
O clima anda bem fervilhante por lá. "Não queríamos abrir uma cervejaria no Jardim Canadá, como muitos estavam fazendo. Optamos por acompanhar esse movimento de ocupação da cidade", diz Rafael Quick, um dos sócios do bar Juramento, inaugurado em 2017. Ali também é a sede da cervejaria Viela, que já ganhou uma extensão no Mercado Novo, na área central de BH. "O interessante é que a região vem recebendo vários projetos, mas o perfil permanece o mesmo", diz Rafael.
Se o Santa Tereza lembra uma vila de pescadores, a orla do mar bem poderia ser a rua Sapucaí, no vizinho Floresta. O número de opções de bares e restaurantes aumentou nos últimos anos, impulsionado pelo sucesso da Salumeria, estabelecimento que aterrissou por lá em 2012 e abriu o caminho para outros negócios. "Quando abrimos, recebemos moradores de bairros que não tinham o costume de vir para cá", diz André Hallak, um dos sócios do restaurante especializado em suínos. Para ele, a Salumeria deu apenas um empurrãozinho para a Sapucaí se transformar em polo gastronômico. "Havia uma vocação reprimida. A rua tem uma vista muito bonita e já favorecia esse tipo de ocupação", diz André.

Ricardo Rodrigues, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-MG), acredita que em função da Lei Seca novos estabelecimentos começaram a surgir fora do anel da Contorno, para que os clientes não se deslocassem tanto pela cidade. "A região Leste já tinha em seu DNA o traço cultural e boêmio, mas era um pouco tímido", diz. Segundo a Secretaria Municipal de Política Urbana, na região há 590 alvarás de bares e restaurantes ativos.

Para Françoise Jean de Oliveira, diretora de Patrimônio da Fundação Municipal de Cultura, a região não está sendo apenas redescoberta pelos empreendedores, mas por outros moradores da cidade. "Esse fenômeno vem acompanhando o movimento de ocupação dos espaços públicos, que tomou conta de BH nos últimos anos", afirma. Quem ganha com isso é o público, que tem a chance de navegar por mares que vão além da avenida do Contorno.