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Estado de Minas SAÚDE DA MULHER

Médico fala sobre campanha de combate ao câncer de colo de útero

Eleito presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o mineiro Agnaldo Lopes alerta que a incidência da doença tem aumentado. Ele comenta, ainda, quais são os desafios do novo cargo


postado em 24/01/2020 12:35 / atualizado em 27/01/2020 14:25

O ginecologista Agnaldo Lopes:
O ginecologista Agnaldo Lopes: "Muitas vezes somos os únicos médicos aos quais as mulheres recorrem. Por isso a importância de fortalecer a relação de confiança entre médico e paciente" (foto: Rafael Tavares/Encontro)
Professor titular da UFMG e ex-presidente da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), o ginecologista oncológico Agnaldo Lopes, de 47 anos, tornou-se referência nas áreas de cirurgia robótica e videolaparoscópica, com destaque para a cirurgia pélvica feminina. Recentemente, encarou mais uma empreitada. É o primeiro médico mineiro eleito presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), para o mandato de 2020 a 2024. Sua missão: "associar esforços e reunir instituições para que as 110 milhões de brasileiras recebam uma assistência integral e humanizada". Tarefa difícil em um cenário no qual os avanços tecnológicos na medicina ainda se chocam com o desinteresse e a falta de informação de parte da população. Somente no ano passado, 5.430 brasileiras morreram vítimas de câncer de colo de útero. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o tumor é o terceiro mais comum no país, mas poderia ser evitado. A doença, tão letal quanto o câncer de mama, na maioria das vezes é negligenciada pelas próprias vítimas. Por isso foi instituído o Janeiro Verde, mês escolhido para intensificar a importância da prevenção no combate à doença, que pode ser diagnosticada no início, quando lesões pré-malignas são identificadas antes de virarem câncer. "Para isso, basta realizar o exame preventivo Papanicolau, que também é disponibilizado pelo SUS nos centros de saúde", diz Agnaldo.

1) ENCONTRO - Qual a importância da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia para o país?

Agnaldo lopes - A Febrasgo é tida como uma das maiores sociedades médicas do Brasil. Representa 34 mil profissionais e conta com 16 mil associados. Foi criada há 60 anos em Belo Horizonte e, no entanto, nunca havia tido um presidente mineiro. Esta será a primeira vez em sua história e eu me sinto honrado por ocupar este cargo. De maneira geral, Minas Gerais tem um papel importante no cenário nacional.

2) Quais as suas principais metas como presidente da instituição?

Sem dúvida, nossa maior preocupação é a saúde integral da mulher brasileira. E o nosso compromisso é atingir os milhares de ginecologistas e obstetras do país, melhorando a sua formação profissional, os programas de residência e oferecendo uma educação continuada para que as pacientes possam ter atendimento médico de qualidade. Com  médicos bem formados e bem remunerados, reduzimos a mortalidade materna, evitamos gestações indesejadas e evitamos a incidência de doenças graves como o câncer de colo de útero. Doenças como HPV e endometriose podem ser evitadas ou diagnosticadas a tempo quando existe uma rotina regular de consulta médica. Para se ter uma ideia, a estimativa é que ainda hoje, 55% das gravidezes não são planejadas e a metade dos casos resulta em abortos.

3) Como pretende lidar com os conflitos de gerações dentro da medicina?

É visível a transição entre jovens e antigos médicos. Contudo, a média de idade dos associados na Febrasgo é de 51 anos e esta não é a realidade. Precisamos atrair os jovens profissionais. Também temos de atentar para a nova geração de pacientes com acesso a muitas informações através da internet. Algumas delas, muito equivocadas. Por isso pretendemos investir em formas criativas para atrair esse público jovem e, ao mesmo tempo, levar conhecimento de qualidade até eles. A Febrasgo, inclusive, já possui um portal (projetoela.com.br), que tem o objetivo de divulgar conteúdo preciso e com bases científicas para esclarecer dúvidas e cuidar da saúde da mulher.

4) Pesquisa feita pelo Datafolha recentemente mostrou que as mulheres brasileiras estão satisfeitas ou muito satisfeitas com os seus ginecologistas e obstetras. Em sua opinião, a que se deve essa boa avaliação?

