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Estado de Minas OUTUBRO ROSA

Exames de DNA podem detectar predisposição ao câncer de mama

Chances de outras doenças também podem ser descobertas por meio de análise genética, entretanto, esse tipo de avaliação não é aconselhado para todas as pessoas


postado em 17/10/2019 23:00 / atualizado em 18/10/2019 00:52

O oncologista André Murad:
O oncologista André Murad: "Hoje, com o prazo de poucos dias, conseguimos fazer um diagnóstico do genoma inteiro" (foto: Geraldo Goulart/Encontro)
O sequenciamento genético abriu novo capítulo na medicina moderna. Por meio do projeto, batizado de Genoma Humano, cientistas iniciaram uma verdadeira incursão pelos genes existentes nas moléculas de DNA e RNA. A pesquisa começou em 1990 e foi concluída em 2003. Sabe-se até agora que existem no corpo humano mais de 20 mil genes que trazem um precioso histórico genético, que podem indicar se determinada pessoa possui chances de ser acometida por alguma doença, por influência hereditária.

Quando se fala de câncer, por exemplo, essa descoberta vem permitindo que mais pessoas prevejam a incidência de tumores, além de serem submetidas a tratamentos mais assertivos. A antiga frase que servia para ilustrar a agressividade desse tipo de tratamento, "uma bomba atômica para matar uma formiga", começa a não mais fazer sentido, garantem especialistas.

A partir do avanço da genética contra doenças, uma nova indústria surgiu. Pelo mundo afora passaram a ser desenvolvidos testes e reagentes específicos para que as mutações genéticas - alterações que podem ocorrer nas células e causar tumores -, pudessem ser diagnosticadas previamente em laboratórios. "Cada tumor tem a sua assinatura genética", afirma a biomédica Eralda Luiza Slomp, mestre e PHD em genética. Ela e o especialista em processamento de dados Rogério Portela uniram as experiências em torno do tema e estão desenvolvendo uma plataforma que vai auxiliar médicos a interpretar tais exames. "Hoje, com o prazo de poucos dias, conseguimos fazer um diagnóstico do genoma inteiro", diz o oncologista André Murad, pesquisador da Faculdade de Medicina da UFMG e da Clínica Personal Oncologia de Precisão.

O oncologista Alexandre Ribas:
O oncologista Alexandre Ribas: "A grande maioria dos tumores é esporádica. Em câncer de mama, apenas 10% são frutos de heranças genéticas" (foto: Hospital Felício Rocho/Divulgação)
Conforme o médico, entre os milhares de genes que o corpo humano possui, dois vêm se destacando por estarem mais relacionados com o aparecimento de tumores: BRCA1 e BRCA2. Quando sofrem alterações, por exemplo, eles são os responsáveis pelo surgimento do câncer de mama. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), esse tipo é o segundo mais comum entre as mulheres brasileiras, o que representa 25% de todos os cânceres que afetam o sexo feminino. Ainda segundo o instituto, no Brasil, são estimados 59,7 mil casos novos da doença em 2019.

Para realizar o teste genético, a pessoa deve ceder apenas amostras da saliva ou do sangue. "A partir do momento que sabemos que uma paciente tem a predisposição para doença, começamos a fazer um rastreamento personalizado. Uma das formas é iniciar, se for o caso, exames de mamografia antes dos 40 anos", diz André Murad. Em 2011, esse tipo de teste passou a ser mais conhecido depois que a atriz Angelina Jolie optou por fazer a retirada preventiva das mamas, ovários e trompas de falópio ao identificar que havia herdado os genes causadores de mutações nesses órgãos. Entretanto, afirmam especialistas, quando a pessoa é submetida ao exame e nele é constatada a predisposição, o programa de combate à doença é feito de maneira personalizada.

O oncologista Alexandre Ribas, coordenador do Instituto de Oncologia do Hospital Felício Rocho, explica que todos os tumores surgem de uma alteração, mas nem todos são hereditários. "A grande maioria dos tumores é esporádica. Em câncer de mama, apenas 10% são frutos de heranças genéticas", afirma. Portanto, esse tipo de exame não é aconselhado para todas as pessoas. "Não tem sentido fazer o teste se a pessoa não tem histórico de câncer de mama na família", diz Ribas. Para saber se há necessidade de ser submetido a essa avaliação, o paciente deve passar por um aconselhamento genético, no qual geneticistas ou oncogeneticistas avaliam caso a caso.

A biomédica Eralda Luiza Slomp e o especialista em processamento de dados Rogério Portela: plataforma para auxiliar médicos a interpretar exames genéticos(foto: Geraldo Goulart/Encontro)
A biomédica Eralda Luiza Slomp e o especialista em processamento de dados Rogério Portela: plataforma para auxiliar médicos a interpretar exames genéticos (foto: Geraldo Goulart/Encontro)
Por meio da genética, é possível também proporcionar ao paciente, já diagnosticado com câncer de mama, um tratamento mais preciso. "Hoje, há drogas específicas para determinado tumor, o que faz parte do que chamamos de medicina de precisão", afirma o médico. Significa que o paciente é submetido a um tratamento bem menos agressivo, com menos efeitos colaterais, do que o usual.

A geneticista Laura de Mello Andrade, do hospital Mater Dei, afirma que mulheres que forem diagnosticadas com a mutação nos genes BRCA1 e BRCA2 podem ser submetidas a um rastreio precoce da doença, com ressonância magnética de mamas anual, a partir dos 20 anos, e rastreio para câncer no ovário, a partir dos 25. "O câncer é uma doença com fatores genéticos e ambientais. Duas mulheres em uma mesma família podem ter a mesma mutação, mas uma pode ter câncer e a outra, não. Ou ainda ambas terem tumores diferentes", afirma a médica. De acordo com Laura Andrade, para prevenir o câncer o protocolo é o mesmo: manter hábitos de vida saudáveis, praticar atividade física regular, evitar o consumo de álcool e a obesidade.

Principais fatores de riscos

  • De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 30% dos casos podem ser evitados se a pessoa mantiver a prática de atividade física e de alimentação saudável, com manutenção do peso corporal adequado

  • Envelhecimento (quanto mais idade, maior o risco)

  • Vida reprodutiva (idade da primeira menstruação, ter ou tido filhos, ter ou não amamentado, idade em que entrou na menopausa)

  • Histórico familiar de câncer de mama

  • Consumo de álcool

  • Excesso de peso

  • Atividade física insuficiente

  • Exposição à radiação ionizante

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