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Estado de Minas ESPECIAL NOVO CORONAVÍRUS

Saiba como bares e restaurantes de BH se preparam para reabrir

Estabelecimentos ainda não sabem quando voltarão a funcionar. Em Nova Lima, abertura aconteceu com um terço da capacidade e proibição de venda de bebidas alcoólicas


postado em 20/07/2020 22:11 / atualizado em 22/07/2020 15:53

Túlio Pires, dono do Rullus Buffet, está atendendo em seu bistrô recém-inaugurado em Nova Lima:
Túlio Pires, dono do Rullus Buffet, está atendendo em seu bistrô recém-inaugurado em Nova Lima: "O retorno tem sido gradativo. E como não há consumo de bebida alcoólica, a permanência é menor no espaço" (foto: Cacau Mídia/Divulgação)
Fecha. Fecha tudo. De uma hora para a outra, sem aviso prévio, veio o coronavírus para transformar nosso cotidiano em algo completamente novo. Ir à rua virou caso de saúde pública. Não lavar as mãos corretamente é risco de vida. O mundo passou a girar de uma forma diferente e isso atingiu em cheio o setor de bares e restaurantes. Desde o dia 18 de março, Belo Horizonte se viu sem poder exercer seu papel de capital dos botecos. Eleita em outubro do ano passado como Cidade Criativa da Unesco por causa de sua gastronomia, a capital mineira nem sentiu o gostinho real do título e já viu seus bares recolherem as mesas das calçadas. Restaurantes consagrados apagaram as velas e precisaram aprender na marra a trabalhar com delivery.

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O processo não está sendo fácil. Segundo Paulo Solmucci, presidente executivo da Abrasel-MG, dos 22 mil estabelecimentos do setor na Grande BH, pelo menos 5 mil não vão reabrir suas portas com o fim do isolamento social. Cerca 40 mil empregos serão perdidos. "É uma situação dramática", afirma. Paulo ainda lembra que muitos vão abrir enfraquecidos pelos dias parados. "E será um processo lento de reabertura. Acreditamos que no primeiro mês pós-flexibilização, os estabelecimentos terão um faturamento de 30% de sua receita pré-crise", diz.

Mateus Hermeto, sócio do Barolio, no Vila da Serra, afirma que o movimento ainda está fraco:
Mateus Hermeto, sócio do Barolio, no Vila da Serra, afirma que o movimento ainda está fraco: "Juntando o delivery e os clientes da casa, estamos faturando 25% do que faturávamos antes da pandemia" (foto: Geraldo Goulart/Encontro)
É exatamente o que está acontecendo com restaurantes que estão localizados na vizinha Nova Lima. Por lá, a prefeitura liberou o funcionamento com várias medidas restritivas, como espaçamento entre mesas (ver quadro). "Nos primeiros dias, houve descumprimento das medidas por parte de alguns estabelecimentos. Agimos prontamente e enrijecemos as regras, estabelecendo, dentre outras medidas, a proibição da comercialização de bebidas alcóolicas", afirma, em nota, a prefeitura. Mateus Hermeto, sócio do Barolio, no Vila da Serra, afirma que o movimento ainda está fraco. Com capacidade para 70 pessoas, o restaurante de comida italiana e pizza está trabalhando com apenas um terço de suas mesas. "Juntando o delivery e o movimento da casa, estamos faturando 25% do que faturávamos antes da pandemia", diz. "Acredito que as pessoas vão voltar a frequentar os bares e restaurantes. São espaços de socialização, de convívio. Ao mesmo tempo, sei que não é o momento certo de liberar, já que a curva de contágio está subindo. Temos de esperar."

Inaugurado em novembro, na Alameda da Serra, o Rullus Bistrô também já está recebendo a clientela. Eles ficaram fechados de 19 de março a 19 de junho. "O retorno tem sido gradativo. E como não há consumo de bebida alcoólica, a permanência é menor no espaço", diz Túlio Pires. Dono de um dos principais bufês de festa da cidade, o empresário viu todos os eventos serem remarcados para o ano que vem. Para aguentar o tranco, investiu no delivery. Toda semana, o Rullus libera um cardápio diferente para os clientes receberem os pratos em casa. Estão lá clássicos do bufê como o camarão empanado e caccio e pepe com angus e farofa de amêndoas. Mesmo assim, precisou demitir metade dos funcionários. "Acredito que essa tendência do delivery vai continuar. As pessoas estão gostando e, antes, os restaurantes de alta gastronomia não faziam esse tipo de serviço", diz ele, que também viu a loja Experiência Rullus, que funcionava no Mercado da Boca, sucumbir à quarentena. Com mais de quatro décadas de existência, o Rullus Buffet se prepara para uma mudança no comportamento dos clientes pós-pandemia. "Acredito que as pessoas ficarão mais seletivas. Muitas perceberam que não é preciso ser over para ser bom."