Acredito que muitas mulheres enxergam a especialidade como a mais importante de todas, o que aumenta a nossa responsabilidade. Muitas vezes somos os únicos médicos aos quais as mulheres recorrem. Por isso a importância de fortalecer a relação de confiança entre médico e paciente.

5) Qual sua opinião sobre a ocorrência de violência obstétrica na realização de partos e como pretende lidar com o problema?

É fundamental apurar para entender o que ocorre, tendo em vista que a maioria dos profissionais são vocacionados. É nossa obrigação oferecer uma obstetrícia segura tanto para mães quanto para bebês. Acredito que não existe explicação para que, em 99% dos partos realizados em hospitais privados, sejam feitas cesarianas, quando boa parte poderiam ser partos normais. Isso não é aceitável. Temos de focar nas boas práticas, de acordo com a necessidade real das pacientes. E o principal: sempre respeitando a mulher.

6) Em 2018, Minas Gerais registrou 8,4 novos casos de câncer de colo de útero a cada 100 mil mulheres. Em Belo Horizonte, o número foi maior: 11,31 novos casos. Qual seria a explicação para esse fenômeno e o que é o Janeiro Verde?

A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) aponta que um dos principais motivos para o crescimento da incidência de câncer de colo de útero é que mais da metade das mulheres brasileiras (52%) não faz exame ginecológico preventivo. É o terceiro tumor maligno mais freqüente na população feminina e a quarta causa de morte por câncer no país. Em 2018 foram 16 mil novos casos e pelo menos dois terços deles já em estado avançado. A campanha Janeiro Verde surgiu com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância da prevenção para evitar a doença.

7 | Quais as justificativas dadas pelas mulheres para não realizarem os exames preventivos?

Algumas das principais justificativas para não fazer o exame ou procurar um ginecologista são a falta de tempo, ausência de convênio médico e, até mesmo, o desconhecimento da neoplasia (tumor).

8 | Qual a forma de contágio e quais são as maneiras de prevenção do câncer de colo de útero?

A causa da doença é a infecção pelo vírus HPV, sendo que a repetição dessa infecção acaba causando o câncer. No entanto, a doença pode ser diagnosticada no início, quando lesões pré-malignas podem ser identificadas antes de virarem câncer. Para isto, basta realizar o exame preventivo Papanicolau, que também é disponibilizado pelo SUS nos centros de saúde. Estudos apontam que o procedimento é capaz de reduzir a incidência da doença em até 80%. Outra maneira de prevenir a doença é mantendo o cartão de vacinação em dia, com a imunização contra o vírus HPV, vacina já disponibilizada pelo SUS. O uso de preservativos também é fundamental para evitar doenças sexualmente transmissíveis (DST).

9 | A prevenção deve ser feita a partir de qual idade e com qual periodicidade?

O Ministério da Saúde recomenda que o exame Papanicolau seja feito anualmente, por mulheres com idade entre 25 e 64 anos que já tiveram relação sexual. A vacinação contra o HPV pode erradicar o câncer de colo de útero, conforme já comprovado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A intenção é conseguir esse feito até 2030. A vacina está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), mas somente para meninas entre 9 e 14 anos e meninos de 11 a 14. O processo requer duas doses, mas é fato que a cobertura vacinal está bem abaixo dos 80% recomendados, uma vez que mais de 9,2 milhões de adolescentes ainda precisam ser vacinados com a 1º e a 2º dose em todo o país. Outros grupos etários podem dispor das vacinas em serviços privados.

10 | Em casos de contágio, quais as formas de tratamento?

A modernização da robótica e de tratamentos quimioterápicos tem aumentado a qualidade de vida dos pacientes. Em Belo Horizonte o robô Da Vinci XI - primeiro de Minas Gerais e segundo do Brasil - é um diferencial para a cirurgia oncológica, permitindo identificar tumores em tempo real com uma tecnologia de infravermelho. Outro avanço da medicina é a quimioterapia hipertérmica intraperitoneal (HIPEC). Aplicada no local, logo após a retirada do tumor, aumenta a sobrevida do paciente.

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