
Quando tinha 12 anos, o menino perdeu o avô. Mas, as histórias desse convívio continuaram vívidas em sua memória. Passaram-se os anos e Rubens se tornou um dos maiores e mais brilhantes empresários do país e o único brasileiro a ter três companhias listadas na bolsa, todas fundadas por ele: MRV Engenharia, Banco Inter e Log Commercial Properties. Juntas, têm valor de mercado superior a 21 bilhões de reais.
O primeiro grande projeto social do engenheiro de 63 anos foi há duas décadas, quando a MRV, empresa fundada em 1979, e que é, atualmente, a maior construtora residencial da América Latina, completou 20 anos de existência. O empresário, que era amigo do então prefeito Célio de Castro, procurou-o na intenção de realizar alguma ação de bem ao próximo. A construtora montou, em convênio com a prefeitura, uma clínica de saúde no bairro Sagrada Família, na região Leste de BH, que atendia a crianças e adolescentes das periferias para check-ups, exames, tratamentos dentários, consultas psicológicas, entre outras assistências. A clínica atendeu, em um ano, 60 mil jovens, que eram buscados em casa, passavam o dia por lá e levados de volta. Rubens se envolveu ativamente na concepção e no dia a dia do projeto. "Vemos que isso muda a vida de uma pessoa, e então queremos fazer cada vez mais", conta.
Identificar projetos com potencial – talento que se tornou marca de Rubens como empreendedor – é o objetivo do empresário no que diz respeito aos investimentos na filantropia. "Como os recursos são limitados, e ainda há muitas carências no Brasil, não se pode investir em projetos ruins", diz. "Isso é jogar dinheiro fora. Meu foco é o de fazer com que o recurso seja o mais eficiente possível." Rubens se refere ao fato de que a filantropia no Brasil ainda é muito tímida, tanto para dar conta das inúmeras causas que precisam ser ajudadas quanto em comparação ao que se faz em outros países. No World Giving Index da Charities Aid Foundation (conhecido como Ranking da Solidariedade), o Brasil, que é a nona economia do mundo e o 12º país em número de bilionários, caiu 47 posições no ano passado – de 75º para 122º, no quesito filantropia. O que já não era bom, ficou pior. Segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o investimento social privado na filantropia equivale a 0,2% do PIB do Brasil, muito abaixo do esperado. Para efeito de comparação, nos Estados Unidos, onde a prática é bastante desenvolvida, o valor equivale a 2% do PIB.

Uma das formas de organizar a atuação filantrópica foi criar o Instituto MRV, fundado em 2014 e cuja verba vem da doação de 1% do lucro líquido anual da empresa (o que correspondeu, no ano passado, a 6,5 milhões de reais). Maria Fernanda Menin, filha mais velha de Rubens e diretora executiva jurídica da MRV, participou ativamente da concepção do Instituto, do qual é conselheira. Apesar de ter apenas cinco anos, os impactos da entidade já são visíveis e, para Maria Fernanda, indicadores mostram que a maturidade foi atingida. Até hoje, já foram mais de 325 mil pessoas impactadas. Dois dos projetos do Instituto merecem destaque: as intervenções em creches (com melhorias na infraestrutura, entrega de bibliotecas e brinquedotecas, além de atendimento às crianças) e uma ação iniciada em julho deste ano, voltada para a formação de professores de escolas públicas (ver institutomrv.com.br).

João Pedro Menin já começou a praticar ações de iniciativa própria. Aficionado por tecnologia, teve choque de realidade na creche que visita todas as sextas-feiras, ao perceber que as crianças sequer sabiam o que era um iPad. "Eu sabia que isso acontecia, mas ver com os próprios olhos foi mais impactante", diz ele. "Saber que essas pessoas não terão as mesmas oportunidades que eu me fez querer fazer a diferença". Sendo assim, resolveu dar uma festa de Halloween para seus amigos, com o intuito de arrecadar dinheiro para comprar tablets. Conseguiu três aparelhos e mais três canetas bluetooth, com os quais passou a dar aulas na creche, ensinando as crianças a mexer nos equipamentos, a fazer ilustrações e vídeos. Já quer também ser voluntário em projetos apoiados pelo avô, sua fonte de inspiração.

As metas do Bem Maior (MBM) são, assim como seus fundadores, ambiciosas. "Nós nos unimos com o propósito de mudar a filantropia no Brasil", diz Rubens, entusiasmado. Ele conta que o principal objetivo é passar o valor investido nas causas sociais de 0,2% para 0,4% do PIB. A ONG ainda é muito jovem e está em processo de estruturação, mas essa equipe não brinca em serviço. Os quatro fizeram o compromisso de doar, cada um, 100 milhões de reais para a instituição. Eles buscam, agora, pessoas que estejam dispostas a doar, no mínimo, 3 milhões de reais por ano. "Nossa sociedade é boa, mas precisa ser estimulada", diz Rubens. "Vamos fazer o maior fundo de filantropia do país".

Rubens conta que os integrantes do MBM conversam muito sobre a importância do que chama de "shine", ou seja, colocar luz sobre a causa, dar publicidade. Isso quer dizer não ter recatamento para falar sobre filantropia, divulgar as ações realizadas. "Esse é um comportamento do brasileiro", diz Rubens. "Nos EUA, é comum ver figuras públicas atuando em causas sociais, sem o menor constrangimento, como, por exemplo, o casal Obama, quando trabalhou em prol das regiões devastadas por ciclones; ou Jimmy Carter que, aos 94 anos, ajuda a construir casas populares". Para Rubens, quem pratica filantropia tem obrigação de mostrar o que faz, para levar outras pessoas a refletir e a fazer o mesmo. "Às vezes, falar do que fazemos pode ser constrangedor. Mas, fazer o quê? Se tiver vergonha, não contamino outras pessoas", diz. Por isso, não se importou em divulgar sua meta pessoal, firmada aos 60 anos, de doar 10 milhões de reais por ano até os 65, quando vai rever (para mais) o valor.

Com a obra, a ortopedia do HC vai dobrar o número de leitos, que passará para 26. O Instituto MRV vai doar uma parte e Rubens, pessoa física, vai doar o restante. Ele vai dar o "match", como se diz quando uma ação é conclusiva.

Entre um compromisso e outro, e diante de agenda cada vez mais apertada, Rubens tem sempre disponibilidade quando a conversa gira em torno de dois assuntos: filantropia e seus netos. Além de brincar, jogar futebol e xadrez com os nove netos (de idades entre 12 e 4 anos), ele gosta particularmente de contar histórias e conversar com eles sobre diferentes assuntos, inclusive sobre as causas sociais com as quais se envolve – exatamente como fazia seu avô, Heitor. A vida ensinou a Rubens, afinal, que elas (as histórias), transmitidas de geração em geração, podem imprimir marcas que ficarão para sempre nas lembranças – e nos atos – dos meninos. É como diz o velho provérbio dos sábios chineses: um grande homem não perde a candura.
O que Menin diz sobre Filantropia
- "É como um vírus que contagia e vai te envolvendo. A coisa fica entranhada em você"
- "Como os recursos são limitados e ainda há muitas carências no Brasil, não se pode investir em projetos ruins. Isso é jogar dinheiro fora. Meu foco é o de fazer com que o recurso seja o mais eficiente possível"
- "Não basta assinar o cheque. O segredo é assinar o cheque certo para o lugar certo"
- "Vamos fazer o maior fundo de filantropia do país"
- "Às vezes, falar do que fazemos pode criar constrangimento, mas, fazer o quê? Se tiver vergonha disso, não contamino as pessoas"