
Quatro décadas e meia depois, a aventura internacional da Pif Paf continua. Mas, se não há uma guerra para atrapalhar os planos, os trâmites burocráticos são bem maiores que os da década de 1970, quando os problemas poderiam ser resolvidos com alguns telefonemas para as pessoas certas. Desde novembro de 2019, a empresa mineira vem abastecendo o mercado chinês, considerado o maior do mundo. As negociações com os exigentes importadores chineses foram morosas, dependiam de missões governamentais e prolongaram-se por 10 anos. Depois de um longo namoro, surgiu uma oportunidade: a peste suína africana, que matou cerca da metade dos porcos na China, o maior produtor mundial dessa carne. Com isso, o país com população de quase 1,4 bilhão de pessoas foi forçado a acelerar as habilitações de exportações.

A Pif Paf exporta cortes de frango para a China e deve enviar 5 mil toneladas para o país asiático neste ano. Nem o surto de coronavírus, que poderia deixar os executivos de cabelos em pé, parece preocupá-los. "Isso gerou alguma volatilidade de preços e certa dificuldade logística nos portos de lá, mas as ações do governo chinês para controlar a proliferação do vírus deverão resultar em retomada e melhoras a partir de abril", afirma o engenheiro de alimentos Rodrigo Alves Coelho, presidente executivo da empresa desde setembro de 2019. A fábrica de Visconde do Rio Branco, no interior mineiro, já está habilitada e a próxima unidade que a empresa quer aprovar para os chineses é a de Palmeiras de Goiás (GO). "Quando isso acontecer, a China vai responder por 50% das nossas exportações", diz Edson Laurindo Cavalcante, gerente geral de exportação da Pif Paf. Apesar do grande volume exportado - entre 7% e 8% da produção anual, de cerca de 310 mil toneladas de frangos e suínos por ano -, o departamento de exportação comercial e logística da empresa conta com apenas 10 pessoas. Um dos integrantes tem aulas de mandarim para facilitar as negociações com os chineses. "Nossa ideia é formar um grupo de estudos para que todos entendam e se comuniquem em mandarim", afirma Edson. "A China é e continuará sendo, durante muitos anos, o maior comprador de proteína animal do Brasil." O plano da empresa para os próximos quatro anos é ambicioso: dobrar de tamanho. E as vendas para a China têm, claro, papel importantíssimo nesse processo. "Nosso objetivo é crescer para aumentar a exportação, sem deixar de atender o mercado interno", diz Rodrigo. "Nossos produtos podem ser encontrados em 20 países. Quando chegou a oportunidade de exportar para a China, já estávamos preparados."

Avelino faz questão de frisar que nunca perdeu um só centavo nas negociações de que participou. "Sempre ganhei", diz, com orgulho. Em uma longa negociação com um comprador japonês, quase jogou a toalha. Na época, o cliente enviou um telex pedindo uma amostra de frango. "Mandamos uma caixa recheada de produtos e em seguida mais 15, uma depois da outra", conta. "Na última, eu disse para mim mesmo: não vou mandar mais nada para o Japão. Estou sustentando os japoneses com nosso frango!" Depois de 15 dias, recebeu um telefonema do cliente agendando um encontro para conhecer a indústria em Visconde do Rio Branco. "Eles chegaram de avião, visitaram a empresa, fizeram o exame de água e viram o funcionamento da granja", afirma. "É um dos melhores fregueses que temos até hoje. São exigentes e fiéis."
Embora a sucessão seja processo complexo dentro das empresas familiares, Elismar, que acompanha as reuniões do Conselho de Administração da Pif Paf, considera a transição de Luiz Carlos bem-sucedida. "A qualificação dos conselheiros é boa e ele entende bem qual é o seu papel, aceita as orientações e lidera os processos e a diretoria", afirma. "Para a presidência, era preciso encontrar uma pessoa com boa conexão e interação com Luiz Carlos", afirma Elismar. Com a escolha de Rodrigo Coelho, ela acredita que a Pif Paf chegou ao nome certo. O novo presidente trabalha na empresa desde 2018 e tem mais de 20 anos de atuação no segmento de alimentos, em funções de liderança em operações, controladoria e finanças. Tem ampla experiência internacional e já morou em Portugal, China, Argentina e Áustria.

A aquisição da indústria de processamento de suínos catarinense Fricasa, no fim do ano passado, abriu ainda mais oportunidades de negócios. Rodrigo assume a empresa em momento desafiador, com metas arrojadas tanto no mercado interno quanto no externo. No convívio com Avelino Costa, ele sabe o que vai tentar colocar em prática. Quer aprender cada vez mais sobre o que o fundador da Pif Paf afirma ser o seu maior dom: comprar bem e vender ainda melhor. "Ele é nossa inspiração de respeito com o funcionário e, é claro, com o freguês", diz Rodrigo. Ou melhor, com o freguêx, como Avelino gosta de chamar carinhosamente seus clientes, daqui de Minas ou do outro lado do mundo.
Fuga dos reflexos da guerra e sucesso no Brasil

Os primeiros passos em direção a Minas aconteceram por meio de um acordo para fornecimento de aves com uma cooperativa de Viçosa. Pouco a pouco, com o crescimento da empresa, transferiu a empresa para Visconde do Rio Branco, na Zona da Mata. E de Minas não saiu mais. Em 1974, inaugurou a primeira fábrica de rações, em Visconde do Rio Branco, e seu primeiro incubatório, em Pará de Minas. Em seguida, passou a adotar os investimentos de produção integrada na avicultura, na qual os criadores recebem da empresa os pintinhos, ração e assistência técnica para a criação e entregam a ave adulta para o frigorífico. No início dos anos 1980, cerca de 98% da produção era voltada para a exportação. "Vimos que essa era uma estratégia equivocada, pois estávamos judiando do freguês brasileiro, que ficava com a sobra", lembra Avelino.


Saiba mais sobre a Pif Paf
- Ano e local de fundação: 1968, no Rio de Janeiro
- Produtos: mais de 500 itens, entre eles elaborados de carnes de frangos e suínos, pizzas, lasanhas, pães de queijo e embutidos
- Produção: cerca de 310 mil toneladas anuais. Abate cerca de 73 milhões de frangos e mais de 726 mil de suínos por ano
- Regiões de atuação: sudeste, sul da Bahia e Goiás. Depois da aquisição da Fricasa (SC), passou a atuar também na região sul
- Unidades: as unidades estão instaladas no interior de Minas Gerais, em Visconde do Rio Branco, Viçosa, Leopoldina, Patrocínio, Pará de Minas, Pitangui, São José da Varginha, Paula Cândido, Igaratinga. Em Goiás, está presente em Palmeiras de Goiás e Paraúna (GO). Em Santa Catarina, possui unidades em Canoinhas
- Faturamento em 2019: 2,5 bilhões de reais (20% acima de 2018)
- Número de funcionários: 8,6 mil
- Empresas do grupo: Pif Paf, Tial (de sucos) e Fricasa (indústria de processamento de suínos)
- Para onde exporta: mais de 20 países como China, Canadá, Singapura, Rússia, Japão, Hong Kong, Argentina e África do Sul
- Próximos mercados: a empresa está com processos de habilitação de exportação para o Coreia do Sul, Chile, União Europeia, entre outros