta Andrada/Encontro)
(foto: Violeta Andrada/Encontro)
"Construir" o próprio conhecimento. Essa é a essência (e é daí que vem o nome) desta linha, que surgiu a partir dos estudos feitos, principalmente, pelo biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) e pelo psicólogo bielorrusso Lev Vygotsky (1896-1934). Nada de receber o conhecimento pronto e memorizá-lo. Em tese, nas escolas construtivistas as crianças aprendem a partir de experiências. "Na educação infantil, essa aprendizagem ocorre por meio da manipulação de objetos", explica Margarida Figueredodiretora pedagógica do Instituto da Criança, que se inspira nessa linha pedagógica. "A partir do ensino fundamental, o conhecimento se dá por meio de relações e da criação de hipóteses sobre o que já foi aprendido." Outro princípio da escola construtivista é aprender em parceria com o outro. "Aqui, por exemplo, nas salas de aula, os alunos de todas as idades estão sempre agrupados, no mínimo, em duplas. A ideia é que eles troquem hipóteses e possibilidades de resolução o tempo todo", diz Margarida. A forma como são feitas as avaliações também pode variar. No Balão Vermelho, por exemplo, há provas, mas também avalia-se o processo de estudo individual dos alunos. "O estudante precisa mostrar qual foi sua estratégia", diz Simone Pereira, coordenadora pedagógica e diretora executiva da escola.

Montessori

(foto: Violeta Andrada/Encontro)
(foto: Violeta Andrada/Encontro)
Já imaginou crianças de 3 anos manuseando jarras e copos de vidro, tirando a mesa, arrumando a cama, lavando roupas, estendendo-as no varal e passando-as com ferro elétrico? Pois essas são algumas das cenas mais comuns em escolas montessorianas, nascidas dos estudos feitos pela médica italiana Maria Montessori (1870-1952). Deles, foi concluído que as crianças precisam de independência e autonomia para se desenvolver, e se "autoeducam" se estiverem em um "ambiente preparado", no qual tenham liberdade de ação.

Em BH, a Escola Infantil Montessori trabalha, desde fevereiro de 2018, com crianças de 0 a 6 anos, no bairro Serra. Nas salas de aula, os alunos aprendem por meio de objetos disponíveis em estantes divididas por áreas do conhecimento: vida prática, linguagem, matemática, educação sensorial e cósmica. "Tudo fica na altura da criança e ela escolhe com o que trabalhar", explica Amália de Andrada (à dir.), fundadora da escola. "A professora não impõe, mas observa. Se o aluno estiver trabalhando muito com um material, ela anota e eventualmente o convida a trabalhar com outro, mas de uma forma natural." No lugar das mesas, os alunos podem usar tapetes como espaço de trabalho e há um acervo de materiais desenvolvidos pela própria Maria. "Eles têm de ser o mais autoexplicativos possível, ou seja, a criança não precisa do adulto para lhe ensinar", diz Ana Amélia Rigottodiretora pedagógica. "Ela tem de descobrir sozinha. Sempre do simples para o complexo, do concreto para o abstrato."

Waldorf

(foto: Violeta Andrada/Encontro)
(foto: Violeta Andrada/Encontro)
A pedagogia Waldorf é um dos braços da antroposofia, uma filosofia desenvolvida pelo austríaco Rudolf Steiner no período entre guerras. Nela, o ser humano é visto como um ente que tem três formas de estar no mundo: pensar, sentir, querer. Ele não é visto somente como um corpo biológico e psíquico, mas também anímico (relacionado aos nossos sentimentos e sensações) e espiritual (relacionado à nossa autoconsciência e consciência). Ou seja, "nós preocupamos com o ser integralmente, não só com a formação intelectual", diz Amanda Calvosoprofessora da educação infantil do Instituto Educacional Ouro Verde. Ao estudar o desenvolvimento humano, Rudolf Steiner o dividiu em três grupos de sete anos, os quais denominou "setênios". Em cada um deles está mais presente uma formação específica. De 0 a 7 anos (base), procura-se a formação do corpo físico, dos órgãos; dos 7 aos 14, o corpo anímico, a vida anímica, a alma, o ambiente de sentimentos e sensações e sua relação social, com o outro; dos 14 aos 21, a individualidade.

Essa crença se traduz em algumas práticas que podem soar estranhas para quem não está acostumado: as turmas da educação infantil, por exemplo, não são agrupadas por idades iguais (crianças de 1 e 2 anos aprendem juntas, e de 3 a 6 anos, também). Do 1º ao 8° ano, os alunos têm um único professor, nesse período inteiro. A grade de horários é bem diferente. Em vez de estudarem matemática, português, história e geografia no mesmo dia, durante quatro semanas o professor ensina uma única matéria. "Fazer isso é fundamental para a memorização", afirma Amanda.

Tradicional

(foto: Violeta Andrada/Encontro e Cláudio Cunha/Encontro/Arquivo)
(foto: Violeta Andrada/Encontro e Cláudio Cunha/Encontro/Arquivo)
É a linha pedagógica mais conhecida e seguida. Em escolas tradicionais, as salas de aula são compostas por colunas de carteiras enfileiradas individualmente, um quadro centralizado e, nelas, os alunos aprendem recebendo conhecimento teórico do professor por meio de aulas expositivas. Esse aprendizado, posteriormente, é avaliado por provas, também teóricas.

Mas nem tudo permanece igual. Embora a via de transmissão do conhecimento ainda seja majoritariamente de mão única, hoje, os alunos não são mais considerados receptores massificados e passivos. Nem o conhecimento conceitual é mais considerado o único relevante. "Conciliamos a metodologia de ensino tradicional a outras que valorizam o desenvolvimento humano e à aprendizagem significativa", explica Daniele Passagli (à esq.), diretora geral do Coleguium. Lá, para os alunos da educação infantil até o 9° ano do ensino fundamental, além das matérias clássicas, existe o Laboratório Inteligência de Vida, onde se desenvolvem habilidades socioemocionais.

A educadora Edna Roriz (à dir.), que fundou e dirige o colégio de mesmo nome, também acredita não só na instrução, mas na formação dos alunos. Por isso, oferece do maternal 1 até a 3ª série do ensino médio a disciplina "iniciação científica", na qual os conteúdos ensinados são aplicados na realidade. "Mas, o foco continua sendo ensinar a ler e escrever bem, e a fazer contas", diz Edna. "E desde a metade do 9º ano do ensino fundamental a meta é o vestibular." Tanto no Coleguium quanto no Edna Roriz a 3ª série do ensino médio é absolutamente dedicada às provas para ingressar na universidade.

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