O chef Djalma Victor voltou a atender o público na segunda quinzena de junho, apenas na unidade do Serena Mall:
O chef Djalma Victor voltou a atender o público na segunda quinzena de junho, apenas na unidade do Serena Mall: "Retornar é uma felicidade, mas não é simples. No nosso setor, a luta é diária para nos mantermos vivos" (foto: Geraldo Goulart/Encontro)
Outro que vem entendendo o "novo normal" é o Osso. Ele voltou a atender o público na segunda quinzena de junho, apenas na unidade do Serena Mall, em Nova Lima. "Retornar é uma felicidade, mas não é simples", diz o chef e sócio Djalma Victor. "No nosso setor, a luta é diária para nos mantermos vivos." Para ficar de portas abertas, o estabelecimento vem cumprindo todas as normas impostas pelo município. "É importante ter todos os cuidados, mas sabemos que nenhum restaurante consegue se manter com apenas 30% da sua ocupação e sem poder comercializar bebida alcóolica." Quanto a loja de Lourdes, os proprietários começaram a fazer um plano de abertura, mas tiveram de parar quando o prefeito Alexandre Kalil (PSD) ordenou que a capital voltasse à estaca zero de flexibilização no último dia 26. "Agora, não temos mais previsão. Nem a gente nem ninguém." A prefeitura da capital mineira, em nota, responde que nunca proibiu bares e restaurantes de funcionar, já que puderam continuar trabalhando por meio do delivery e retirada na porta: "A medida foi adotada em razão do risco sanitário para consumo no local, já que os clientes permanecem por tempo relativamente alto e sem máscara. A contaminação está intimamente ligada com a carga viral, que aumenta nessas condições. Diante disso, não há protocolo sanitário, no momento, que permita o consumo dentro desses estabelecimentos."

Alguns endereços não aguentaram a pressão de permanecer tanto tempo fechados. É o caso do Alma Chef, do Guaja e do Mercado da Boca. "Acreditamos que não é hora para ameaças e proibições. A resolução do problema passa pela educação e sensibilização da população. Cada um deve ser vigia de si mesmo e respeitar as regras de distanciamento, uso de máscara e higiene", defende o presidente executivo da Abrasel-MG, Paulo Solmucci. Enquanto a queda de braço continua entre prefeitura e empresários, o jeito é abusar da criatividade. Leonardo Paixão encontrou um caminho na adversidade. Desde o mês passado, o chef oferece um "jantar" bem diferente em seu Glouton. O Cozinhando com Paixão funciona da seguinte forma: por 380 reais (duas pessoas) ou 215 reais (individual), o cliente compra um menu com petisco, entrada, prato principal e sobremesa e recebe um kit com a comida semi-pronta. Por meio da internet, Leo finaliza os pratos junto com os consumidores. Cada um em sua casa. "Assim, conseguimos proporcionar uma experiência completa, o que é a proposta do Glouton desde sempre. Somos mais do que só comida", diz. "Os clientes estão gostando de cozinhar em casa e a gente se diverte junto". Para Leo, o momento é de cautela. "Como médico, sei que a situação é muito complicada com a superlotação dos CTIs. Estamos vivendo uma pandemia de uma doença grave, mortal. Apoio 100% o prefeito Kalil. Ele está sendo extremamente responsável", afirma. "Como empresário, estou tentando fazer tudo para manter meus funcionários e sobreviver. Por enquanto, está dando certo."

Leo Paixão lançou um projeto em que os clientes recebem menu semi-pronto e em um horário combinado todos cozinham juntos:
Leo Paixão lançou um projeto em que os clientes recebem menu semi-pronto e em um horário combinado todos cozinham juntos: "Assim, conseguimos proporcionar uma experiência completa, o que é a proposta do Glouton desde sempre. Somos mais do que só comida" (foto: Geraldo Goulart/Encontro)
Ivo Faria, do Vecchio Sogno, também tem apostado em atender o público em casa. "Para aqueles que querem jantar um menu completo aos finais de semana, enviamos os pratos semi-prontos. Através do QR Code, o cliente tem acesso ao passo a posso de como finalizar as receitas", explica o chef. Para ele, é importante que os donos dos estabelecimentos estejam prontos para encarar o novo mundo que vem pela frente. "Não acredito que no retorno teremos casa lotada. Como empresários, devemos abrir outras frentes, ter mais opções."

Ao redor do planeta, em países que já começaram a relaxar o confinamento, bares, restaurantes e lanchonetes estão no último grupo de flexibilização, exatamente por sua principal natureza: reunir pessoas ao redor de uma mesa para comer. A Itália, um dos países mais castigados pela Covid-19, com cerca de 32 mil mortos, desde 18 de junho os cidadãos já podem tomar seus expressos nos terraços. Paris também reabriu seus estabelecimentos, que têm permissão para servir os clientes nas calçadas e transformar vagas de carros em espaços para mesas. Entre as regras francesas, os bares e restaurantes precisam fechar às 22 horas. Música está proibida. Por aqui não será diferente. Quando voltarmos a nos reunir nas calçadas – algo tão impregnado na alma do belo-horizontino - para tomar uma cerveja gelada ou sentarmos em um restaurante sem restrições, é sinal de que a vida mais próxima daquela que conhecíamos antes do corona está voltando ao normal.

Como estão funcionando os restaurantes em Nova Lima

Os restaurantes podem funcionar, no horário das 11h às 22h, sem entretenimento, com no máximo 1/3 da capacidade do espaço interno, manutenção do distanciamento entre os clientes e/ou empregados de 2 metros, mesas a uma distância mínima também de 2 metros e controle para evitar a aglomeração de pessoas. A permanência do cliente no local não deverá ultrapassar uma hora, sendo ainda proibido o consumo de bebidas alcoólicas, devendo priorizar os serviços de entrega.

No caso de estabelecimento que forneça self-service, deverá ainda disponibilizar, em local próximo à entrada ou ao início da fila do serviço, álcool 70% para os clientes, além de embalar os talheres em saquinhos de papel ou plástico, os quais deverão ser colocados sobre a mesa na hora do serviço, para que o próprio cliente os retire. Deverá ainda ser disponibilizado um funcionário do restaurante, devidamente uniformizado, com máscara facial e luvas, que colocará no prato os alimentos escolhidos pelo cliente.

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